Polvilhas e polvilhantes,
Observo já a algum tempo um certo movimento em favor das bicicletas. Não são poucas as manifestações favoráveis ao uso da magrela {{entreguei a idade, não?!}} no trânsito. Os argumentos são quase sempre os mesmos: não polui, não estressa, faz bem à saúde, etc.
Eu tenho certa pinimba {{pode usar pinimba, Arnaldo?}} com a política da sustentabilidade. Sempre me lembro da hora do planeta {{aquela coisa bisonha que pede para você apagar a luz por 1 hora para economizar energia mas não tem problemas em fazer um show de luzes para promover isso – não acredite em mim}}.
Mas
Não se pode negar que para a política, a ideia da sustentabilidade tem se mostrado boa. Isso porque muita gente tem participado de discussões políticas em torno dessa questão. Gente que não participaria da vida política do país, não fosse por isso. É um lado positivo, é verdade, reconheço.
Contudo, as pessoas acabam focando nas questões erradas. E é disso que quero falar. Primeiro vamos a uma questão importante. A palavra “idiota”.
Idiota vem do grego clássico idióte e significa algo como: aquele que se preocupa apenas com o privado. Ou seja, aquele cujas preocupações são o próprio umbigo. Ganhou conotação negativa pela ideia de democracia grega, na qual se supunha que tratar da pólis era tratar de si mesmo. Ignorar a cidade, o comum, era ser {{o que hoje chamamos}} idiota.
É nesse sentido que me preocupo com a questão da sustentabilidade. Mais ainda, é nesse sentido que critico a tal religião das bicicletas {{e eles que não reclamem de ser religião, têm até anjos!!}}. Não nego que faça bem andar de bicicleta, fugir do trânsito.
Mas, além da questão da segurança {{ah, mas é só fazer ciclovias… ahã…fazer onde?}} e da óbvia falta de estrutura, cujas soluções não são fáceis como costumam apresentar os seguidores de Soninha Francine {{ok, peguei pesado agora…}} é preciso perguntar:
Bicicleta para quem?!
Certamente não são adeptos das bicicletas trabalhadores com jornadas exaustivas. Não será a empregada doméstica da família de classe média quem irá para o trabalho de bicicleta. Ou alguém imagina o contrário?! Uma senhora de 45 anos, trabalhando como faxineira, saindo de casa às 7 horas {{estou sendo bacaninha, em geral saem às 5hs}} e voltando por volta das 17, 18hs, andaria quantos kilômetros de bicicleta?
Acho muito bonito quando as pessoas exigem que se larguem os carros. Estamos juntos nessa.
Mas lutar pela bicicleta é ser idiota, no sentido grego da coisa. Porque deixamos de exigir melhores transportes públicos para a população. Isso é grave.
Quando um movimento pinta a loja que vende carros com os dizeres: “Vá de bike!” ou canta aos 4 ventos: “Um carro a menos, estou de bicicleta”; o movimento não está preocupado com o comum, está preocupado com uma classe bastante específica: classe média.
Mais difícil, porém muito mais democrático, é lutar por transporte público de qualidade. Transporte público a preços acessíveis. Inúmeros movimentos trazem esta luta, o Movimento Passe Livre é um deles. A própria UNE é outra.
Enfim, eu prefiro movimentos que se preocupem com a classe mais pobre e, de quebra, tire os carros da classe média do trânsito também do que aqueles que não tem consciência da coisa pública e privada.
gostei mas acabou depressa demais, vale um segundo post , tem bastante caldo !Valeu!
É isso aí. George Carlin neles!…hehe.
Será mesmo que lutando pelas bicicletas deixamos de lutar por melhorias nos transportes públicos? Moro numa pequena cidade onde o uso de bicicleta é muito comum, principalmente pela população de baixa renda e funciona muito bem. Talvez a dinâmica das grandes cidades seja diferente da dinâmica do transito da cidade onde vivo, mas ainda assim acredito que investir em bicicletas pode ajudar muitas pessoas a se locomoverem melhor pelos espaços urbanos, inclusive os trabalhadores que você citou.
Dizer que a bicicleta é um veículo de classe média é coisa de idiota, dizer que não existe espaço para construir ciclovias é tão idiota quanto os que disseram que não era possível construir corredores de ônibus; no fim das contas os sistemas de corredores se mostraram tão eficientes que vem sendo adotados por quase todas as grandes cidades.
E antes que você diga que as distâncias percorridas pelos “trabalhadores” para chegarem aos seus locais de trabalho torna proibitivo o uso de bicicletas como meio de transporte gostaria de lembra-lo que isso nem sempre é verdade; bicicletas podem ser muito ágeis, e considerando os congestionamentos e os trajetos dos ônibus, pode ser até mais rápido ir de bicicleta do que de ônibus.
Vou colar o que disse pra um amigo que mostrou o seu post:
É óbvio que o movimento das bikes é classe-medísta, inclusive o próprio MPL o é. Falo por conhecimento de causa, estava nos atos e conheço a grande massa das pessoas que participaram deles. O MPL é também formado por branquinhos uspianos bancados em cursinho pra estudar na melhor faculdade do país, disso não tenha dúvidas. Tinha trabalhador no meio? Claro que tinha. E nas Bicicletadas também tem. São maioria? Não.
Não se esqueça que muitos trabalhadores utilizam a bicicleta para transporte (bike couriers em são paulo, por exemplo, ou os milhares em cidades litorâneas ou de interior). E isso é mais barato que qualquer busão.
Caso o indivíduo que publicou a matéria já tivesse participado de qualquer reunião de grupos de debate (ou culto da santíssima magrela, como queiram, aleluia irmães) teria percebido que o que os malditos classe medístas pedalantes reclamam, não é para que as empregadas do M’Boi Mirim saiam batendo pedal atravessando a cidade. E sim para que o pessoal motorizado, que muitas vezes até trabalha perto, mas não abre mão da estrutura de aço por conforto ou status.
É babaca e raso ao extremo supôr coisas do movimento sem conhecê-lo.
Ninguém desses movimentos acha que qualquer um pode ir pra qualquer lugar de bike. Mas acha que muito playboyzinho de SUV poderia, por exemplo, e isso contribuiria pra uma melhora grande do trânsito e do meio ambiente. Inclusive, melhorando o trânsito, melhora-se a velocidade para os ônibus.
Eu ando de busão desde que eu nasci, e agora comprei uma bike (porque pude, porque sou classe média e privilegiada, óbvio) e quero trocar as horas de trânsito e superlotação por minutos pedalantes e livres. Serei uma a menos pressionando as pessoas nas latas de sardinha, e também não serei um carro a mais poluindo a merda toda. Não vejo nada de idiota nisso.
{{Krasis,
você não entendeu o ponto principal. Se os tais religiosos (agora virou birra) lutassem por ônibus ao invés de lutar por bicicletas a vida das pessoas melhoraria muito mais. Inclusive as pessoas da classe média}}
Também não concordo que bike seja a salvação do mundo, mas também, honestamente, nunca vi ninguém falando isso. O discurso que eu ouço nos movimentos aqui de São Paulo é:
– Tem grana pra carro? Então tem grana pra bike. Se vai pra perto, vai de bike. Vai pra longe? Se importa com o meio ambiente ou com o seu bem estar emocional (ficar 3 horas parado no mesmo lugar irrita)? Se sim, vá de busão. Se não, continue preso no trânsito, a vontade.
O discurso da sustentabilidade é mais um chamado do que uma ideologia real. Ninguém acha que tá salvado o mundo andando em marginais sob duas rodas, sendo atropelado e xingado por motoristas enfurecidos. Mas acredita que está fazendo sua parte, dentro de suas possibilidades: Pode fazer o percurso de bike e livrar os esmagados do busão que vão para mais longe, e também não polui e congestiona com um carro. Isso é ótimo. Não é a solução do mundo, nem pra todo mundo, mas é ótimo.
É tipo a questão do vegetarianismo/veganismo. Ninguém vira vegan porque acha que o mundo inteiro vai virar com você. Vira porque pode e quer parar de alimentar a indústria da qual discorda. Nenhum vegan vai no meio do nordeste gritar “parem de comer carne seca! vivam só de farinha e xuxu!” saca? O discurso é para quem pode optar por outra coisa mas não faz por conforto. Subentender o contrário é perverso.
E eu entendo a lógica do “idiota”, do “fiz minha parte foda-se o transporte coletivo”, mas eu nunca vi esse tipo de comportamento nos coletivos que eu frequento, ou nos zines e coletivos de outros estados que já acompanhei. Juro.
Quando comecei a ler o post achei que ele chegaria no que eu penso sobre bikes…mas não, enveredou para o lado social.
Andar de bicicleta faz bem à saúde??Depende…No litoral sul de SP, andar de bike é uma maravilha..
Na cidade de São paulo tenho certeza que não é saudável…
Arrisco ainda dizer que é tão ou mais perigoso do que andar de motocicleta.Bicicleta em SP é risco de vida!
Inalar Monóxido de Carbono a taxas e frequências muito mais elevadas do que as de um pedestre causa aos seus pulmões mais danos do que no dos guardas da CET parados nas esquinas.
Um simples esbarrão de uma moto ou carro (ou pedestre) pode levar a uma queda, mas a queda é só uma quedinha…o que vai te matar ou alejar é a carreta, ou o onibus, ou o caminhão que vem atrás e vai passar em cima das suas pernas, se tiver sorte .
São Paulo é uma cidade condenada..por sua própria ganancia…pela ganâncias das grandes construtoras (e suas propinas ao setor público, para este aprovar leis de zoneamentos absurdas),que por sua vez leva á muito mais carros por m2.
Que o movimento pelas bicicletas é da classe média concordo, mas dizer que são os que mais andam acho meio viagem. Procure (principalmente no nordeste) quem são os que mais andam de bicicleta, principalmente por razões econômicas…
Outra questão é que (dependendo do movimento, óbvio) em geral esses grupos pedem por mais respeito no trânsito e investimento em transporte coletivo (inclusive exigindo adaptações para integração entres estes e quem usa bicicletas), não que todo mundo seja obrigado a andar de bicicletas (existem os xiitas, óbvios, mas são minoria, embora por vezes dominem o discurso por serem mais ativos). São movimentos mais contra carros e individualização que a favor da bicicleta única e solamente, acho que foste infeliz nessa frase, que não é bem verdade, uma coisa não tem necessariamente relação com a outra “Porque deixamos de exigir melhores transportes públicos para a população”. Afinal, quem defende uma causa obrigatoriamente abdica ou tem que ser contra outras? Por essa lógica, quem defende direitos de homossexuais tem que obrigatoriamente ser contra heterossexuais, não?!!?
Nisso tudo, falo pelo que conheço, por ter morado em Fortaleza e morar em Porto Alegre agora e conhecer alguns desses grupos daqui, fora outros grupos das mais variadas causas, que não divergem necessariamente (pelo contrário, normalmente são os mesmos grupos de pessoas que defendem várias dessas questões). Talvez em São Paulo seja diferente, mas por isso achei o texto meio idiota, pois apesar de haverem esses radicais que são como descritos no texto, (pelo menos aqui) são uma minoria e mesmo assim defendem em conjunto sempre transporte coletivo e bicicletas como complementares.
Fora isso, concordo bastante com os comentários do Teilor e mais ainda do Krasis.
Sr. Zé do Mér, concordo com a parte de lutar por melhores condições de transportes coletivos. No entanto, suas colocações sobre as bicicletas foram infelizes.É claro que São Paulo não é parâmetro para o resto do Brasil. Antes, muito pelo contrário, deveria ser considerado um exemplo a não ser seguido de desenvolvimento urbano. Dê uma olhada no exemplo da cidade de Sapiranga, interior do Rio Grande do Sul (há outras cidades além de Sampa). É uma prova de que é possível ter a bicicleta como um dos principais (não único) meios de transportes urbanos para trabalhadores, estudantes, etc, de todas as classes sociais. E olha que o pessoal das fábricas de calçados levantam bem cedo. Há dois anos vendi o meu carro e adotei a bicicleta como transporte do dia-a-dia aqui em Porto Alegre. Embora o Plano Cicloviário da cidade ainda não tenha sido implantado, é possível fazer muita coisa pedalando por aqui. Se não fosse aquele imbecil que atropelou o pessoal do Massa Crítica, não teríamos grandes problemas a relatar. Vou comprar outro carro, mas usarei pouco, principalmente para viajar. As pessoas já estão se conscientizando de que essa prática é boa, mas, alguns ainda resistem. Andar de bicicleta é mais do que apenas ir de um ponto ao outro. É curtir a cidade, viver a vida com mais qualidade, tranquilidade, olhar a cidade, enfim, levar uma vida diferente da qual fomos empurrado pelo sistema vigente atá agora.
Sim, é apenas um início. Mas é preciso ter um pouco de visão para tentar influenciar as pessoas a seguir bons exemplos.
Sobre o uso da palavra “idiota” nesse texto, nem vou comentar. Muito menos o artifício utilizado para justificá-la aqui. Como diz uma música do Pepeu Gomes: “O mal é o que sai da boca dos homens.”
{{Heverton
1. O sentido da palavra idiota é esse em qualquer texto, conforme-se.
2. Você acha que São Paulo é um exemplo ruim, mas SAPIRANGA NO INTERIOR DO RS é um bom exemplo? Sério, isso?!
Como diria eu mesmo: “Atirei o pau no gato-tô mas o gato-tô…”}}
E por que não seria?
Talvez porque São Paulo seja um pouquinho (pouca coisa, sabe?) maior que Sapiranga.
Bom, acho que sua análise deixa muito a desejar. Nas cidades pequenas, a bike é ideal como meio de transporte e há muitas grandes cidades em que a bike é alternativa de transporte de massa. Pequim é um exemplo já que lá a maioria dos que usam transporte individual por lá vai de bike. Em San Francisco, os ônibus têm racks para bikes. Então, o ciclista que estiver cansado pode tomar o ônibus e carregar sua bike junto.
Concordo inteiramente com tudo o que a Krasis disse. Por experiência própria, posso dizer que andar de bike é uma excelente alternativa para quem PODE. Por morar em uma cidade do interior, onde as distâncias não são tão longas, adotei a bicicleta. Estou economizando bastante e ainda deixei de ser 100% sedentária.
É muito relativo isso, se for levar em conta SP precisa se investir no transporte público mesmo, porque, tem pessoas que moram na zona norte e vão trabalhar na zona sul por exemplo (moro em goiânia). Cidades onde não se preocuparem com as ciclovias e viraram o que é hoje, como são São Paulo, Goiânia, é muito difícil conseguir mudar o quadro, só falta o transporte público como meio de sustentabilidade. Eu não me arriscaria a andar de bike em São Paulo, além de que suaria bastante, poucas empresas tem onde tomar um banhozinho.. e no meu caso levo 10kg de livros todos os dias para a escola. A verdade é que poucos podem usar este meio.
Bacaninha esse lance de bike, ok, ok…Faltou completar com um ponto importante: falta regulamentar COMO se anda de bike. Um tanto de ciclistas que j
Concordo com o Zé do Mér, mas creio que sou um pouco mais radical, levemente ultra, rs. Creio que o transporte privado deveria ser extinguido. É insustentável, é caro (digo, é superexplorado), é um dos motores pra diversas guerras, além de ser a legitimação do armamento de um cidadão comum (mas não acho que cidadãos incomuns ou supercidadãos possam ter acesso, btw.) – porque, afinal de contas, o carro é uma arma.
O transporte público de qualidade é suficiente pra abarcar toda a população das grandes cidades, seja por meio de metrô, ônibus, bondes, etc. A continuação do transporte privado só é uma justificativa pro contínuo sucateamento e opressão das classes inferiores (principalmente daquelas que moram pra lá da área conurbada e tem que vir pra cidade chacoalhando numa BR da vida).
Um pouco infeliz essa publicação, o Brasil não se resume em São Paulo e tem que levar em contra outras pessoas e outras realidades.
A bicicleta não é a solução pra todos os problemas, mas ajuda, e creio que não é pedir demais ter soluções para bicicleta e transporte público, uma coisa não deve anular a outra.
“Um pouco infeliz essa publicação, o Brasil não se resume em São Paulo e tem que levar em contra outras pessoas e outras realidades.”
Concordo. E digo que Campinas também não é uma cidade amistosa e simpática às magrelas.
Aliás, gostaria de saber se existe uma cidade, das médias e grandes cidades, que é onde vive uma grande parcela da população, que seja amigável às bicicletas?