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No meio de uma favela, um som chama atenção. Não é o som do Hip Hop, nem do Funk, os mais comuns em favelas se você perguntar a alguém que não mora em nenhuma delas. É o som do Jazz.

A comunidade do Morumbizinho, no Jardim Boa Vista, bem ali entre as vielas, na rua André Dias, foi presenteada com Cultura. Há presente melhor?

Tudo isso porque o coletivo Vie La En Close resolveu sair do óbvio e promover Cultura na favela. Cultura, com C maiúsculo. Cultura hardcore por assim dizer. Cultura daquelas que, nós que temos casa e moramos bem, chamaríamos de elitizada, mas que um grupo de pessoas resolveu chamar só de Cultura e promover ali mesmo. Em qualquer viela que se apresente.

O Vielada {{que se você achar legal, pode contrapor com a Virada}} Cultural teve, neste domingo, 28, sua quinta edição. Com o sugestivo e divertido nome de 5ª Vielada Cultural || Favela Jazz Festival, você só de olhar o nome sabe que não é algo que aconteça todos os dias.



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E teve música? Teve sim senhor.  

Maracatu na #vieladacultural Um vídeo publicado por Caipira Zé do Mér (@caipirazedomer) em

E teve Jazz? Teve sim senhor.

Jazz na Kombi #vieladacultural

Uma foto publicada por Caipira Zé do Mér (@caipirazedomer) em

E programação infantil? Teve, sim senhora!

{{Palhaço Vagabundo Mequetrefe brinca com as crianças, enquanto a vizinhança observa - Foto: Victor Amatucci - ImprenÇa}}
{{Palhaço Vagabundo Mequetrefe brinca com as crianças, enquanto a vizinhança observa – Foto: Victor Amatucci – ImprenÇa}}

 

E teve Não à Redução? Claro que teve!

E teve mais, teve teatro de rua, teve sarau, teve bolo, teve biblioteca e teve feijoada! Entre os artistas, Camila Costa Melo, 23 anos, atriz da Companhia dos Ventos que nasceu em Osasco, há 15 anos atrás. Camila define a arte do grupo como Teatro Político; na Vielada, a companhia apresentou uma cena da peça Máquina Parada, que fala da história de uma greve que houve em Osasco ainda antes das jornadas grevistas de São Bernardo do Campo. Fez isso para crianças moradoras da favela. É Cultura, senhoras e senhores, em todos os seus aspectos.

Rita Barros, uma das organizadoras do evento, conta a história do nome do coletivo Vie La En Close:

 

Tem uma chanson française da Edith Piaf que se chama la vie en rose. O notório poeta Paulo Leminski, que também era publicitário, uma vez se apropriou desse nome para um livro dele, que se chama ‘la vie en close’. Baffo [um dos organizadores], que é fã  (já foi mais) do falecido poeta, por sua vez se apropriou do apropriado para fazer o trocadilho poético que também lembra a palavra viela.

E assim, como quem acha perfeitamente corriqueiro levar Jazz para uma favela, ou levar Edith Piaf para a viela, o coletivo simplesmente revoluciona. Afinal, quem há, nesse mundo, de achar normal e comum e corriqueiro e simples, levar alta cultura para uma galera que briga para ter vagas em creches? E sem pensar que poderia ser impossível, o coletivo simplesmente vai lá e faz… E leva, para a vielinha um monte de poesia…

{{Foto: Victor Amatucci - ImprenÇa}}

{{Foto: Victor Amatucci – ImprenÇa}}

E este blogueiro, desconfiado que só ele, foi lá saber do dono do boteco, se ele achava legal mesmo essa história de Jazz ou se queria era ficar em paz, sem aquele monte de gente fazendo som, palhaçada, teatro, poesia… E filme, que teve filme também! Emídio dos Jesus, 73 anos, dono de um boteco há 20 anos, fala sobre a 5ª Vielada:

Gostei, uma coisa muito divertida pra vila (…). O movimento para o boteco tá sendo a mesma coisa… mas só a influência, a alegria, de um domingo alegre já uma boa coisa. Já tinha ouvido Jazz, dá para gente ouvir, de vez em quando não faz mal para ninguém. É melhor que ver o Faustão na TV. Eu creio que o pessoal da comunidade gosta… Quem que não gosta de música?

E tome tapa na cara da gente que acha{{va}} que favela gosta só de Funk e Hip Hop. Gostam sim, de funk e hip hop, mas mostra um Jazz para ver se não agrada. Agrada, e como! Rita Barros, que além de organizadora é poeta, complementa:

Então a gente tem essa ideia de levar a arte para a quebrada, mas sem ficar com uma coisa que tenha uma identidade exclusivamente periférica. A gente acredita na arte pela arte. Independente do lugar onde ela está. No começo a galera perguntava: ‘pô, cadê o vocalista?’. Hoje a comunidade já sabe, já conhece a banda, já espera pela banda. Já estão começando a se apropriar disso tudo. Mas esse é um processo longo, estamos fazendo isso aqui há dois anos. No começo tinha mais gente convidada pelo coletivo que a comunidade. Hoje está aí, a maior parte das pessoas é daqui mesmo. E esse é nosso objetivo.

E quem há de dizer que não é isso mesmo?

#vieladacultural Uma foto publicada por Caipira Zé do Mér (@caipirazedomer) em

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