Ainda bem que não são eles quem decidem para quem pode e para quem não pode vender armas, né?!
Os dois homens que confessaram participação na venda do revólver calibre 32 para Wellington Menezes de Oliveira, 24, autor do massacre em Realengo, disseram estar arrependidos do que fizeram. “Se soubesse que ele comprou a arma para fazer o que fez, eu nunca teria feito isso”, disse Izaías de Souza, 48, que trabalha como vigia em Sepetiba. “Ele era um cara pacato, calmo, disse que precisava da arma para sua segurança”, afirmou o chaveiro Charleston Souza de Lucena, 38.
Homenagens e funerais marcam dia seguinte ao massacre do Rio de JaneiroEles admitiram aos policiais da Divisão de Homicídios (DH) da Polícia Civil do Rio de Janeiro terem participado da negociação da venda do revólver e de cinco balas. De acordo com a polícia, o revólver foi roubado em 1994.
A Justiça determinou a prisão preventiva dos acusados. Eles serão indiciados por comércio ilegal de arma de fogo, sujeitos a pena de 4 a 8 anos. Ambos moravam em Sepetiba e já possuíam antecedentes criminais. Lucena já respondeu por ameaça, agressão, desacato, resistência a execução de ato legal e por dirigir sem habilitação. Nos antecedentes criminais de Souza consta acusação por ameaça e uso de documento falso.
Segundo o delegado titular da delegacia de homicídios, Felipe Ettore, a negociação da compra da arma aconteceu em janeiro deste ano.
De acordo com os depoimentos dos acusados, Wellington conheceu o chaveiro quando se mudou de Realengo para Sepetiba. Ele contratou Charleston para a mudança de fechaduras da casa onde morava e perguntou como conseguiria uma arma. O chaveiro entrou em contato com Izaías, que conseguiu a arma e a passou para o chaveiro, que a entregou a Wellington. “Ele era um cara pacato, calmo, disse que precisava da arma para sua segurança”, afirmou o chaveiro.
Na negociação, Wellington pagou R$ 260 pelo revólver e cinco munições. Izaías e Charleston ficaram com R$ 30 cada um. Os outros R$ 200 foram para quem estava com a arma, identificado como Robson. A polícia investiga quem é e onde está o acusado, mas desconfia que ele esteja morto, pois, segundo relatos, nunca mais foi vista depois do Carnaval.
Ataque a escola no Rio
Policiais do 21o BPM (São João de Meriti) chegaram até Charleston nesta sexta-feira (8) após uma denúncia anônima. Foi o chaveiro que falou da participação de Izaías e deu seu endereço aos policiais.
Durante a apresentação dos acusados, o vigia Izaías, que é pai de seis filhos e tem quatro enteados, argumentou que tem apenas parte da culpa, mas nenhuma relação com os atos do autor do massacre. “Não tenho culpa diretamente pelos assassinatos”, disse. “Espero que a justiça faça o que tem que fazer. Agora estou preso. Espero que a justiça seja cumprida”.
Charleston, pai de três filhos, disse que pensou na sua família quando ficou sabendo do massacre e se mostrou arrependido.
No momento da tragédia, Wellington portava uma arma calibre 32 e outra calibre 38, além de um cinturão com muita munição. A arma de calibre 38 teria a numeração raspada, o que dificulta encontrar sua origem.
Na quinta-feira (7), por volta de 8h30, Wellington Menezes de Oliveira entrou na escola Tasso da Silveira, em Realengo, dizendo que iria apresentar uma palestra. Já na sala de aula, o jovem de 24 anos sacou a arma e começou a ameaçar os estudantes
O ataque, sem precedentes na história do Brasil, foi interrompido após um sargento da polícia, avisado por um estudante que conseguiu fugir da escola, balear Wellington na perna. De acordo com a polícia, o atirador se suicidou com um tiro na cabeça após ser atingido. Wellington portava duas armas e um cinturão com muita munição.
Doze estudantes morreram –dez meninas e dois meninos– e outros 13 ficaram feridos no ataque. Dez ainda estão internados.
Na sexta (8), 11 vítimas foram sepultadas nos cemitérios da Saudade, Murundu e Santa Cruz. Já no sábado pela manhã, o corpo de Ana Carolina Pacheco da Silva, 13, o último a deixar o Instituto Médico Legal (IML), foi cremado no crematório do Carmo, no centro do Rio.