Pois é, polvilhos, o Mun Há dos novos tempos resolveu que não vai largar o osso. Fez um discurso que nada diz… ou diz?!
Em realidade o discurso de Mubarak diz bastante e é muito interessante a análise bem feita, coisa que, claro, você não vai ler na folha… Pois eis que resolvi, eu mesmo, fazer uma análise.
Povo e mulheres do Egito, eu me dirijo a vocês hoje. Eu me dirijo à juventude do egito na praça de Tahrir. E, todo Egito, eu me dirijo a vocês com um discurso vindo do meu coração. Um discurso de pai para filhos e filhas.
O discurso tenta mostrar um ditador que já esperava pelos conflitos, também típico. Nenhuma ditadura que se preze assumirá publicamente uma derrota ou, ainda que assuma, vai dar a esta derrota ares de vitória. É o caso aqui.
Ao se referir à juventude, Mubarak também dá um tom de que os protestos não são de todo o povo, mas de um setor, justamente o setor mais intempestivo, mais ‘a flor da pele’, como dizemos por aqui.
Mubarak não é tolo. Ele sabe bem o momento pelo qual passa e sabe de sua rejeição. Talvez por isso ele tenha procurado uma proximidade com o que chamou de ‘mártires’. Por isso se dirigiu aos familiares das vítimas. Este é um recurso retórico muito comum. Você procura, a partir de um grupo mais fragilizado, a empatia de todos os ouvintes.
O problema é que, no caso dele, ninguém tem a menor dúvida de que é um recurso retórico e nada mais.
Manifestei planos para sair desta crise e também para implementar as demandas da população com a legitimidade da constituição e de uma forma que traga estabilidade de nossa sociedade, a demanda de nossos filhos e, ao mesmo tempo, apresentar um acordo de transição pacífica de poder com um diálogo responsável entre todas as forças da sociedade e com todos – com maior grau de franqueza e transparência.
Mubarak, que não é dos mais ingênuos, aproveitou para alfinetar os EUA, que sempre o apoiaram {{ou você tem uma palavra melhor para alguém que ‘auxilia’ o governo com 1,3 bilhão?!}} ao se referir às falas externas. Ele sabe que os EUA só apoiam a sua saída para não ficar mal com a comunidade internacional.
Tentando se aproximar da população ele traz à tona sua biografia.Como quem justifica uma ditadura por méritos, por excelência e não pelo poder. A idéia é mostrar ao povo que ele é mais preparado para governar. E se você compara este discurso de herói de guerra com as constantes referências à juventude, que é por definição pouco experiente e impetuosa, saberá que o recado é forte, em voz suave.
Eu vivi dias de ocupação e de frustração e dia da Libertação.
Aqueles foram os melhores dias, o melhor dia da minha vida é quando eu levantei a bandeira do Egito sobre o Sinai.
E quando eu pilotei aviões.
Não houve dia em que fui afetado por pressões externas.
Eu respeito – eu professo paz e eu trabalhei para a Estabilidade do Egito e da paz e eu trabalhei para o progresso do Egito e do progresso do seu povo.
Meu objetivo nunca foi de procurar a força e tomar o poder.
Eu acredito que a maioria do povo egípcio sabe quem é Hosing Mubarak e me dói a maneira como disseram algumas pessoas de mim e do meu próprio país.
Mais uma vez o tom paternalista está presente. O pai, preocupado com os filhos, mostra que, em realidade as punições e atitudes tomadas foram para o bem deste filho que não sabe ainda qual o caminho seguir.
Mubarak cedeu. Podemos considerar que foi pouco, mas já mostra o poder da população. Ele revogou alguns artigos da constituição e passou poderes ao vice-presidente, embora não tenha saído. Um ditador não cederia assim seu posto, por pressões populares. Ou seria um presidente eleito.
Enfim, é um discurso que diz pouco em termos de mudança, mas diz muito sobre como pensa Mubarak.
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Muito boa, sua análise.
Creio que o discurso soou hipócrita e cheio de firulas para quem é de fora, mas para muitos egípcios, deve ter sido algo do tipo “Ok, querem votar num presidente? Votem em mim!”
Simples assim…