Alguns chamam de tragédia anunciada, outros preferem dizer que é pura incompetência governamental. Mas quem está certo? Ou é só sensacionalismo?!
A questão das chuvas me é particularmente próxima. Não apenas pelo número de afetados, desabrigados ou mortos {{coisa que choca até o recém demitido Prates}}, mas porque vivi de muito perto essa história toda.
Entre os anos de 2007 e 2008 fui Coordenador do Departamento de Desastres da Cruz Vermelha Brasileira – Filial do Estado de São Paulo. Entre outras coisas fui um dos responsáveis pela organização de uma operação de ajuda internacional da Cruz Vermelha aos desabrigados em São Paulo.
Fato é que, por tudo isso, sempre fico mais sensibilizado com a questão das chuvas seja onde for.
Hoje na folha de são paulo {{saiba porque uso minúsculas para este jornaleco}} há um bom texto de Clóvis Rossi sobre o assunto:
{{não acredite em mim – só para assinantes}}
Sim, senhoras e senhores, a questão é tão simples como ter de escolher entre matar teu pai ou tua mãe.
A @Maria_Fro mostrou hoje pelo twitter um blog com algumas imagens sensacionais{{se você for um Urubu, senão são apenas trágicas mesmo}}:
Imagem de 1966 {{não acredite em mim}}
Ainda que o governante não seja um canalha e resolva expulsar os moradores, estará sendo um canalha porque não existe assim tanto lugar para morar quanto pode parecer.
Outro fator que a imprenÇa ignora é que os moradores, especialmente os mais afetados {{pobres}} não são assim tão coerentes como parecemos ser ao analisar os fatos.
É preciso lembrar do mais óbvio dos óbvios: estão morrendo pessoas que nunca morreram antes.
A piada, um tanto cruel, demonstra que a população sempre viveu em áreas de risco. Isso faz com que a palavra ‘risco’ ganhe outra conotação. É mais ou menos aquela história de usar camisinha: você sabe que corre o risco de pegar alguma doença, mas usa sempre?!
Alguns dirão que sim e outros dirão que não. Isso basta para demonstrar a complexidade do assunto.
A questão é que os moradores passaram toda a sua vida ali. Construíram amizades, relações e vínculos afetivos que não são simplesmente aceitos porque a Defesa Civil chegou, olhou e concluiu: você precisa se mudar.
Há, no caso do Rio de Janeiro, gente rica e gente pobre sem casas. Gente rica que poderia ser conscientizada e simplesmente mudar-se para áreas mais seguras, caso um trabalho de longo prazo fosse feito.
Um trabalho que requer que a Defesa Civil passe meses com as populações explicando os riscos, mostrando fotos e conscientizando.
O mesmo trabalho deveria ser feito com a população carente. Mas aí entramos em uma outra questão.
Para onde mandar os marginais {{Ei, o preconceito é teu. Se o sujeito é miserável está a margem da sociedade e, portanto, é marginal. Daí a ser bandido é outra história, certo?!}} ? As soluções, em geral, vem com o tal ‘auxílio moradia’.
Ou seja, o sujeito que já é miserável perde a sua casa e ganha um salário para viver de aluguel. Salário que vem do governo que tem a mesma credibilidade que o Tio Patinhas para esta população.
A questão é que ninguém lembra de questionar se o asfalto é a melhor solução para pavimentar as vias {{há soluções melhores e mais caras, que absorvem água, algumas já em prática em pequenas vias, como dentro da USP}}. Ninguém se lembra das áreas de risco em julho, por exemplo. Ninguém se lembra de fazer um trabalho a longo prazo com as populações que vivem em risco.
Alguém aí sabe de cor o telefone da Defesa Civil para ligar?! Sabe onde fica, como ajudar? Sabe qual o papel da Defesa Civil?! Já parou para se perguntar quem é que atua na Defesa Civil?! E se eu te disser que tem policial que recebe como punição ir trabalhar no Corpo de Bombeiros ou na Defesa Civil?!
Em minha opinião, a solução é bastante complexa, embora bastante óbvia. É preciso valorizar a vida das pessoas miseráveis. E valorizar não é lembrar delas depois que a tragédia ocorre, mas absorver esta população em áreas de segurança. É trabalhar durante todo o ano para a conscientização da população por um lado e a construção de moradias por outro.
É o óbvio ululante que parece não ulular em cabeças de algumas gentes. Torçamos para que com essa tragédia algumas providências básicas sejam iniciadas.
Belo post !