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Antes do início do artigo vale, dois avisos: 1. Este não é um artigo panfletário escrito para convencer você de alguma coisa. 2. Este texto, sem a intenção de ser panfletário ou de convencimento, é escrito por um blog alinhado à esquerda e ao PT.  Estes avisos servem para que você, leitora e leitor munido de cérebro e que deseja ler uma análise mais séria e menos apaixonada não se sinta enganada de nenhuma forma. E ajuda a você, apaixonado a não ter que ler nada, basta ir e xingar nos comentários. 

{{Foto: Fernanda Estima / Fundação Perseu Abramo}}

Dois fatos igualmente importantes na história nacional resumem de maneira exemplar a experiência social do brasileiro. Mais do que qualquer leitura de Raízes do Brasil, Macunaíma ou mesmo o recente Brasil: Uma biografia; dois julgamentos resumem os sentimentos do povo e a sensação daquilo que é justiça, historicamente, para o brasileiro.

A primeira e mais óbvia é a condenação e prisão de Lula. Um ex-Presidente cuja aprovação final ficou acima dos 80% e que lidera {{mesmo depois de preso}} as pesquisas eleitorais para a presidência. Aqui não interessa muito a opinião pessoal de cada um sobre esta figura. Tanto faz se você pensa que Lula é inocente ou é culpado. O que interessa é: você considera, no seu íntimo, que o processo correu de forma normal ? Calma, ninguém vai registrar sua opinião. Você pode pensar nisso silenciosamente, sem admitir a ninguém.



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É difícil achar que Lula foi condenado por um triplex no guarujá, que nunca usou. Mais difícil ainda quando o juiz que o condenou afirmou:

“Este Juízo jamais afirmou, na sentença ou em lugar algum, que os valores obtidos pela construtora OAS nos contratos com a Petrobrás foram utilizados para pagamento da vantagem indevida para o ex-presidente” {{não acredite em mim – Estadão}}

Por que razão Lula foi condenado ? Responda rápido. Não foram os pedalinhos ou o sítio {{este processo ainda corre, em Brasília}}. Ele foi condenado, é bom lembrar, por “ato de ofício indeterminado” {{não acredite em mim – Folha}}. Atenção este blog não está afirmando que Lula é inocente ou mesmo que seja culpado. Não é possível, a partir deste julgamento, qualquer conclusão sobre aquilo que todo mundo deseja saber.

Mais do que isso. O que impressiona é a quantidade de sentimentos ligados a este assunto. Ame ou odeie, não há indiferença quando o assunto é Lula. Há aqueles que o idolatram, há aqueles que o demonizam e há ainda os que fingem isenção {{tipo a Eliane Brum, em artigo recente}} mas não escondem um pontinho de preconceito.

Carandiru

 

Foto de 92 mostra multidão de parentes e curiosos na entrada do Carandiru à espera de notícias {{Foto: Heitor Hui/Estadão Conteúdo/Arquivo}}

 

A outra notícia, não por acaso, saída da justiça e na mesma semana é justamente a anulação do já pífio julgamento do Massacre do Carandiru {{este blog escreveu, tempos atrás “O Massacre do Carandiru segue e seguirá impune}}. Um caso onde um governador {{Fleury}} autorizou um massacre de 111 pessoas. À época ele afirmou que precisaria verificar se a ação da PM foi adequada.

Fleury nunca foi indiciado. O mandante por parte da PM, Ubiratan, jurava que a ordem partiu desse governador. Mas Ubiratan foi morto, assassinado, em situações nunca bem explicadas. A população nunca se revoltou de verdade com o tema. Um ou outro grupo de esquerda, os mesmos de sempre, mas nenhuma comoção, real, foi gerida a partir daí.

Definição bem brasileira

 

O Homem “cordial” de Sérgio Buarque de Holanda, cuja definição é vez em vez deturpada pelos ouvidos menos atentos, afirma mais ou menos que o que aparenta ser polidez e hospitalidade esconde, na verdade uma rigidez e uma atitude que este blog definirá mal e porcamente como “de coronel”, afim de facilitar o entendimento.

E quem há de negar que boa parte da sociedade brasileira entende a frase “bandido bom é bandido morto” como verdadeira ? E ao considerar verdadeira esquece que a Constituição {{aquele livro que deveria definir o que é bandido}} não traz nela nenhum tipo de morte como pena a crime algum. E ao esquecer disso esquece que na frase “bandido bom é bandido morto” quem mata também é bandido.

É parte do caráter nacional essa dicotomia e o falso moralismo. A falsa ética que afirma que “na época da ditadura não havia corrupção” e ao mesmo tempo que “torturou foi pouco”.  É o mesmo país que assiste a um julgamento parcial mas que não se importa “porque Lula tem que ser preso mesmo”.

E que vê um massacre que ocorreu em 1992 não ter nenhum culpado ou mandante sem qualquer tipo de alarde. Getúlio, talvez simbolize bem esta mesma nação. Um sujeito que sobe ao poder pela primeira vez por meio de um golpe de Estado e que finda sua vida justamente para evitar… um golpe de Estado.

O mesmo espírito que firma um discurso na esquerda tão forte como “a periferia é assassinada todo dia” mas que em uma década de poder não é capaz de mover uma vírgula no sistema carcerário. Que firma um discurso moralista na direita e vê FHC comprando a reeleição sem qualquer problema.

O surpreendente disso tudo é a fé das pessoas no sistema judiciário. Tanto a direita quanto a esquerda desejam que “O STF faça jus à Constituição”. Obviamente fazer jus para cada lado são coisas opostas. Mas o que esperar de um judiciário que não foi capaz de condenar um golpe armado, com tanques nas ruas, em 1964 ?

É preciso amadurecer politicamente, para o entendimento concreto daquilo que é democracia. O que nos é imposto dramaticamente, no entanto, é a completa ausência de espaços de discussão nos quais os argumentos são relevantes. Ou aprendemos a dialogar ou seguiremos uma República de Bananas.

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