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O projeto Escola Sem Partido tem sido uma das principais bandeiras dos movimentos de direita no Brasil. A ideia por trás é a de que os governos petistas só se elegeram e se mantiveram no poder por conta de uma educação “ideológica” {{uma contradição de termos}} que precisa acabar. E existe algum dado que corrobore estes argumentos?

Escola sem Partido: a burrice mora ao lado

Escola sem Partido e a história do nazismo

Há uma lei antiga na internet, chamada de “Lei de Godwin”. Ela diz basicamente o seguinte: “À medida que uma discussão online se alonga, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler ou os nazistas tende a 100%.”. O corolário {{complemento}} diz que o primeiro a citar Hitler “perde” a discussão.

Mas nós vamos ter que citá-lo aqui, para fins de contextualização histórica, apenas.



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Estamos em 1933 e o partido nazista torna-se o maior partido alemão. Hitler seria eleito chanceler no mesmo ano. Vamos pular algumas décadas e chegar ao final da 2ª Guerra Mundial, em abril de 1945.O planeta acabara de passar pela pior de suas guerras, conhecera uma bomba nova, assustadoramente perigosa e tinha mais uma questão a resolver.

O mundo agora estava em paz, mas sobre a ameaça de outra guerra. Dois países polarizavam a atenção no mundo: Estados Unidos da América {{do Norte}} e a União Soviética. Era o começo do que hoje chamamos de coxinhas x mortadelas {{não é para rir, é para chorar}}. Era a guerra fria, que duraria de 1947 até 1991.

Nos Estados Unidos um certo senador tomava assento no parlamento pelo Estado de Wisconsin, estamos no ano de 1946 e o nome do político é Joseph Raymond McCarthy, membro, nesta data, do Partido Democrata.  Ele passa três anos atuando sem qualquer destaque, até que um dia ele faz um discurso onde cita uma lista de supostos “membros do Partido Comunista e dos membros de uma rede de espionagem” empregados no Departamento de Estado Norte Americano.

A partir daí o senador ganha projeção e uma campanha de caça aos comunistas se inicia nos EUA. E tanto faz se os perseguidos não eram comunistas, o que importava era acusar e ponto final. Mas o mundo estava saindo de uma guerra mundial e extremamente polarizado, os ânimos estavam mesmo um pouco acirrados.

A Ditadura Militar e a censura nas escolas

Instaurada em 1º de abril de 1964, a Ditadura Militar {{ou civil-militar}} foi o regime instaurado para tirar o Presidente Eleito João Goulart do poder. Ainda estamos no período de guerra fria e a briga entre coxinhas x mortadelas seguia firme e forte. O medo do comunismo, principal desculpa para o Regime dos militares, ainda fazia vítimas e o Brasil vivia um período conturbado em sua história.

A repressão instaurou a censura nas artes, jornais e, claro nas escolas. A música “Acorda Amor” de Chico Buarque foi assinada com um pseudônimo “Julinho de Adelaide”. A censura já não lia mais as músicas de Chico. Bastava ver quem assinava a letra para dizer que ela não era adequada ao povo brasileiro.

A censura atuava sob critérios políticos para censurar algumas coisas e sob critérios morais para tratar a arte. Qualquer semelhança com casos recentes de grita e histeria com museus brasileiros em pleno 2017 não são mera coincidência. A mesma ladainha era repetida, imoralidade, nudez, etc.

O filme “Terra em Transe” de Glauber Rocha foi censurado em 1967, nas palavras do censor Manoel Francisco de Souza Leão: “Captamos em seu contexto frases, cenas e situações com propaganda subliminar. Mensagens negativas e contrárias aos interesses da segurança nacional. Aspectos de miséria e de luta entre classes, além de uma bacanal e de cenas carnavalescas e de amor são outros pontos inseridos no roteiro – com a finalidade única de enriquecê-lo e torná-lo suscetível ao grande público ávido de novidades na tela. Alguns diálogos chegam a serem agressivos, com insinuações contra a verdadeira e autêntica democracia”. Em 1973 Adoniran Barbosa, sambista paulistano, teve a música “Tiro ao Álvaro” censurada por conter muita linguagem coloquial. Uma encenação de Romeu e Julieta, realizada pelo Ballet Bolshoi, seria transmitida pela TV em 1976, mas acabou sendo vetada pelo ministro da Justiça da época, Armando Falcão. O motivo envolve o comunismo. Como Bolshoi é uma companhia Russa e o país fazia parte da União Soviética comunista, a peça poderia ser comunista também, então não poderia ser exibida no Brasil.

E nas escolas a coisa não era diferente. Vejamos o que diz o jornal “O Globo” que já inclusive pediu desculpas pelo apoio à ditadura:

Ditadura e a Escola Sem Partido

{{não acredite em mim}}

A lei “Escola sem Partido”, doutrinação e as coisas nem tão antigas assim

 

Escola sem Partido e a ditadura militar

{{não acredite em mim – Escola Sem Partido}}

 

“Contra o abuso da liberdade de ensinar”. E vai além… Veja esta página, feita por um Jornal:

Escola sem Partido e a censura

{{não acredite em mim – Gazeta do Povo}}

 

Se o leitor e a leitora chegaram até aqui no texto já conseguiram fazer a ligação entre as coisas antigas e essas coisas mais novas. Já entenderam o perigo e, principalmente, a semelhança entre o tal senador norte-americano e a ditadura militar. Mas se me permitem, vou além.

A influência de um professor sobre um aluno tem um limite. Especialmente se levarmos em conta o ambiente no qual estão inseridos. Achar que um Kit Gay será capaz de transformar alguém em gay ou que um kit hétero transformaria alguém em hétero? Quando foi que você, leitor ou leitora, sentou no sofá para decidir se seria ou não gay?

Primeiro, parece um pouco absurdo pensar em doutrinação político-partidária em crianças. Como se daria isso? Ao invés de mandar desenhar uma casinha a professora mandaria desenhar uma estrela vermelha? Ou então um martelo e uma foice?

Depois que se estamos falando de adolescentes, qualquer um que tenha estado com um nos últimos meses sabe que o poder de influência reside mais em um youtuber que em um professor, de uma maneira geral. Mas ainda que se admita a hipótese de que o professor possui um poder doutrinador, achar que a família do aluno não tenha tanta ou mais influência sobre ele, parece ainda outro absurdo. E ainda que se admita a hipótese {{real em muitos casos}} de uma família ausente, tanto a criança quanto o adolescente são seres dotados de cérebros.

É uma lei que desconsidera o mundo real para afirmar uma coisa absurda, a de que o professor deve considerar a moral das famílias para ensinar. Você pode levar a discussão acerca do que é moral bem mais a fundo, mas para este artigo basta pensar numa aula de biologia para uma família neopentecostal, que acredita fervorosamente {{e tem esse direito}} na teoria da criação do mundo por Deus. Como faria o professor para falar de Darwin ?

E se alguma das famílias for racista? Não se fala do apartheid na África do Sul ? Não se comenta sobre a lei áurea?

A única conclusão possível a respeito de uma lei como essa é a criação de um Macartismo tupiniquim. Tão atrasado quanto distante de qualquer busca pelo conhecimento. O conhecimento, é bom recordar, não é fruto do consenso.

Fosse assim ainda estaríamos com medo de navegar, pois no final do horizonte havia um abismo e a morte certa, lembra?

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