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Foram três dias na capital das liberdades da Europa onde mais de 100 Brasileiros espalhados pelo mundo se reuniram para defender a democracia e lutar pela reversão dos rumos da história.

O objetivo do encontro foi debater ações de luta. Mas muito mais do que construir uma agenda comum, o objetivo dos organizadores foi o encontro. Encontrar seus semelhantes e receber um abraço real dos incansáveis soldados da luta virtual para recarregar as baterias. Ver ao vivo os amigos virtuais da luta real pela defesa da democracia era o que todos precisavam.

A organização contabilizou 23 Coletivos de 16 países no total. Participaram do Encontro Dinamarca, Espanha, Suíça, Holanda, Portugal, Alemanha, França, Suécia, Bélgica, Irlanda, Noruega, Brasil, Reino Unido e Itália, além de México e Estados Unidos que participaram online dos Grupos de Trabalho. Um total de 106 pessoas (respeitando as rígidas regras de segurança holandesas) mais os convidados para os debates de sexta-feira e sábado. Uma exposição fotográfica permanente foi montada com imagens de 26 Coletivos. Entre uma e outra plenária, instalações artísticas foram incluídas pela Comissão Organizadora. “Também precisamos de um pouco de arte” explicou uma das organizadoras.

{{Foto: Karen Mohrstedt Badin}}



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Na abertura, o Deputado Federal pelo Rio de Janeiro Jean Wyllys fez um relato sobre o processo do impeachment e o dia de sua votação na Câmara, quando discursos conservadores marcaram as falas dos parlamentares. Jean explanou sobre a forte onda conservadora em curso nas Américas e defendeu uma ampla união da esquerda brasileira para se opor a essa perspectiva de retrocesso que se projeta. O Deputado recebeu uma carta de solidariedade repudiando o processo de suspensão de seu mandato que tramita no Conselho de Ética da Câmara O abaixo assinado será entregue à Mesa Diretora da Câmara dos Deputados por um emissário do grupo.

{{Foto: Karen Mohrstedt Badin}}

 

O Sociólogo Emir Sader leu uma mensagem da presidenta Dilma Rousseff justificando sua ausência e cumprimentando os encontristas.

{{Foto: Karen Mohrstedt Badin}}

 

Os trabalhos do Sábado de manhã ficaram focados na contextualização do Golpe. A ativista Kalynka Cruz-Stefani apresentou um histórico sobre as origens dos movimentos de luta dos brasileiros no exterior.

O Professor Francisco Domingues ressaltou a importância da mobilização para que se denunciem “de maneira sistemática os ataques à democracia e aos direitos humanos no Brasil”.

{{Foto: Karen Mohrstedt Badin}}

 

Na sequência, o advogado Geoffrey Robertson apresentou um resumo sobre o processo que tramita na ONU em que atua na defesa de Lula. Dr. Geoffrey disse que ficou atônito com a completa falta de provas contra Lula. Mesmo que sua vida tenha sido completamente devassada por mais de 200 procuradores nos últimos dois anos, não há evidência de nenhum ato de corrupção cometido por ele. A massiva perseguição midiática da qual Lula é vítima é uma prova do ataque aos direitos individuais, como no caso da divulgação de uma conversa sua com Dilma. Em seu entendimento, o comportamento adotado pelo Juiz responsável pela Lava Jato, Sérgio Moro é “maníaco” e essa conduta compromete o processo legal. Em sua opinião, o processo está sendo conduzido para que Lula fique desqualificado perante a opinião pública. O advogado destacou ainda o fato de que o Brasil não rompeu com a herança inquisitória trazida com a colonização portuguesa. No Brasil o mesmo juiz que recolhe as provas contra o acusado é o que julga, uma anomalia do processo judicial. O Brasil ainda não passou por uma reforma do judiciário enquanto que Portugal, origem do modelo brasileiro, sim.

{{Foto: Karen Mohrstedt Badin}}

 

O Jornalista Breno Altman iniciou com uma mensagem de saudação enviada por Gilberto Carvalho (coordenador do movimento “Um Brasil justo para Todos, um Brasil Justo para Lula”) destinada aos participantes. A mensagem além de justificar sua ausência ressaltou a importância do Encontro. Falando sobre “Geopolítica e o Golpe”, Altman ressaltou a “necessidade de situar o novo ciclo que vive o capitalismo mundial para entender o processo do impeachment” e refletiu sobre a lógica da nova agenda protecionista e de recrudescimento da economia imposta pelas grandes economias, principalmente na América do Norte a partir da crise de 2008. Breno explicou que o modelo de partilha adotado pela Petrobrás que acabava por diminuir o protagonismo das grandes corporações petrolíferas internacionais, fortalecendo a união dos BRICS, foi um dos principais causadores da derrubada do governo Dilma. Breno fez um apelo para que essa ofensiva de ataque a classe trabalhadora seja denunciada pelo mundo.

{{Foto: Karen Mohrstedt Badin}}

 

O advogado Dr. Cristiano Zanin apresentou um apanhado das ações de defesa de Lula, além de pedir apoio para a divulgação do site “A Verdade de Lula” como um instrumento de defesa da cidadania. O site tra dos processos contra o ex presidente Lula com ampla transparência das informações relativas ao caso. Dr. Zanin discorreu sobre o princípio de Lawfare que é quando a lei é utilizada para fins políticos. É sobre essa tese que se fundamenta a defesa de Lula.

{{Foto: Karen Mohrstedt Badin}}

 

Após o almoço Grupos de Trabalho foram formados para elaborar uma agenda comum de ações em todos os países. No início da noite, Marcia Tiburi participou online e fez uma palestra elencando os pontos da campanha cruel de desconstrução de imagem da qual Dilma Rousseff foi vítima durante o processo de impeachment. Marcia refletiu sobre o discurso de ódio e misoginia adotado por parte da mídia durante mais de uma hora de bate papo com perguntas e respostas. Para finalizar o dia, música ao vivo.

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A agenda de domingo foi dedicada a finalização da Carta de Amsterdã e votação das propostas, que serão apresentadas futuramente.

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Conversamos com Julia Sá, 29, Jornalista e Socióloga, 2 anos e meio em Dublin, membro do Coletivo “Dublin pela Esquerda” (Irlanda) para saber suas impressões sobre o Encontro:

ImprenÇa: O que te fez participar do encontro?

Julia: Eu procuro me manter conectada com movimentos que se colocam como resistência ao retrocesso na perspectiva de construção de uma sociabilidade centrada no desenvolvimento humano e não do capital. Minha intenção primeira foi conhecer pessoas orientadas pelo mesmo ideal e fortalecer os laços entre os que lutam, para assim potencializar nossa força. O encontro promovido pelo grupo Brasileiros no Mundo Contra o Golpe se colocou, antes de tudo, como uma possibilidade de troca entre pessoas atentas à realidade do país e que não aceitam o papel de espectador da vida.

ImprenÇa: Você milita em outros grupos?

Julia: Sim, um grupo de Feministas Brasileiras que moram na Irlanda e um grupo feminista de Solidariedade à Causa Curda.

ImprenÇa: Como é a luta em Dublin?

Julia: A luta em Dublin até então se restringiu a manifestações pontuais em momentos cruciais como por exemplo, durante o processo de votação do impeachment. Fizemos intervenção em festa da embaixada e uma projeção na parede do Dublin Castle que repetia alternadamente “STOP THE COUP IN BRAZIL” e “TEMER OUT”. Há ainda muito a ser feito. Pretendemos estreitar os laços com movimentos sociais locais e também com os brasileiros que vivem por aqui – o que é um desafio, mas também uma necessidade. Embora Dublin receba muitos brasileiros, a maioria vem para fazer intercâmbio com foco em aproveitar ao máximo essa experiência e expandir suas liberdades individuais em uma espécie de auto descobrimento. Por outro lado, a vida em Dublin coloca elementos para a crítica e desconstrução de velhos preconceitos. Grande parte dos brasileiros, por exemplo, reproduz um discurso crítico ao bolsa família, que não chega a mais de R$ 80,00 por mês para toda uma família. Em Dublin, o valor de uma pensão semanal é de € 200,00 (R$ 750,00) para o indivíduo desempregado. A Irlanda é um país que segundo esses brasileiros funciona, mas que é erguido sob uma base de solidariedade social que eles criticam em seu próprio país. A imprensa na Irlanda não atua como mera relações públicas de empresas e partidos. Esses fatos mexem com a cabeça das pessoas e abrem a possibilidade de se pensar alternativas que apontem para uma saída à esquerda.

ImprenÇa: Você acha que o Encontro foi positivo?

Julia: Eu não participei da organização do encontro, fiquei sabendo pouco antes e fui com pouca expectativa, uma vez que não tinha clara a posição política do grupo. De fato não há uma bandeira partidária, por mais que existam vontades individuais. Houve uma tentativa de união em torno dos objetivos comuns, o que permitiu que as diferenças fossem tratadas com um diálogo construtivo. Foi acima de tudo uma oportunidade para conhecer pessoas e coletivos que estão lutando em países diversos e trocar experiências e perspectivas. O tempo foi curto para tanto, mas já estou ansiosa para um próximo Encontro no qual o debate deve ser aprofundado.

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