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E eis que chega ao fim mais uma novela, finalmente os mineiros do Chile são resgatados. Uma declaração chama atenção: “Não nos tratem como artistas”.

Tenho, como provavelmente você leitor{{a}}, acompanhado com certa apreensão a história do resgate dos mineiros chilenos, soterrados há cerca de 69 dias, segundo a imprenÇa a maior experiência deste tipo, em termos de tempo de isolamento.

Grave, o fato teve repercussão, como deveria ser. Deveria? Já discuti aqui, inúmeras vezes este tipo de novela criada para dar mais audiência às teles.

A discussão, em geral, resume-se a: como contar um fato importante sem ser sensacionalista.



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Quando comentei o final da novela Nardoni, ponderei até que ponto poderiam ser imparciais os jurados daquele caso. Como é que um cidadão comum analisa se são culpados ou não do assassinato da filha, um casal já condenado pela mídia. Ou pior, que reação teria a mídia, caso o júri resolvesse declarar inocente o casal.

Quem pode afirmar que houve o direito pleno à defesa deles?

Aqui, claro, o caso é outro. A imprenÇa não preocupou-se em verificar que condições de trabalho tinham os mineiros chilenos. Não houve nenhuma análise séria que denunciasse problemas de saúde destes trabalhadores antes da tragédia. Não houve também nenhuma análise que elogiasse as condições de trabalho. Ou seja, não foi preocupação da imprenÇa.

Agora, quando começam a ser resgatados {{até aqui com sucesso}} os mineiros, eis que uma luz surge ao final do túnel com o perdão do trocadilho óbvio:

mineiros

É preciso que um dos protagonistas da novela lembre que ele, de fato, não tem nada de artista. Não receberá aumento salarial {{embora não sejam descartadas indenizações}} nem tampouco mudará a rotina de seus colegas que não foram soterrados.

É grave que a mídia não se dê conta da oportunidade perdida. Oportunidade de questionar se, em pleno século XXI, é justo que em nome do lucro desenfreado trabalhadores tenham que exercer suas funções 622 metros embaixo do chão. Sem luz do Sol ou ar puro.

Ninguém contesta que este é um dos trabalhos que mais fazem mal à saúde humana. Ninguém questiona como é que ocorreu o soterramento, culpa de quê ou de quem? Ou, sendo bacana, pouco se contesta estas razões.

Fico feliz que os mineiros estejam sendo resgatados. Preocupa-me, no entanto, que a preocupação seja fazer destas pessoas ídolos, quando são, em realidade, vítimas de seus empregos.

Mas o mundo seguirá seu caminho. Outros tantos mineiros continuarão a aposentar-se com problemas respiratórios e salários injustos. E a imprenÇa continuará fazendo de fatos, novelas. E durma-se com um barulho deste.

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