Quem já passou pela USP sabe, ano ímpar é ano de greve. Os motivos nem sempre são banais, ao contrário. Na maior parte das vezes são mais do que justos. Mas greve ano sim, ano não, tem efeito?
A greve, como se sabe, é um artifício político. Utilizado como tática para barganhar algo. Quando feita em uma fábrica, no exemplo mais besta da história, o empregado barganha salários melhores em troca de alguns dias / semanas / meses de prejuízo do empregador.
Ou seja, pressupõe uma tentativa de diálogo anterior que falhou. Nem sempre é o caso da USP, em geral não é, diga-se.
No caso específico de 2013 eu, sinceramente, desconheço se houve uma tentativa anterior ou não. Um funcionário me disse que não {{o que, convenhamos, não significa absolutamente nada, posto que 1 funcionário não representa ninguém}}, mas tanto faz.
Há casos, diga-se, onde a greve é justa e necessária. O blog mesmo já relatou uma vez.
O grande problema é justamente que tanto faz se houve uma tentativa de diálogo anterior neste caso. Porque as tantas greves {{sempre em ano ímpar, juro a você, tem greve na USP}} anteriores fizeram o ‘favor’ de desmerecer qualquer greve futura, diante da opinião pública {{que, no caso da USP, é o lucro do patrão daquele exemplo besta}}. O mesmo ocorre com as invasões de reitoria.
Isto posto, a discussão sobre eleições diretas para reitor na USP não são de hoje. São antigas, justas e válidas.
Para quem desconhece, hoje a USP ‘elege’ seu reitor / reitora da seguinte forma: Menos de 2 mil pessoas votam {{a maioria professores }} e elegem uma lista com 3 nomes que é encaminhada ao governador de São Paulo, que finalmente elege o reitor.
Depois de Maluff, na época da ditadura, quase todos os governadores respeitaram a decisão dos votos e elegeram o mais votado como reitor da universidade. Exceção feita, claro, a José Erra, que resolveu eleger não o mais votado, mas Gerondino Rodas.
Grande erro.
A ideia de José Erra era, claro, obter maior controle da universidade, especialmente próximo que estava das eleições presidenciais. O tiro saiu pela culatra. Ao eleger não o mais votado, o então governador colocou pólvora na antiga discussão sobre eleições diretas. Enquanto rolava a hipocrisia do governador elegendo o mais votado, a argumentação de autonomia universitária se tornava mais complexa, tratando de hipóteses e não realidade.
Rodas foi o responsável pela guerra que houve na faculdade de Letras em razão de três estudantes serem ‘presos’ em flagrante fumando maconha. Os estudantes revoltados {{e com razão}} reagiram, a PM utilizou do que faz normalmente, da força.
{{Que se registre que o ‘com razão’ acima refere-se à revolta dos estudantes, não ao ato de fumar maconha na universidade. É um erro político dar razão a um ser como o Rodas ou à PM, ainda que o uso da maconha na universidade mereça, de fato, uma discussão mais profunda. A título de curiosidade, em algumas universidades é possível fumar maconha. Em tantas outras universidades do mundo, não. Mas nenhuma faz uso da polícia para a retirada de quem faz o uso, este é o ponto}}
O uso da PM na universidade, defendido por Rodas já antes da eleição, coloca mais lenha na fogueira da autonomia universitária.
Pois que o movimento ganhou ainda mais força e no ano ímpar de 2013, adivinha… GREVE! Pois bem, daí que os alunos pedem algo essencial para a autonomia universitária, eleições diretas. Ou, como eu gosto de chamar, eleições semi-independentes de conchavos políticos do partido do governador de São Paulo {{seja qual for}}. Não parece assim, tão absurdo, querer que a faculdade siga um rumo acadêmico ao invés de um rumo político quando o assunto é a cadeira de reitor, parece?
Pra folha, parece.
Fetiche democrático
Processo de escolha do reitor da USP precisa ser aprimorado, mas eleições diretas não são solução para universidades pública
{{não acredite em mim – folha, Editorial. Clique em abrir na aba ‘anônima’ para ler sem pagar}}
O interessante título traz a palavra ‘fetiche’ que no português moderno significa {{EPA!}}:
Curioso notar que para a folha a democracia seja um fetiche. Explica porque ela apoiou abertamente a ditadura {{não adianta negar, O Globo, naquele editorial, já dedou}}, inclusive emprestando automóveis para a polícia.
Mas, como os tempos são outros, cabe a discussão:
Não há dúvidas de que a eleição para reitor da USP é pouco representativa. São mais de 90 mil alunos matriculados, 17 mil funcionários e 6.000 docentes, mas menos de 2.000 pessoas, a maioria professores, participam da definição da lista tríplice a ser encaminhada para o governador do Estado.
{{não acredite em mim – folha, Editorial. Clique em abrir na aba ‘anônima’ para ler sem pagar}}
Até aí, de acordo.
Embora mais numerosos, alunos e servidores não constituem o núcleo produtivo da universidade. É de perguntar, portanto, se a academia teria a ganhar com a paridade entre os eleitores, ou se, como soa mais provável, sairiam vencedores os pleitos estudantis e funcionais –decerto legítimos, mas menos afeitos à finalidade da instituição.
{{não acredite em mim – folha, Editorial. Clique em abrir na aba ‘anônima’ para ler sem pagar}}
A folha, larápia que só ela, finge não saber a diferença entre eleições diretas e paridade dos votos. Ela finge não saber, você que me lê, sabe. São coisas diferentes.
Antes de raciocinar em cima do que foi dito, tente esquecer o ranço ditatorial que cobre a frase “pleitos estudantis e funcionais”. O editor escreveu, na verdade: ‘pleitos comunistas comedores de criancinhas’. Mas o corretor automático deu aquela corrigida…
Eleições diretas é todo mundo votando para o reitor. E o reitor mais votado ganha a eleição. Isso não implica que os votos de alunos e professores tenham o mesmo peso.
Por exemplo, vamos supor que exista um modo de votos diretos terem pesos diferentes… Como já ocorre nas assembleias! Os votos dos alunos têm peso 25%, funcionários 25% e professores 50%.
Há outras fórmulas {{e não cabe aqui a discussão de qual é mais eficaz}}, pode-se considerar todos os estudantes como 1 voto, os funcionários 2 e o dos professores 3. Enfim, cada um que ache uma fórmula.
Mas que, por obséquio, não faça como a folha. Quando falar abobrinha, argumente sobre abobrinha.