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Brasil: Estamos de Volta à Guerra Fria?

A eleição de Bolsonaro e o discurso que o elegeu seguem lógica bastante semelhante a um período não tão agradável na história do mundo. Em que ano estamos?

Resumo: O que foi a Guerra Fria?

Guerra Fria é o nome dado ao período após a 2ª Guerra Mundial, quando as duas potências mundiais (EUA e União Soviética) fizeram intensas disputas estratégicas e econômicas, além de ameaças.

 

Guerra Fria: Quanto tempo durou?

Guerra Fria é o nome dado ao período de 44 anos (1947-1991) após a 2ª Guerra Mundial. O período se encerra com a queda do Muro de Berlim, em 1991.



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Por que se chama "Guerra Fria"?

O período tem o nome de Guerra por ter sido marcado por intenso conflito econômico, ideológico, diplomático e militar, mas Fria por não ter ocorrido nenhuma guerra direta entre as duas superpotências, apenas ameaças constantes.

Um pouco sobre a 2ª Guerra Mundial

segunda guerra mundial foi um conflito militar que envolveu quase todo planeta e durou de 1939 a 1945, Todas as grandes potências do mundo que se organizavam em blocos: os Aliados e o Eixo. 

Até hoje foi a maior guerra da história, com mais de 100 milhões de militares envolvidos. A 2ª Guerra foi marcada por um número enorme de ataques contra civis, sem a preocupação da separação entre civis e militares. 

A 2ª Guerra foi marcada fortemente pelo Holocausto – genocídio (assassinato em massa) de cerca de 6 milhões de judeus – liderado pelo Partido Nazista e Adolf Hitler. Dos 9 milhões de judeus que moravam na Europa antes da guerra, cerca de 4 milhões foram assassinados.

 

O macartismo nos EUA

 Senador Joseph McCarthy

Em meio à Guerra Fria os Estados Unidos viviam um período de muito medo. A ameaça de uma nova guerra, ameaça de bombas nucleares, espiões por todos os lados, uma extrema polarização no mundo.

Em 1951 o senador republicano Joseph McCarthy inicia uma série de discursos e leis que incitavam a busca e perseguição de comunistas nos EUA. 

A foto ao lado, por exemplo, mostra um jornal que elogiava as práticas de McCarthy. Mas o que começou como uma teórica busca à proteção ao comunismo se desenvolveu à prática de perseguição de quaisquer ações e/ou pessoas que não estavam de acordo com os interesses do governo norte-americano.

Para se ter uma ideia, na lista de perseguição feita pelo governo americano dos anos 50 estavam:

  • Charles Chaplin
  • Luis Buñuel
  • Arthur Miller
  • Orson Welles

 

A lista chega a mais de uma centena de nomes que de comunistas não tinham nada. Chaplin, por exemplo, era dono de um estúdio de cinema em Hollywood, empresário e, portanto, sem nenhuma ligação a qualquer partido comunista.

A perseguição iniciada pelo senador McCarthy ficou conhecida como ‘macartismo’ e, em nome da defesa teórica da democracia, na prática eram ações extremamente autoritárias e contrárias à noção de que na democracia diversas vozes são permitidas.

No macartismo só quem concordava com o governo não era considerado comunista.

O macartismo e a guerra fria no Brasil de 2018?

E o que a Guerra Fria e o macartismo tem a ver com o Brasil de 2018 ? Em teoria nada, na prática…

Por aqui o medo do comunismo – ou da Venezuela – já foi utilizado por diversas vezes, em vários períodos históricos e sempre com o mesmo propósito: acirrar a população contra um governo/partido ou grupos de pessoas.

Getúlio promoveu uma perseguição aos comunistas nos anos 1930. Havia se dado a revolução socialista na Rússia, levando à União Soviética e o alerta vermelho foi usado por Getúlio para perseguir opositores, imprensa e grupos de ativistas organizados, fossem eles estudantes ou trabalhadores.

Mais tarde, quando eleito em 1950, Carlos Lacerda se torna seu principal opositor. Acusado de um mar de corrupção o governo Getúlio passa a ser ameaçado por generais e teve como fim o suicídio de Getúlio Vargas, com uma carta-testamento denunciando a pressão dos militares e, para muitos, evitando que a ditadura militar se instaurasse.

Um pouco mais tarde, em 64, Jango assume e o clima do país volta a ser de medo do comunismo. Centenas de milhares de pessoas voltam às ruas pedindo proteção à família, Deus e etc.

Jango nunca foi comunista, mas como Getúlio, realizou um aumento considerável do salário mínimo e prometeu uma série de reformas que beneficiariam as pessoas mais pobres. O medo do comunismo empurrou os militares a um golpe que durou por mais de 2 décadas, com o Congresso sendo fechado e o próprio Lacerda sendo cassado.

Mas existe ou já existiu risco de comunismo no Brasil de hoje?

Ainda que este blog tenha se colocado em editorial contra o voto em Bolsonaro, o que se pretende aqui não é um panfleto anti-Jair ou coisa que o valha. O que desejamos com este artigo é denunciar uma manobra, da qual Bolsonaro se aproveita, de se espalhar um medo de um fantasma inexistente afim de se justificar qualquer ação.

Já existe, por conta desse medo do comunismo uma onda de boicote aos artistas que utilizam da Lei Rouanet, como se a lei fosse usada para financiar propagandas. Para quem não sabe, quem escolhe os artistas e projetos a serem financiados são as empresas, que dão dinheiro que seria usado em impostos para financiar os projetos. Você pode entender mais sobre a lei Rouanet neste link.

Ameaça comunista em 2018?
Existe ameaça comunista em 2018?

A última moda do alerta vermelho que corre nos dias atuais é a lei Escola Sem Partido, que pretende denunciar professores que fazem doutrinação nas salas de aula. A lei é, em realidade, uma bizarrice que parte de dois princípios:

  • (alguns) Professores são comunistas e pretendem começar a revolução através das escolas
  • Os estudantes são incapazes de se defenderem dessa doutrinação

O que por si já é uma besteira frente aos fatos concretos. Quais? A votação que teve Jair Bolsonaro entre os jovens, por exemplo: na pesquisa de Boca de Urna do 1º turno de 2018, 45% dos jovens entre 16 e 24 anos afirmaram que votariam Bolsonaro, segundo pesquisa Datafolha {{não acredite em mim – Datafolha}}.

Já no 2º turno, segundo o mesmo instituto de pesquisa, Bolsonaro ganharia entre os homens jovens, de 16 a 24 anos com 60% dos votos. Onde ficou a doutrinação, tão presente no país que precisa de lei e fiscalização dos pais e alunos?

Já existe no Congresso Nacional diversos projetos de lei citando a influência comunista no país, quando o principal partido de oposição à Jair Bolsonaro esteve no poder por 13 anos e os bancos seguiram tendo lucros enormes.

A fantasia do medo nunca foi usada para bons projetos. O país nunca esteve perto de comunismo nenhum, feliz ou infelizmente (a depender do gosto do freguês).

Mas o totalitarismo sempre esteve à espreita. Seja com Getúlio, seja com os militares. A crescente opinião de que o país se tornará comunista caso os professores não sejam vigiados com câmeras e ameaças públicas de linchamento é bastante preocupante.

Até porque, doutrinação no caso desta lei, é só de um lado.

Escola Sem Partido

O risco que se corre é que em nome de uma Escola Sem Partido, nos tornemos um país Sem PartidoS, num plural que lembra muito… a Venezuela.

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