Durante as últimas manifestações a população encontrou-se com diversas pessoas mascaradas. Boa parte delas com a máscara de Guy Fawkes. E por quê?
A máscara ficou conhecida por conta do filme “V de Vingança”, inspirado em um Comic Book {{se eu escrevo Gibi, você vai achar que eu estou diminuindo a obra…}} de mesmo nome.
A máscara é de um personagem histórico inglês {{porque não me surpreendo de não ver ninguém com máscara de Zumbi ou de Marighella? Não deve ter nada a ver com livros de história e filmes de Hollywood}} Guy Fawkes.
Este sujeito, em 1605, quis, junto de outros católicos explodir o parlamento inglês no dia em que o Rei protestante lá estaria. A ideia era colocar no poder um rei católico, já que o rei protestante perseguia os direitos católicos.
Como haveria no parlamento, pessoas católicas, os revoltosos resolveram avisar. O aviso vazou e chegou aos ouvidos do rei, que mandou revistar o parlamento e descobriu Guy Fawkes com a pólvora. Ele foi torturado por uma semana antes de delatar os companheiros. E acabou se matando antes que fosse novamente torturado e morto pelo rei.
O filme se passa em um futuro onde o Estado inglês é governado por um partido fascista. As ideias do sujeito que veste a máscara são absolutamente anarquistas em sua concepção original {{no quadrinho de Alan Moore e David Lloyd}}, foi um pouco distanciado desta perspectiva no filme hollywoodiano {{puxa, que surpresa, grita o grilo falante}}.
Mas, como a ideia aqui não é discutir o filme {{eu gosto mesmo é de ser chato}} e sim o uso das máscaras, é preciso desmistificar alguns pontos.
Parece-me óbvio que as pessoas que utilizam a máscara estão querendo comprar {{literalmente – não gargalhe, por favor – não acredite em mim}} a ideia de que são contra o “governo”. Estão querendo, na realidade, comprar a ideia de um super-herói que resolva todas as questões. Ainda que, neste caso, os heróis sejam as pessoas das manifestações.
Eu não sei bem como dizer isso, mas… É… Er… Super-heróis não existem, viu moçada? É, eu sei, pode ser um pouco chocante {{não me perguntem sobre o papai noel, por favor!}}, mas infelizmente é essa a verdade.
Mas falemos sério…
Qual era mesmo o lema do Brasil na Copa de 1970, adotado também por um regime ditatorial ?
Era esse mesmo. “Pra frente Brasil”. Aliás, nome também de um filme genial proibido pela ditadura, que mostrava bem o que era o tal regime.
Em um governo democrático existe diálogo. Mas como nós temos no país, cerca de 197 milhões de pessoas. Sei lá, parece que fica difícil a presidente ouvir cada um de nós {{o que, cá para nós, não é de todo mal, imagina obrigar a presidenta a ouvir o Reinaldinho Azevedinho, por exemplo?! Chega de tortura, né?!}}.
Então como fazemos para que nossa voz seja ouvida? Nós fazemos o óbvio, nos reunimos e elegemos representantes.
MST, UNE, Sindicatos, Grêmios, Cooperativas, Conselhos municipais, orçamento participativo… E, claro, partidos políticos.
Imagine você que a presidenta diga {{em um mundo que ainda não existe, claro}}, que quer ouvir a população que está nas ruas{{não acredite em mim – pronunciamento da presidente na TV}}. E veja, como retorno disso:
Como é feito o diálogo? Quem essa população representa? Nós representamos a nós mesmos, dirão os mascarados. E eu pergunto: qual a democracia nisso?
O uso da máscara em um governo fascista se dá para que seja possível um diálogo. Para que o ser humano possa mostrar o que pensa sem medo de ser perseguido. Em um governo democrático o uso da máscara impede o diálogo.
É exatamente o oposto do que o filme propõe. Não é a elevação de um super-herói o que a galera está fazendo, mas uma ode à falta de diálogo.
Em um governo democrático o protesto se dá com bandeiras, com pessoas e, principalmente, com propostas a se discutir. Ser anônimo serve a um só propósito. E não é o meu.
E você, o que acha?
Em tempo: exclusiva foto do pessoal anônimo fazendo mais um vídeo sobre as 187 milhões de causas: