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Aparentemente o Morro do Alemão está passando a fazer parte da cidade do Rio de Janeiro, depois de muitos anos. Já construíram um cinema por lá e agora uma “barracoteca”. Aos poucos vamos saindo do 3º mundo…

Livreiro do Alemão cria “barracoteca” na favela

Otávio Júnior, 27, idealizou e construiu biblioteca em comunidade no Rio

Ele também escreveu seu primeiro livro enquanto os traficantes trocavam tiros com policiais e militares

EMILIO SANT’ANNA
DE SÃO PAULO

Enquanto traficantes do Comando Vermelho em fuga trocavam tiros com a polícia e soldados do Exército durante a ocupação dos complexos da Penha e do Alemão, em novembro de 2010, Otávio Júnior, 27, escrevia.
Sem poder sair de casa, finalizava “O Livreiro do Alemão” -seu ingresso no mundo dos escritores-e preparava-se para instalar a primeira biblioteca do conjunto de 13 favelas na zona norte do Rio com quase 400 mil pessoas.
“Quando os confrontos eram muito acirrados, eu produzia muito. Escrevia enquanto as balas “comiam” para cima e pra baixo.”
Biblioteca? Na verdade, trata-se da “Barracoteca Hans Christian Andersen” -corrige Otávio. O nome é uma homenagem ao escritor dinamarquês autor de contos como “A Pequena Sereia” e “A Roupa Nova do Rei”.
O local -um antigo salão de forró- no morro do Caracol, Complexo da Penha, funciona desde maio e será inaugurado oficialmente em 22 de agosto, dia do Folclore.
Parte dos livros é doação do Ministério da Cultura, o resto foi amealhado por Otávio durante os dez anos em que andou por todo o Complexo da Penha e do Alemão, com uma mala na mão, oferecendo livros emprestados aos moradores.
O investimento foi de R$ 7.000. Como não tinha nem a décima parte desse valor, a solução foi apelar a conhecidos e desconhecidos. “Passei o chapéu, mas passei o chapéu virtual”, diz.
No blog Ler é 10 – Leia Favela (leredezleiafavela.blogspot.com), o jovem anunciou a barracoteca. Em três meses reuniu a quantia necessária.
Filho de pedreiro, chamou o pai para reformar o local.
Otávio narra em “O Livreiro do Alemão” (Panda Books) como seu amor à literatura se deu quase por acaso. Aos oito anos, saía de casa todo dia para ver as peladas no campo de terra da comunidade.
“Naquele dia, passei em frente a um lixão e havia uma caixa com brinquedos velhos e um livro”, conta. “À tarde faltou luz e como não podíamos assistir a televisão preto e branco, lembrei do livro.”

IMPACTO
O “impacto da literatura” mudou a vida do menino. A paixão cresceu a ponto de, no ensino médio, desenvolver um hábito: matar aula, tomar um ônibus, andar 20 km e ir para a biblioteca do Museu da República, no centro. “Chegava a ler dez livros por dia.”
Era então um tempo difícil. A família enfrentava o alcoolismo do pai de Otávio.
“Minha mãe ficou louca quando descobriu. Porém, sabia que eu matava aula mas estava bem acompanhado.”

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