A ONU teve ontem a abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas. Dilma, como se sabe, abriu os trabalhos com críticas duras aos EUA e sua política de espionagem. A imprenÇa acha que foi justo, mas é eleitoreiro, mas não adianta mas… Foi só isso?
As manchetes internacionais também focaram no discurso da Dilma, de que o Brasil não tolera espionagem {{alguém tolera?}} e propôs um marco regulatório de neutralidade da rede. Uma ambição antiga de parte dos brasileiros chiliquentos internautas que militam nesta causa. E que criticam com frequência {{e certa dose de razão}} o ministro Paulo Bernardo.
Esquecem que o ministro, apesar dos pesares, sempre deu a cara à tapa. Foi, inclusive no encontro de blogueiros progressistas, onde sabia que seria duramente criticado pelo PNBL, como foi {{com muitas doses de falta de educação, além das críticas}}. Mas, assim é boa parte da esquerda-mais-esquerda-que-eu-e-você, criticar sempre, se informar depois…
No campo da neutralidade da rede há propostas e trabalho do ministro, embora em muitos outros haja, de fato, uma certa tendência ao status quo {{representado pela Veja, folha, Estado, etc.}}. O ponto é que as críticas raramente são direcionadas ao trabalho do ministro. Em geral, critica-se a presidente. Na já habitual lógica de que o Brasil é, na realidade, um império. Dilma deu uma excelente resposta, para o mundo todo, literalmente.
Mas, pouco importa. Durma-se com este barulho.
Fato é que Dilma fez o óbvio e ululante {{sim, senhores, estou fazendo propaganda pró Lula ao utilizar este vernáculo. Pode parar de ler e ir me xingar. Eu espero. … … … }}, criticou os Estados Unidos por terem feito espionagem política e comercial. Ou, trocando em miúdos, jogou fora a justificativa que é regra neste tipo de debate: contra o terrorismo, precisamos abrir mão da privacidade.
Contra o petróleo brasileiro, também? A imprensa mundial acha que não. A brasileira acha que sim MAS… Sempre ele, o MAS. {{tem um post da dona Bruxa sobre isso – não acredite em mim}}.
Fato é que a ONU continua a mesma. Com as mesmas discussões sobre sua representatividade. Do que vale a ONU, se ela diz não a um ataque unilateral e o principal arsenal militar do mundo ignora e ataca? Vale pouco, quase nada.
Ontem, quem discutia a representatividade da ONU, era justamente quem poderia desmantelá-la. O seu Obama-sabe-tudo. Disse ele:
It took the awful carnage of two world wars to shift our thinking. The leaders who built the United Nations were not naïve; they did not think this body could eradicate all wars.
But in the wake of millions dead and continents in rubble, and with the development of nuclear weapons that could annihilate a planet, they understood that humanity could not survive the course it was on. And so they gave us this institution, believing that it could allow us to resolve conflicts, enforce rules of behavior, and build habits of cooperation
that would grow stronger over time.Foram necessárias duas guerras mundiais e suas terríveis carnificinas para mudar nossa maneira de pensar. Os líderes que construíram as Nações Unidas não eram ingênuos; eles não achavam que esta instituição pudesse encerrar todas as guerras.
Mas, na esteira de milhões de mortos e continentes em escombros, e com o desenvolvimento de armas nucleares que poderiam aniquilar um planeta, eles entenderam que a humanidade não poderia sobreviver da forma como estavam. Então nos deram esta instituição, acreditando que ela nos permitiria resolver conflitos, fazer cumprir regras de comportamento e propor hábitos de cooperação que nos faria ser mais fortes com o tempo.
{{tradução tosca do Caipira, conforme-se ou faça melhor – não acredite em mim – ONU, PDF}}
De fato os EUA continuam o mesmo. Continuam a dar suporte exigir guerras com justificativas pouco convincentes. Continuam a agir em interesse próprio. Mas o fato de Obama justificar em seu discurso, a retirada das tropas do Iraque, do Afeganistão e dizer que está lutando para fechar a prisão de Guantánamo são avanços. Simbólicos, pequenos. Sem dúvida, mas avanços. Também servem para diferenciar o discurso de Obama e Bush. Bush, em 2006, se referia à Síria assim:
Today your rulers have allowed your country to become a crossroad for terrorism. In your midst, Hamas and Hezbollah are working to destabilize the region, and your government is turning your country into a tool of Iran.
Hoje seus governantes permitem que seu país se torne um caminho para o terrorismo. No Oriente Médio, Hamas e Hezbollah estão trabalhando para desestabilizar a região,e seu governo está transformando seu país em uma ferramenta do Irã.
{{não acredite em mim – ONU, PDF}}
Ontem Obama se referiu à Síria:
With respect to Syria, we believe that as a starting point, the international community must enforce the ban on chemical weapons. When I stated my willingness to order a limited strike against the Assad regime in response to the brazen use of chemical weapons, I did not do so lightly
Com respeito à Síria, nós acreditamos que foi um começo, a comunidade internacional precisa encorajar o banimento de armas químicas. Quando eu relatei minha vontade de ordenar um ataque limitado contra o regime de Assad em resposta ao descarado uso de armas químicas, eu não o fiz com o ânimo ‘leve’.
{{não acredite em mim – ONU, PDF}}
E aí que parece a mesma coisa. E é. Só que não é.
Caipira, hoje você está mais confuso que bêbado em feira de degustação de bebidas!!
Calma, pessoa, eu explico. Seria a mesma coisa, não fosse pelo quase insignificante aspecto de que quem surgiu com a solução, ainda que fingindo que não, foram os EUA.
Ah, não, eu li que foi a Rússia!!
É, eu li também. Mas o que a Rússia fez foi aceitar uma sugestão colocado no discurso do secretário de Estado americano:
Obama diz que entrega de armas químicas pode evitar ataque à Síria
Declaração veio depois que John Kerry deu a entender que ataque seria suspenso se arsenal fosse entregue pela Síria à comunidade internacional.
{{não acredite em mim – G1}}
Mas não foi só isso que ‘mudou-sem-mudar’ na ONU. Interessante notar que algumas nações, antes dotadas de um espírito, digamos, vira-latas, hoje se colocam em pé, e confrontam a ordem das coisas…
Dilma ressaltou em seu discurso a necessidade de mudança nas decisões da ONU, em outras palavras, está querendo colocar o Brasil no conselho de segurança.
O ano de 2015 marcará o 70º aniversário das Nações Unidas e o 10º da Cúpula Mundial de 2005.
Será a ocasião para realizar a reforma urgente que pedimos desde aquela cúpula.
Impõe evitar a derrota coletiva que representaria chegar a 2015 sem um Conselho de Segurança capaz de exercer plenamente suas responsabilidades no mundo de hoje.
É preocupante a limitada representação do Conselho de Segurança da ONU, face os novos desafios do século XXI.
{{não acredite em mim – Planalto}}
Mujica, deu uma declaração não menos ‘ousada’ {{se é que se pode usar ‘ousado’ para significar defender seu próprio interesse}}:
A título de ejemplo, los uruguayos participamos con 13 a 15 % de nuestras FFAA en las misiones de Paz. Llevamos años y años, siempre estamos en los lugares que nos asignan, sin embargo donde se decide y reparten los recursos no existimos ni para servir el café. En lo más profundo de nuestro corazón existe un anhelo de ayudar a que el hombre salga de la prehistoria y archive la guerra como recurso cuando la política fracasa, conocemos en nuestras soledades lo que es la guerra.
A título de exemplo, os uruguaios participamos com 13 a 15% de nossas forças armadas nas missões de Paz. Levamos anos e anos, sempre estamos nos lugares onde nos exigem, no entanto, onde se decidem e repartem os recursos não existimos nem para servir o café. No mais profundo de nosso coração existe um desejo de ajudar que o homem saia da pré-história e arquive a guerra como recurso quando a polítcia fracassa, conhecemos em nossa solidão o que é a guerra.
{{não acredite em mim – Mujica, ONU, PDF}}
É verdade, discursos como o da Dilma e de Mujica nada alteram as realidades. Mas sinalizam mudanças. Política é assim, você começa hoje para terminar depois de depois de amanhã.
A ONU continua a mesma, portanto. Só que não.
Trackbacks/Pingbacks