Ninguém mais do que esse blog tem metido a colher onde não é chamado, quando o assunto são os erros e influências da imprensa. Mas concluir que por isso a imprensa é golpista parece um pouco ingênuo. Ou pior, distorcido como a quem criticamos.
Aconteceu na semana passada uma série de manifestações contra a corrupção. A melhor definição das manifestações que eu encontrei, confesso, está no Angry Brazilian do Tsavkko. Muito embora ele escreva com todas as críticas miradas aos petistas governistas {{e que me pareceu uma massa uniforme, mas que a realidade insiste em contradizer}}, ele tem toda a razão quando diz:
A Marcha não nasceu, porém, para atacar o governo petista, e sim para atacar um congresso efetivamente viciado, corrupto em sua maioria, que lava as mãos para o roubo de seus pares (vide a absolvição já esperada de Jaqueline Roriz, apenas mais uma ladra a se safar), mas que não é exclusivo deste ou de outro partido, mas generalizado. Mas, mesmo assim, a Marcha pecou pelo excesso de generalização, que demonstra e promove a mais absoluta e completa despolitização.
{{não acredite em mim – Tsavkko}}
A grande questão é que a manifestação explorou o senso comum do Todo político é corrupto e foi feita por pessoas com pouquíssimo ou nenhum engajamento político. Classe média, em geral, manifesta-se contra a violência, a corrupção e contra os impostos. É a praxe.
O que não é praxe, embora seja, é a oposição e a imprensa embarcarem e concluírem que foi uma manifestação anti-PT, como tentou-se criar.
Diante disso tudo, criou-se, no Facebook, uma manifestação anti-Pig {{PIG foi uma denominação criada por Paulo Henrique Amorin em seu blog, Conversa Afiada, para determinar o que ele chamou de “Partido da Imprensa Golpista”}}:
{{não acredite em mim – Facebook}}
Embora a divulgação que eu tenha recebido por email e a página do evento digam que quem o criou foi o Eduardo Guimarães {{blogueiro progressista, escreve no Blog da Cidadania}} me foi esclarecido, também por email, que o criador do evento é, na verdade, a associação presidida pelo próprio Eduardo Guimarães, o Movimento dos Sem-Mídia.
Chamar a imprensa brasileira de golpista não é apenas um exagero. É um erro histórico e contextual. A imprensa nacional não faz nem sombra do que fez contra Jango. O mundo {{cuidado, vou falar uma novidade gritante e que talvez seja melhor sentar para ler…}} não está na guerra fria. Não há nem sombra da polarização esquerda-direita que houve nos anos 60.
Não há a menor possibilidade de um golpe acontecer. Ainda que isso seja um problema na hora de agregar as pessoas em torno de algo palpável, concreto, não acredito que valha a pena pautar qualquer movimento sobre a premissa de algo inverossímil. Até porque, dá no mesmo reclamar da bolinha de papel se acusamos o outro lado de coisas igualmente falsas.
É óbvio que a imprensa defende seu interesse. É muito óbvio que a imprensa deturpa as informações e que isso é grave. Mas é igualmente óbvio que não há tentativas da imprensa de colocar quem quer que seja no poder por vias não eleitorais. Chamar de nefasta eu topo, de golpista não.
Se há dúvidas, basta ver as manifestações da imprensa venezuelana, que escondeu armas em suas redações, para dar o golpe de Estado. Como iremos chamar aquilo se aqui é golpismo?! É tudo a mesma coisa?! Parece-me óbvio, que não. Lembrar da importância de cada palavra, da força do símbolo, é também guardar armas para o caso de algo parecido acontecer por aqui.
A Manifestação ocorrerá no sábado, dia 17 de setembro, às 14hs. No vão livre do MASP em São Paulo.
Se você é do Rio de Janeiro e quer participar, procure o pessoal do Rio Blog Prog, através da lista de discussão por e-mail, que você acessa clicando aqui.
Fosse minha opinião relevante e eu diria que é melhor uma manifestação em favor do projeto de regulamentação da imprensa, que está sendo elaborado pela Dilma. Seria mais útil politicamente, porque daria a ela respaldo político para rechaçar as manchetes de censura, que certamente surgirão.
Além disso, mostra ao público que estamos interessados, já que a chance de um plebiscito é eminente. Fazer uma passeata contra a imprensa nesse momento vai apenas passar o recibo da conta que a imprenÇa tentou nos impor, de que só há corrupção no governo do PT.
E não se pode, por outro lado, ignorar que houve e há corrupção no governo. Ainda que se apoie o governo. Política não se faz com boa vontade, mas com análise do contexto, com responsabilidade e, claro, com gente nas ruas. Mas é preciso ter tudo isso, gente na rua, apenas, pelos motivos errados, pode passar a imagem, por exemplo, de que uma passeata contra a corrupção é igual a uma passeata contra o governo. Ou, quem sabe, passar a impressão de que uma passeata contra a mídia é, na verdade, uma passeata em favor da corrupção.
ps: A foto não é da ditadura brasileira, mas de um dos tantos golpes que ocorreram na história de Portugal. E não, golpe não é tudo a mesma coisa.
Não precisa nem de regulação ampla, basta regular e otimizar o direito de resposta.
O nome do movimento é um tanto exdrúxulo (que palavra!) mas partindo de que o PiGão denuncia a corrupção mas “esquece” (protege) os corrompedores ela é conivente e cumplice também logo ela é corrupta sim.
Abs
A manifestação vai servir para chamar atenção da população para o assunto, e a partir disso buscar ações concretas como a reforma política e tributária ( que tem relação direta com a corrupção ) e criar o marco regulatorio da comunicação (que trata das ações abusivas da imprensa ). É fundamental a participação da sociedade para avançar nestas questões.
Dizer que a imprensa não é golpista só pode ser brincadeira sua.
Experimente ir numa reunião do Instituto Millenium.
Brincadeira é dizer que a imprensa quer tomar o poder ou colocar alguém por vias não legais… Tendenciosa ela é… Golpista, meu caro, é outra coisa…. Veja a Venezuela, por exemplo.
Deixa eu advinhar. Mais um blogueiro autoproclamado, autointitulado e autonomeado “progressista”. Acertei?
PIN (partido da imprensa nefasta) não é tão marqueteiro como PIG (partido da imprensa golpista).
Acho que é essa a questão. E concordo com você.
A imprensa quer sim botar gente por meios não legais – basta lembrar que quis transformar uma bola de papel em um objeto de 2kg e que teria causado um traumatismo craniano, não fosse a verdade ser esclarecida a duras penas pela blogosfera, por meio do já falecido blogueiro carioca Flávio Loureiro. Acho que até em respeito ao nosso esforço, só por esse episódio, se isso não é um golpe à democracia, do que mais são capazes? E o PROCONSULT, e o escândalo do debate do Lula x Collor, e o “PLANO FHC”, nada disso é golpe à vontade do povo?
Golpes não precisam de armas. A voz, a palavra, o texto também são armas. Cabe lembrar que na Venezuela, o Chávez é um militar de esquerda. A imprensa lá precisa de armas pra enfrentar os militares venezuelanos, que em sua maioria estão com Chávez. Aqui nossos militares se afastaram da política e a mídia tenta reconquistá-los como fez com sucesso durante os anos 50 e 60, até conseguir o golpe. Só aí comemoraram a tal “democracia” como escreveram em editoriais e até hoje não se envergonham disso (vá no Memória Globo e verifique você mesmo).
Leia a Wikipédia http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_da_Imprensa_Golpista e descubra que o criador do termo PIG foi o deputado petista Fernando Ferro. PHA apenas deu popularidade ao termo.
Agradeceria por dedicar um tempo maior a agregar a nosso movimento, e não ficar discutindo se golpe se dá com tiro ou sem tiro. A maioria dos golpes no mundo inteiro foram dados sem um único tiro. A imprensa é sim golpista, está no seu DNA.
Não Sérgio,
Nada disso é golpe. Entendo o desespero por agregar pessoas a algum movimento político, mas não abro mão daquilo que penso por esse motivo. Se o movimento é NOSSO, como você bem colocou, eu me dou o direito de pensar e escrever aquilo que reflete a minha opinião. Não existe movimento uniforme.
Tanto faz quem deu o nome e há pelo menos três versões diferentes de quem cunhou o termo, muito embora isso não mude absolutamente nada. A mídia tenta colocar o PSDB no poder, por vias legais. Golpe, como você bem sabe, é coisa bem diferente.
Note que, ainda que eu discorde da opinião de vocês, escrevi e linkei as datas e locais de manifestação. Agregar é isso, dizer o que pensa sem boicote. Uniformizar é outra coisa e isso não vou fazer, me perdoe.
Abraços
Na verdade, sabe o que me parece? Que o PHA é um comprado pelo PT. Poxa, o cara só fala bem do governo e mal da Globo. Cansa. É um blog pró-governo e de marketing para a Record (de propriedade do incrível Edir Macedo, quanta hipocrisia…).
Olá Nandara Lima,
Acho que você está sendo injusta com o PHA… ele é independente… Falou do Jobim, do Palocci, cobrou vários pontos do governo, como a regulação da mídia…
Grande abraço
Causas
Depois da febre nacional de farisaísmo que tentou derrubar o governo Lula, fica mesmo difícil apoiar cegamente uma campanha genérica anticorrupção. No país da cultura pirata, dos sonegadores impunes, do trânsito demencial e das licitações arrumadas, ao discurso ético não bastam apenas uma pauta legítima e o pretexto bem-intencionado da militância virtual. É fácil discutir a moral alheia quando selecionamos nossos alvos ou usamos a indignação para ocultar a própria consciência pesada. E é mais cômodo ainda falar de uma ética impessoal, que repudia todo o sistema e por isso não atinge ninguém.
O ambiente reivindicatório que se criou no governo Dilma, embora aproveite os jargões da escandalolatria dos outros anos, possui um componente novo: o foco deixa a esfera política e passa à administrativa. Com o fracasso da estratégia de pintar o então presidente e seus aliados como vates da safadeza nacional, a idéia agora é enfraquecer a imagem de eficácia técnica do governo, reduzindo sua agenda a uma faxina desgastante e interminável. Daqui a vinte anos, o Judiciário putrefeito inocentará o último indiciado, haverá um ato no vão livre do Masp e todos continuarão suas vidas.
Seria justo imputar a setores da própria esquerda a obrigação de morder esse pequi, pois eles ajudaram a colhê-lo quando embarcaram nas pautas da imprensa oposicionista – como se a canseira jornalística da era Lula jamais tivesse ocorrido, como se esses veículos agissem apenas pelo melhor espírito republicano. Já que os novos caras-pintadas consideram absurdo associá-los às elites golpistas, proponho um desafio pedagógico e um sacrifício purificador. O desafio: marcar uma passeata para dia 15 de novembro, defendendo plataformas específicas (fim do voto secreto nos Legislativos, por exemplo) e expondo faixas com menções aos escândalos da hegemonia demotucana em São Paulo. O sacrifício: insistir nessa briga até que o Estadão, a Folha e o Globo contribuam para divulgá-la como fizeram até o momento.
http://guilhermescalzilli.blogspot.com/
Causas
Depois da febre nacional de farisaísmo que tentou derrubar o governo Lula, fica mesmo difícil apoiar cegamente uma campanha genérica anticorrupção. No país da cultura pirata, dos sonegadores impunes, do trânsito demencial e das licitações arrumadas, ao discurso ético não bastam apenas uma pauta legítima e o pretexto bem-intencionado da militância virtual. É fácil discutir a moral alheia quando selecionamos nossos alvos ou usamos a indignação para ocultar a própria consciência pesada. E é mais cômodo ainda falar de uma ética impessoal, que repudia todo o sistema e por isso não atinge ninguém.
O ambiente reivindicatório que se criou no governo Dilma, embora aproveite os jargões da escandalolatria dos outros anos, possui um componente novo: o foco deixa a esfera política e passa à administrativa. Com o fracasso da estratégia de pintar o então presidente e seus aliados como vates da safadeza nacional, a idéia agora é enfraquecer a imagem de eficácia técnica do governo, reduzindo sua agenda a uma faxina desgastante e interminável. Daqui a vinte anos, o Judiciário putrefeito inocentará o último indiciado, haverá um ato no vão livre do Masp e todos continuarão suas vidas.
Seria justo imputar a setores da própria esquerda a obrigação de morder esse pequi, pois eles ajudaram a colhê-lo quando embarcaram nas pautas da imprensa oposicionista – como se a canseira jornalística da era Lula jamais tivesse ocorrido, como se esses veículos agissem apenas pelo melhor espírito republicano. Já que os novos caras-pintadas consideram absurdo associá-los às elites golpistas, proponho um desafio pedagógico e um sacrifício purificador. O desafio: marcar uma passeata para dia 15 de novembro, defendendo plataformas específicas (fim do voto secreto nos Legislativos, por exemplo) e expondo faixas com menções aos escândalos da hegemonia demotucana em São Paulo. O sacrifício: insistir nessa briga até que o Estadão, a Folha e o Globo contribuam para divulgá-la como fizeram até o momento.
Você não entendeu, Caipira. Atualmente golpista é sinônimo de criticar o governo ou criticar o PT.
Mesmo que sejam críticas pertinentes e válidas, isso não interessa. É golpista e pronto.