Agora que Dilma foi eleita fica a dúvida na cabeça dos seres humanos {{e dos que quase chegam a ser}}. Pois hoje faço um esclarecimento e uma recomendação {{posso?}} sobre o que usar: Presidente ou Presidenta…
Recebi um e-mail e diversos tweets a respeito da palavra “presidenta”. Pode usar, não pode usar? É feia ou é bonita?
Primeiro é bom esclarecer que todos os grandes dicionários (Houaiss, Aulete, Aurélio) aceitam as duas formas como corretas.
Acho ainda mais importante ressaltar (independente do voto, que fique claro) que temos, em nosso país, uma cultura machista.
Cultura que perpassa a língua portuguesa, pelos mais diversos motivos, culturais inclusive. Sabemos todos, por exemplo, que o plural é utilizado, em geral, em sua forma masculina. Não importa que em nossa sala de aula exista apenas 1 alunO e 34 alunAs. Nós vamos nos referir como OS alunOS.
E isso é o mesmo para toda a língua.
Isso acontece porque a língua formal acaba sendo moldada pelos clássicos. Verbetes e formas de uso são classificados como corretos à medida em que foram utilizados pelos escritores consagrados, em sua maioria homens em contexto machista.
Acho bom que a língua comece a mudar, como considero fator positivo o uso da palavra presidentA para diferenciar do presidentE, em nosso contexto todos eles, homens. A mesma palavra, PRESIDENTA, pode ser usada também para mulheres DO presidente, vejam vocês.
Me lembro de discussões acadêmicas enormes entre Hilda Hilst e João Cabral de Melo Neto, a respeito do uso da palavra POETA. Ela, achava que era poeta, ele a considerava POETISA. Qual a diferença? Novamente é o contexto do uso, o machismo que a palavra carrega.
Alguém dirá que não muda nada uma mulher ser presidenta ou um homem…
Eu discordo com veemência. E em minhas razões já dou uma explanação do porque, apesar de achar estranho, faço o uso do termo presidenTA.
Qual o nome se dá ao cargo de 1ª Dama, quando há uma presidenta? Primeiro Cavalheiro, mas tanto faz porque Dilma é solteira…
Veja, creio que você precise analisar um pouco mais a fundo a gramática normativa e a linguística, pois há um enorme preconceito (esse mesmo preconceito com o qual você acusa os outros) em sua análise. Leia o artigo abaixo do excelente site do Professor Cláudio Moreno, “Sexismo na Linguagem”:
http://wp.clicrbs.com.br/sualingua/2009/09/21/sex…
Abraços
Allan,
a gramática normativa, pode ficar certa disso, aceita ambas as grafias. Qual foi o preconceito de minha análise?
Me parece, inclusive, que o artigo que vc faz menção concorda com a minha análise, retiro do texto indicado:
“Coisa bem diferente é a forte resistência que ainda existe em usar a flexão feminina naqueles cargos e postos que, durante séculos, foram ocupados exclusivamente por homens. ”
Abraços
Nunca comece uma frase com pronome oblíquo…: “Me parece, inclusive, que o artigo…” está errada!!!! Você deveria ler mais Bechara, seu machista inescurpuloso!
Isidore,
Que bom que você compreende bem o uso da gramática formal / culta. Acho bonito isso. Parece-me (acertei?), no entanto, que o texto acima não é uma tese acadêmica.
Observando o modo como o autor (vulgo eu) escreveu – inclusive com o uso errado do colchete, quando deveria utilizar o parênteses – creio ter sido um texto de base informal, estou errado?
Adoraria responder-te a altura (faltou uma crase?) mas você, preocupada com a gramática, esqueceu de explicar porque fui machista neste texto.
O que significa INESCURPULOSO?
O “preconceito” de que falei não é “preconceito” como o entendemos quando ligados a termos como “raça”, “povo” ou “cultura”, mas uma “pré-concepção”, um conceito pré-estabelecido sobre a linguagem. Em todo este parágrafo você fez (para ser sincero contigo) uma análise superficial:
“Cultura que perpassa a língua portuguesa, pelos mais diversos motivos, culturais inclusive. Sabemos todos, por exemplo, que o plural é utilizado, em geral, em sua forma masculina.”
Basta uma lida no artigo que te passei para ver que o masculino no português não tem nada a ver com preconceito, mas com uma super-estrutura linguística – a língua não se organiza com base em ideias, formulações, moral ou política essencialmente, mas num uso social em simbiose com estes aspectos (moral, política, cultura) que citei (caso contrário, há três décadas ou mais já teríamos tornado extinto de vezo este “machismo” do português apenas com algumas propostas políticas, mas não ocorreu isso, pois não temos poder para tal). “Ah, não, não foi por isso que não abolimos o machismo da língua, foi porque os machistas ainda estão no poder!” – bradam os ativistas. Mas eu pergunto: será que essa acusação de machismo não é apenas uma justificativa para continuar se maldizendo, para continuar tendo algo contra o qual “lutar” e acusar?
Essa sua análise é quase que o mesmo que dizer que o inglês é ensinado nas escolas, usado na mídia e que se tornou língua hegemônica pelo fato dos EUA ser um império capitalista do mal que subjuga todas as outras culturas humilhadinhas do mundo – e perceba que há autores sérios que até hoje falam nisso (resquícios de um esquerdismo que apodrece? quem sabe…) – mas não tem nada a ver os cós com as calças… Falando dessa forma, parece até que os americanos travaram uma guerra linguístico-cultural, implementando escolas de ensino de inglês, forçando o casamento de mulatas com americanos ou socando tratados e acordos de língua inglesa goela abaixo do restante dos países humilhadinhos – mas eu não vejo, nunca vi, nada disso… Concordo que o inglês tornou-se “língua mundial” pela influência cultural, política e econômica dos EUA no pós-guerra (do mesmo modo que era o latim no Império Romano e com as ascensão da ICAR), mas não é somente por isso: tornou-se mundial também por ser de fácil assimilação, por ter uma estrutura simples (verbos sem muitas flexões, as concordâncias independem de gênero em alguns casos, não há artigos com gênero, etc. – e isso explica também porque o latim, que é o oposto de tudo isso, que é muito mais complicado, tem muito mais detalhes, apesar de toda a potência do império romano, não se tornou uma linguagem mundial, usada pelo povo, ficando restrita aos círculos acadêmicos e aristocráticos) – por que então pensar que é somente pelo aspecto político, cultural e tirânico dos EUA que o inglês é, que ele tornou-se uma língua mundial? Devemos pensar nisso ao analisar a linguagem, mesmo o nosso português: será que usamos o masculino em geral porque somos uma sociedade essencialmente machista? Qual foi o processo que fez o machismo se refletir na linguagem?
Se não pudermos responder a essas questões, estaremos sendo preconceituosos com a língua.
Abraços
Allan,
Você não pode destacar um parágrafo meu e ignorar outros porque aí não fará sentido. O destaque que você fez vem antecedido por uma breve explicação (afinal estamos num blog…) a respeito do porquê a língua acaba sim sendo machista. A razão é que ela é moldada segundo os falantes e escritores clássicos, logo acaba refletindo um pouco a cultura onde estavam inseridos estes cânones.
Quanto ao inglês não discordo nem um pouco.
O machismo sempre esteve presente em nossa língua, desde sua formação. Já no galego-português (já que é para aprofundar a análise), língua mãe de nosso português, a sociedade era essencialmente machista.
Termos como presidenta, ministra e outros femininos para designar colocação profissional da mulher é recente, porque a mudança cultural também é.
Não há nada de preconceituoso em admitir que a língua é sim machista. É óbvio, para todos nós, que a língua não é um ente vivo. Ela é modificada lentamente (nem tanto, o verbo tuitar está valendo já) pelos falantes e naturalmente se adapta a uma realidade menos machista, embora traga nela rançosa lembrança.
E justamente por ser modificada pelos falantes é que vejo a importância do uso da palavra ‘presidenta’ e não a de presidente. Para forçosamente marcarmos o significado de uma presidente mulher e não de uma mulher de presidente.
Abraços
”A razão é que ela é moldada segundo os falantes e escritores clássicos, logo acaba refletindo um pouco a cultura onde estavam inseridos estes cânones. ”
Cara, eu nunca em toda minha via de leitura vi um autor “moldar a língua” – a não ser por estilística ou alternativismo; um exemplo é James Joyce, que inventou um monte de termos, ou Graciliano Ramos. Mas um autor que queira escrever impondo sua visão de mundo (no caso machista) simplesmente não será lido, não será lido! O que leva um autor a escrever do jeito que ele acha certo, impondo seu machismo na língua, se ele não será compreendido e lido?
Não sei de que lugar você tirou essa teoria de que a língua é moldada de acordo com os autores clássicos – é bem o contrário e é isso que estou tentando explicar, mas parece que você está tão convicto de seu ideário que fica impossível qualquer análise.
“Já no galego-português (já que é para aprofundar a análise), língua mãe de nosso português, a sociedade era essencialmente machista. ”
Balela pura… você começou a inventar coisas… A moral é ultra-relativa: se eu quiser dizer que na Grécia Antiga havia mais homofobia que hoje em dia, terei todo o respaldo que quiser, o mesmo para dizer o contrário, que lá não existia qualquer homofobia. Valer-se da moral para argumentar é o mesmo que valer-se de religião para explicar a ciência.
Agora me responda: porque no francês quase não há flexão de gênero feminino? Logo lá que é a terra da Liberdade. Logo lá onde surgiu todo o libertarismo, onde as ideias modernas de emancipação feminina mais tiveram acolhida? Lá não existe “cirurgiã”, por exemplo – você poderia me explicar o porquê disso? Logo lá onde há tantos escritos sobre o feminismo e a importância da indepedência e da emancipação feminina.
Allan,
Meu velho entenda o seguinte: o autor não sabe que está moldando a língua. O autor vai utilizando a língua e perpetuando o que serão as mudanças dela em seu livro; que será usado depois como comprovação do uso correto da língua. Abra uma gramática (decente) e veja onde estão os exemplos.
Allan,
se você diz ‘balela pura’ vc deve comprovar o pq disso. Por exemplo, onde você leu ou afirmou ou viu escrito ou comprovado que a sociedade onde se falava galego-português, era progressista, feminista?
Me explica o conceito de homofobia na Grécia antiga?! Porque até onde eu sei a criatura era ensinada por um homem que deveria iniciá-lo também no sexo (jovem = passivo). Ou seja a homofobia era do passivo somente.
Agora, quando eu falo que a sociedade onde se falava galego-português era essencialmente machista tenho um respaldo histórico de que as mulheres eram moeda, objeto.
Eu, infelizmente, falo Português, Latim, Grego Clássico, Inglês e Espanhol. Francês não posso comentar… agora se quiser dar outros exemplos…
Não estou convicto de nada, velhinho, só não achei argumentos que desmintam a tese que apresentei…
Abração e obrigado por continuar a discussão com educação e argumentos!! 🙂
Não sei porque a discussão rodou tanto sem chegar a nenhum lugar… A questão é mais simples do que parece: a língua portuguesa NÃO POSSUI GÊNERO NEUTRO, logo, é usado o gênero masculino para tal função – desse modo, quando dizemos que “TODOS, o menino, sua prima, sua tia, sua madrinha e sua mãe foram à festa” não estamos usando o masculino (”todos”, em detrimento do feminino ”todas”) porque a língua tem uma origem machista que reflete a cultura de sociedades patriarcais machistas do mal, mas simplesmente porque NUNCA existiu no português o GÊNERO NEUTRO – desse modo, o gênero feminino é o gênero privilegiado, ele exclui, ele é excludente, pois marca apenas o gênero feminino, obviamente:
“Todas foram à festa” – há algum homem aí?
Você consegue ver algum homem nessa última frase? Logo, é o gênero feminino que se destaca, que exclui. Se eu digo “Os presidente se reuniram” podem ser presidentes homens e mulheres, já seu eu disser “As presidentes se reuniram”, será apenas, exclusivamente, presidentes mulheres – o ideal seria, portanto que se lutasse por um gênero neutro, como ocorre no inglês; mas como não existe, vamos resolver de um modo simples: vamos inventar um para o português:
“Es presidents se reuniram hoje” – pronto, resolvida a questão: nessa frase, sabemos agora, há tanto homens quanto mulheres, uma vez que o artigo “es” e a exclusão da desinência de gênero na palavra “presidente” (ficando ”presidents” ) designar um plural neutro que abrange homens e mulheres. Fiquei até orgulhoso da minha invenção…
Mas creio que isso não resolveria o problema, pois o feminismo sempre encontra algo de que reclamar – nesse caso iriam reclamar da QUANTIDADE de mulheres presidentes entre os presidentes homens e mulheres… Depois virão os defensores dos direitos dos animais requerendo uma marcação para o gênero animal… e depois loucos querendo uma marcação para objetos inanimados (isso até existe em algumas línguas, se não me engano)… e por aí vai…
Abraços
Fugitivo da escola formal, não ouso contestar Os EspecialistOs nem Os DicionaristOs. As regras não são imexíveis. Antes pensavO que o Artigo definia os Comuns de Dois Gêneros e não a Desinência. Agora temos o Polìticamente Correto confundindo o raciocínio e estimulando os pleonasmos. Logo logo antOs e antAs serão masculinO e femininA de animais que esqueci o nome.
Pur issu num usu “a” nem “o”.
E minha professora de Geografia do II ano sempre tratou a todos, com carinho, por “meus alunus”. kkkk #brinks
E viva a presidentA! 😉