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“A Mulher das Palavras” – Karen Debértolis. Foto: Fernanda Magalhães

Eeee, vivaaaa, segunda-feira (2), primeiro dia útil de 2017, mais um dia para nós que vamos trabalhar até os 65 anos no mínimo, graças à Reforma Golpista da Previdência. Fiz minha lista de resoluções feministas para encarar 2017 porque esse 2016, né? Vamos nem comentar…

Para isso, pedi ajuda a outras mulheres, que foram me dando dicas e ideias maravilhosas de como fortalecer nossa rede de solidariedade e empoderamento. O resultado da minha lista tá aí embaixo, mas cada uma de nós pode criar a sua própria lista também, ou compartilhar suas metas e assim inspirarmos umas às outras.

*Em tempo: Não incluí chutar o saco do Bolsonaro porque isso não é meta de ano novo, é objetivo de vida.



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1 – Ajudar uma mina a conseguir emprego.

A taxa de desemprego na América Latina chegou ao ponto máximo da última década,  (8,1%), segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). E as mulheres são as mais afetadas: a taxa de desocupação feminina fechará 2016 em 9,8%. Mas não é apenas desemprego, nossos salários também são mais baixos, assim como os cargos ocupados. Ao mesmo tempo, sabemos que o empoderamento da mulher passa pela independência financeira, portanto, em 2017, tá valendo indicar outras mulheres para vagas abertas em seu emprego, marcá-las em posts de vagas e compartilhar os cursos ao lembrar de alguém está precisando de incentivo. Ainda outra meta pode ser priorizar compras e serviços feitos por minas, assim a gente ajuda a gerar renda para outras mulheres.

2 – Dar a mão a uma mulher com medo.

Faz algum tempo, conheci um movimento chamado “Vamos juntas?”, que propunha gestos de solidariedade de uma mulher ao ver a outra em situação de constrangimento ou perigo. Abaixo tem um exemplo (recomendo curtir a página, há relatos incríveis!). Acho que essa pode ser a meta: Por mais mulheres amparadas nos pontos de ônibus, ruas escuras, corredores vazios. Vamos juntas.

Relato publicado na página do “Movimento Vamos Juntas?”

 

3 – Valorizar mulheres na formação, no jornalismo e nas artes.

Na literatura, no jornalismo, no cinema, no teatro, nas artes plásticas, na publicidade… Assistir filmes dirigidos por mulheres, ir a exposições de artistas, correr atrás da programação musical de cantoras e compartilhar artes e conteúdos produzidos por mulheres é muito enriquecedor, especialmente as latino-americanas, africanas e originárias (indígenas em geral). Eu por exemplo indico conhecer o trabalho sensacional de Karen Debértolis, A MULHER DAS PALAVRAS e tô aceitando dicas sem fim, pode me mandar! Do mesmo modo, considerar filmes e artistas que não objetificam ou subestimam o sexo feminino é um passo super importante. Quando estava escrevendo este artigo, uma amiga me recomendou ler sobre o teste de Bechdel que valida se um filme tem pelo menos duas mulheres (regra 1) que conversam entre si (regra 2) sobre algo que não seja um homem (regra 3). Os filmes que “passam” nesse teste podem ser uma ótima referência para assistirmos em 2017. Aqui tem um link com 150 filmes “aprovados” nesse teste. Ainda: também dá para pesquisar os ícones da luta pelos direitos das mulheres e conhecer um pouco mais de sua história e contexto social em que viveram, assim como buscar conteúdos de formação, reflexão e empoderamento feminino. Uma outra amiga, por exemplo, me indicou “Mulheres, raça e classe”, de Ângela Davis. Já entrou na minha lista de livros obrigatórios para 2017.

4 – Ajudar uma mãe para que se sinta acolhida.

Dá para oferecer ajuda a uma mãe que seja sua irmã, amiga, vizinha ou colega de trabalho, perguntando se ela quer que você vá um dia em sua casa para lavar a louça, levar uma comida congelada, segurar o bebê para ela fazer uma caminhada ou simplesmente conversar e tomar um café. Isso vale para as mães solteiras e mães que tenham um companheiro; não é porque ela é mãe que deve passar por um isolamento social criado pela romantização ao redor da dedicação exclusiva à maternidade. Outras dicas legais: Ceder um lugar na fila para uma mãe com uma criança inquieta ou chorando (ainda que não seja um bebê), oferecer ajuda no supermercado para passar a compra {{parece simples, mas relatos chegaram a este blog que fazer isto com um bebê no colo é uma missão quase impossível}} e por aí vai. Ainda: não excluir as mamães dos rolês, e isso inclui o bar do fim de semana. Bora desconstruir a maternidade de propaganda da margarina.

5 – Escolher uma atleta para torcer.

Uma das metas sugeridas por uma amiga para 2017 foi acompanhar mais de perto as mulheres no esporte, seja no futebol, vôlei, natação, judô, ou qualquer outra modalidade. Temos atletas maravilhosas que deixamos de lado. Como ninguém consegue acompanhar tudo, o interessante é pegar um esporte que você goste ou tem interesse – mesmo que não entenda muito. No Brasil, não faltam mulheres para acompanharmos, como Etiene Medeiros, que é bi mundial nado costas (25 aninhos e um futuraço pela frente), a Emily Lima (primeira mulher a ser técnica da seleção brasileira de futebol feminino) e a Rebeca Andrade (se você não remexeu seu corpinho durante a apresentação da Rebeca nas Olimpíadas, tem algo de errado nas batidas do seu coração), e por aí vai. Mas acho que para começarmos o ano inspiradas, vale lembrar quando, no Rio 2016, perguntaram a Simone Biles – um grande fenômeno da ginástica olímpica mundial, se ela se considerava a próxima “Usain Bolt” ou “Michael Phelps”. E toma a resposta: “Eu não sou o próximo Usain Bolt ou Michael Phelps. Sou a primeira Simone Biles.”

*-* Ai sua maravilhosinha *-*

6 – Fazer um kit higiene para uma mulher em situação de rua.

O meu kit terá absorvente, escova e pasta de dente, sabonete e roupas íntimas, mas aceito sugestões para acrescentar outros itens. Morar na rua faz com que muitas mulheres fiquem submetidas a condições de vida precárias e desumanas, além dos abusos sexuais e da violência que carregam em seus históricos. A exclusão social e o preconceito contra moradores de rua é fortíssimo e com as elas se torna mais agravante, não apenas pela desvalorização da mulher, mas também porque cobra-se que muitas das que se encontram nessa situação ao irem para as ruas, “deixaram” seus filhos, fazendo com que suas vidas sejam refletidas em sentimentos de culpa e lembranças dolorosas. É claro que devemos cobrar do Estado políticas públicas que garantam os direitos básicos à saúde, educação, moradia, segurança, a todas as pessoas em situação de rua, homens e mulheres. Do mesmo modo, entregar um kit de higiene a estas mulheres não deve ser visto como um vale-um-sono-tranquilo, do tipo fiz minha parte, ó que legal que sou. Mas, para que não estejam ainda mais vulneráveis, pequenos gestos que ajudem no resgate à dignidade humana podem, sim, ajudar estas mulheres a enfrentar o fato de estarem desprovidas de seus direitos básicos. Aliás, outra meta em 2016 pode ser conhecer os abrigos para mulheres em situação de risco e ver como é possível colaborar com o local, seja com itens de higiene e alimentação ou com rodas de leitura, aulas de português, entre outras formas.

7 – Dar rolê com minas!

Eu vou contar para vocês, minha mãe tem 54 anos, divorciada, três filhas e um neto que êta moleque coisa fofa. Trabalha, trabalha, trabalha. Cuida de minha avó. Trabalha. Faz tanto curso de formação que eu nunca nem sei o nome do atual. Trabalha. Mas no meio dessa rotina toda, se tem uma coisa que ela não abre mão é o grupo das amigas, que se reúne todas as quartas. Cansei de ligar pra ela e ouvir “Posso te ligar mais tarde? Hoje é o dia das amigas”. Daí que mamãe me inspirou essa meta: reservar um tempo para dar rolê com as minas, só elas. Um bar, um cinema, um passeio no fim de tarde, uma balada, um churrasco em casa, uma cervejinha, não tem regra. E ao sair, dá para misturar mulheres de diferentes ambientes, para que possam se conhecer e fortalecer a rede de solidariedade e empatia entre nós.

2017 – Bônus track

Tem muitas outras metas possíveis de se cumprir. Dá para elogiar pelo menos uma mulher por dia – pelo talento ou por algo foda que fez. Ou mesmo ajudá-la a vencer seus padrões e inseguranças – sejam estéticos ou profissionais.  Ainda: ajudar uma mulher a desconstruir pensamentos machistas e trabalhar para desconstruir os seus próprios tabus. Para isso, ler mais livros que falam sobre o feminismo, documentários, matérias e filmes, e ir a rodas de conversa, debates, palestra. E no meio de tudo, levar as amigas, para que as possibilidades de informação cheguem mais longe e a probabilidade de isso virar conhecimento ser maior. Enfim, dá para por como meta que em 2017 eu posso ser o que quiser? Dá sim. Mas melhor ainda se eu puder levar as companheiras para frente, junto.

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