E aí, que tô eu fazendo o que eu mais gosto, falando de política e tomando cerveja, quando depois de um longo debate com um amigo, eu termino a frase com

“… e é por isso que eu priorizo as mulheres na hora de votar”.

Ele balançou a cabeça concordando, mas a moça que tava ao lado, pegando o bonde andando, deu um grito: QUE ABSURDO! Você só vota se for em mulher?

Contei até três, respirei fundo e falei: Eu não disse isso, disse que priorizo as mulheres, mas obviamente tenho outros critérios e… Não consegui completar a frase, ela fez cara de desdém, como se eu fosse maluca, e virou a cara.

Ok, não tem problema. A vida é assim, mesmo. Mas não entendi o motivo dela ter achado tão absurdo assim eu priorizar candidatas.

(Antes de continuar, pra deixar claro, eu sou mulher, de esquerda, tenho partido e sou feminista. Se você chegou até aqui e pensou “bah, outra feminazi”, dê a volta e vá brincar de medir o piruzinho em algum blog machista por aí.)

Voltando…

Não sei se vocês sabem, mas existem, pelo menos, 5 milhões de mulheres a mais do que homens no Brasil e mesmo assim, mulheres só representam 8% do congresso. Ou seja, nós, a maioria parte da população, não temos representatividade decente nem na câmara e nem no senado e, pra piorar, os partidos políticos, que deveriam respeitar a porcentagem de mulheres candidatas, não estão nem ligando quando a cota de míseros 30% não é alcançada. Aliás, toda vez que eu falo sobre esse assunto, alguém reclama “Ah, mas a Dilma é mulher”. Poxa, é mesmo, ouviram, meninas? Podemos voltar pra cozinha. Por mais que você ache a Dilma superfantástica, e o suprassumo da representação política no Brasil, não é suficiente.

{{Crédito da foto: Alba CG }}

Quando a ONU ranqueou por países a participação das mulheres na política, ficamos atrás do Afeganistão. Na vergonhosa 141ª posição.

Tá, mas tirando essa desigualdade aí, por que outro motivo é importante votar em mulher?

Que bom que você perguntou. Debates sobre violência, igualdade salarial entre homens e mulheres, direitos sexuais e reprodutivos, (inclusive a descriminalização do aborto), tráfico de mulheres, participação das mulheres nos meios de comunicação, combate ao racismo e à homofobia dizem respeito diretamente a nós mulheres, e não adianta esperar que homens, heterossexuais e conservadores abram espaço para discussão desses assuntos dentro do congresso. Não interessa pra eles, não entram em suas propostas de campanha e, para alguns, é até um problema que nós conquistemos esses direitos. Deus me livre mulheres independentes e politicamente ativas, né?

Leia as propostas das candidatas, avalie seus posicionamentos, seu partido e então minha amiga, quando algum desavisado te questionar “vai votar nela só por que ela é mulher?”, não tenha vergonha de dizer:

Não, vou votar nela por que EU sou mulher!

Sobre a autora:

Malu Rodrigues é Publicitária comuno-petista, feminista sem carteirinha e insuportável em dias pares. Odeia uva passa.