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Quem utiliza o metrô como transporte prioritário seguramente já se deparou com anúncios que possuem a caricaturizada imagem de seguranças alinhados no estilo bad cop good cop e, logo acima, a contraditória acolhedora frase “Você não está sozinha”, em uma tentativa de encorajar mulheres a denunciar casos de assédio e violência nos vagões e estações de São Paulo. Mas, o metrô está mesmo preparado para atender às vítimas encorajadas por suas próprias campanhas a denunciar algum crime?

Em 31 de maio deste ano, V.R. (31 anos) foi golpeada no rosto por um homem, na saída de um vagão na Sé (Linha 3 – Vermelha), após afastá-lo com o corpo por se incomodar com o braço dele em seu peito.  Ao saírem do trem, o homem dificultou o caminho da vítima e, depois, deu um soco em seu rosto ainda dentro da estação. A vítima fraturou um osso do nariz e um do assoalho da órbita ocular. Teve vazamento de gordura ao redor do olho e segue com risco de maiores complicações. {{Não acredite nela – Sem ações efetivas, mais uma mulher é agredida no metrô de São Paulo}}.

Acompanhada por uma funcionária, V.R. foi levada até a Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom), na estação Palmeiras-Barra Funda, responsável por registrar e investigar os casos ocorridos nas linhas do Metrô e da CPTM. No entanto, no local, uma inversão de quem é a vítima. Ela conta que foi deixada sozinha, até a chegada de seu irmão e namorado. Enquanto isso, o agressor repetia em sua frente que “deu em sua cara mesmo” e que achava que não havia cometido erro nenhum.



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V.R. ainda, notou que o tratamento para o agressor era melhor do que para ela, a vítima. “Antes de eu e meu cunhado chegarmos na Delegacia deixaram ela sem amparo, enquanto o agressor estava acompanhado da filha, advogado e um metroviário segurança. Todos, segurança e agressor, batendo papo de risadinha”, conta o irmão da vítima.

Após a delegacia, a jovem passou por exame de corpo de delito. A caminho do IML, foi conduzida no mesmo carro onde estava o agressor, mesmo pedindo para ir em outro veículo. Acompanharam o trajeto outros três funcionários da Companhia do Metropolitano de São Paulo, sendo duas funcionárias e o mesmo segurança que estava na delegacia. Pouco mais de três meses depois do ocorrido, poucos avanços. A advogada de defesa de V.R. deverá pedir transferência do caso para a Delegacia da Mulher. E o metrô? Nenhuma retratação à vítima.

{{ V. R. 31 anos, agredida no metrô de São Paulo}}

Campanha divulgada para incentivar denúncias é desconhecida por funcionários do metrô

Casos como o de V.R. não são isolados e refletem o despreparo e a falta de comunicação entre as campanhas que geram mídia positiva para o transporte público paulistano e a realidade enfrentada pelas vítimas. O fato é que o transporte público de São Paulo não está preparado para acolher as vítimas encorajadas por suas próprias campanhas para fazer denúncias. Recentemente, por exemplo, o Tribunal de Justiça, Governo do Estado e a Prefeitura de São Paulo lançaram a campanha “Juntos podemos parar o abuso sexual nos transportes”, para combater o assédio sexual em transportes públicos. O lançamento aconteceu na terça-feira (29), mesmo dia em que Diego Ferreira de Novais ejaculou em uma moça dentro de um ônibus que passava pela Avenida Paulista, logo no início da tarde.

“Eu não estava nem sabendo dessa campanha” – afirmou a diretora do Sindicato dos metroviários

Durante a campanha, anunciou-se a distribuição de cartazes em trens e ônibus. Mensagens nas redes sociais de Metrô, CPTM, EMTU e SPTrans também irão estimular que tanto vítimas quanto testemunhas denunciem casos. {{Não acredite nela – Campanha em São Paulo quer incentivar mulheres a fazerem denúncia de assédio}} A iniciativa é fundamental para encorajar denúncias de vítimas de abuso sexual e/ou pessoas que presenciam agressões, claro. E é fato que sem denúncias que para gerar estatísticas, fica ainda mais difícil mudar as leis que permitem a impunidade de casos. No entanto, sem chegar ao quadro de funcionários do transporte público não terão efetividade nenhuma.

A campanha na última semana, “Juntos podemos parar o abuso sexual nos transportes” era desconhecida até mesmo pelo Sindicato dos Metroviários, ainda que, na coletiva de divulgação de lançamento da campanha, a afirmação era de que os funcionários das empresas de transporte passariam por seminários de sensibilização para prepará-los para o atendimento às vítimas. O fato não foi confirmado pela Diretora do Sindicato dos Metroviários, Carla de Carvalho Yonamine. “Eu não estava nem sabendo dessa campanha”, comenta a diretora.

Carla lembra, ainda, que, para iniciar a campanha “Você não está sozinha, denuncie”,  há cerca de dois anos, o metrô também não havia procurado o sindicato para dialogar. Na época, o Sindicato fez uma pressão dizendo que queria dialogar com o metrô, e então foi criada uma comissão de mulheres para discutir ações afirmativas. No entanto, há muito tempo não acontece uma reunião. “Na verdade, existe uma relação bastante distante entre as campanhas que a empresa tenta implementar e o que chega para os funcionários”, reforça.

Ainda outro problema é o quadro de funcionários. “No caso do metrô, não tem seguranças em todas as estações e há poucas seguranças femininas, então é complicado lidar com o assédio que tem crescido, pelo menos na notificação. Sempre existiu, mas as pessoas estão se sentindo mais encorajadas para denunciar. Mas, quando chegam, não tem um preparo adequado.”

Carla comenta que o Metrô São Paulo passou a dar mais treinamento para seguranças e supervisores de estação especialmente por conta da pressão midiática e denúncias que aumentaram. No entanto, tudo ainda é muito incipiente e o treinamento dos funcionários está bastante aquém. “Não são os supervisores quem mais tem contato com a população que circula pelos metrôs, então as reciclagens deveriam acontecer sempre e para todos. Além disso, até há um treinamento geral, mas só na entrada, depois não tem reciclagem ou treinamentos contínuos. Ou seja, tem a campanha, mas de concreto, não se materializa muito”, finaliza.

*ImprenÇa entrou com contato com a assessoria de imprensa da Companhia do Metropolitano de São Paulo e questionou quantos funcionários haviam passado pelo seminário divulgado, quando ocorreu e se havia fotos ou registros do evento. Questionou, ainda, se haveria retratação à vítima mencionada na reportagem. O contato foi enviado no dia 06 de setembro. Até o momento, não recebemos nenhum tipo de resposta.

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