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Não é de hoje que a discussão a respeito da cracolândia passa pela Polícia Militar e por ações higienistas. As ações são sempre semelhantes. A Polícia afirma fazer buscas contra traficantes que atuam na área, atiram bombas e balas de borracha em cima de usuários que acuados ou fogem ou botam fogo em alguma caçamba. A PM prende dezenas de pessoas, afirmando ter desmantelado o tráfico na região e os adictos vagam pelas ruas adjacentes à cracolândia. Dias depois voltam ao mesmo local. Para depois de meses a polícia fazer a mesma ação.

Não é preciso ser defensor de direitos humanos ou eleitor petralha para constatar o óbvio. Basta uma consulta aos jornais de sempre, com as manchetes de sempre.

Em 2009…

{{Exilados da cracolândia vagam pelo centro, em 2009 – não acredite em mim – folha}}



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Em 2010…

{{Operação policial na cracolândia termina com “fuga” em massa dos detidos, em 2010 – não acredite em mim – UOL}}

 

Em 2012…

{{Operação “dor e sofrimento”, 2012 – não acredite em mim – Estadão}}

 

Em 2012 começa uma nova tática de abordagem. O programa De Braços Abertos foi o primeiro a realmente mudar o tipo de olhar para a população que vive em situação de alta vulnerabilidade. Não é exatamente um novo olhar, a redução de danos veio antes, muito antes de 2009. Mas foi a primeira vez que alguém tentou, de verdade, aplicar ela a realidade paulistana. E estava funcionando.

Redução de Danos

A redução de danos é um método de combate ao uso abusivo de drogas. Ele parte do pressuposto que o problema das drogas se dá quando o usuário perde o controle sobre sua própria vida. Nesse sentido, a ideia não é que o usuário deixe, necessariamente de usar as substâncias {{não apenas drogas ilícitas, mas cigarro, álcool, remédios, etc.}}, mas que retome o controle sobre sua vida até que possa decidir se deseja ou não interromper o uso por completo.

É uma abordagem diferente das tradicionais que pregam a completa abstinência. Leva mais tempo, mas no caso da cracolândia, trazia muito mais resultados.

O programa De Braços Abertos seguia essa lógica. Oferecia trabalho aos adictos que recebiam em troca acolhida de profissionais de saúde {{assistência social, psicólogos, atendimento médico e, para quem quisesse. encaminhamento a clínicas especializadas}} e, claro, um salário por dia trabalhado. O programa conseguiu reduzir o consumo de crack na região em quase 70% {{o que não é o mesmo que reduzir o número de usuários em 70%}}.

Este é um caminho que é recomendado por nada menos que a Organização Mundial da Saúde.

Especulação Imobiliária

Outro fator que influi no caso do centro de São Paulo é a especulação imobiliária. Como se sabe a seguradora Porto Seguro é dona de boa parte dos prédios e terrenos da região, que estavam abandonados e, por isso, foram ocupados por pessoas com uso abusivo do crack.

As recentes ações não pretendem acabar com o problema do crack. Não pretendem dar tratamento às pessoas {{ainda que sejam internadas compulsoriamente}}. O que se pretende é a velha limpeza étnica da região. Saem os pobres, entram os arranha-céus.

A polícia é utilizada de maneira a servir os mesmos que delatam políticos em ações de delação premiada da Lava Jato. São as construtoras que lucram, além da seguradora e, claro, dos interesses pouco claros das gestões tucanas.

Quem acha que para resolver o problema das drogas em qualquer lugar do mundo, a solução é a polícia erra por ignorância ou má-fé. Basta pensar na história da humanidade e tentar encontrar alguma civilização sem o uso de algum tipo de drogas. Pode voltar ao Egito antigo, à Grécia Clássica, passando pelos romanos, pelos impérios bárbaros e chegando na Europa moderna, sem esquecer dos povos indígenas.

Achar que uma canetada e meia dúzia de bombas encerra uma questão sanitária tão grave e complexa, é ingenuidade.

Mas não nos enganemos, ingenuidade não é o caso de Doria e Alckmin. A questão ali é outra. Mas isso são outros quinhentos.

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