No dia 28 de março, a loja Animale, localizada na Rua Oscar Freire em São Paulo, foi acusada de racismo por expulsar um menino negro de oito anos da porta da loja, alegando que ele “não podia vender nada ali”. O menino nada vendia, apenas esperava seu pai que havia se afastado para atender uma ligação. A criança não se afastou do pai em nenhum momento.
A Animale emitiu uma nota, logo após o ocorrido, afirmando que a atitude da funcionária não fazia parte do caráter inclusivo da loja. Não houve pedido de desculpas, não houve retratação, apenas, nas palavras do pai do menino, “usaram a funcionária como bode expiatório, como se lamentassem um assalto na frente da loja”.
Quem também se posicionou no caso, a favor da Animale, foi a Presidente da Associação dos Lojistas dos Jardins, Rosangela Lyra, que em seu Instagram afirma estar “muito triste com a declaração do pai da criança que disse que ‘o que aconteceu com meu filho faz parte da cultura das lojas da Oscar Freire’ ”. Ela também diz que “Infelizmente é uma realidade do bairro crianças de todas as cores que vendem balas, panos de prato, e são exploradas por seus pais”.
Pelas instruções que a funcionária tinha recebido, não poderia permitir que vendessem nada na frente da loja. Afinal, a gerente e outros funcionários foram coniventes com sua atitude.
No dia 15 de abril os #JornalistasLivres enviaram Maíra Vargas e Tatiana Pansanato para testar tal cultura inclusiva, vendendo doces na frente da Animale. Segundo as regras, duas moças brancas também deveriam ser expulsas. Resultado? Por cerca de 5 minutos as jornalistas ofereceram guarda-chuvas de chocolate na porta da loja, entraram e perguntaram ao vendedor se havia problema ficar por ali e até ofereceram o doce a ele. Nenhum pedido para que se retirassem, apenas um “fiquem à vontade”.
Nesse mesmo dia ocorreu uma passeata contra terceirização. O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) fez seu trajeto passando justamente na frente da loja, para protestar contra o ato de racismo.
Victor Amatucci, também jornalista livre, ficou infiltrado dentro da loja durante a passagem da manifestação.
A loja, que recebeu instruções da PM para que fechasse sua porta durante o ato, foi alvo de inúmeros gritos de “racistas”. Alguns manifestantes mais exaltados davam tapas nos vidros da loja, deixando o clima por lá bastante tenso.
Assim que a porta foi fechada, a gerente do local ligou para o patrão pedindo instruções. Com feições visivelmente tensas e preocupadas, a todo instante falava para que o jornalista escolhesse logo o que compraria.
Quando confrontada sobre os motivos pelos quais a loja estava sendo chamada de racista, ela desconversava e mostrava um novo modelo de roupas.
Alguns clientes arriscaram um debate sobre o que é terceirização. Uma delas, inclusive, chegou a afirmar que o trabalhador terceirizado não paga impostos, o que considerou uma vantagem.
Trata-se de uma confusão bastante simbólica. A cliente pensa com a cabeça de uma empresa que terceiriza para economizar nos gastos com recursos humanos. A questão é que o funcionário terceirizado também está sob o regime da CLT, pagando exatamente os mesmos impostos. No entanto, pesquisa da DIEESE revela que os terceirizados ganham cerca de 24% menos que um funcionário fora destas condições.
A loja contava, no dia 15 de abril, com cerca de nove funcionários, sendo três seguranças. Destes, apenas um segurança (que ficou para fora da loja durante a passagem dos manifestantes) e uma copeira (que não teria sido vista não fosse o nervosismo dos clientes e o pedido de água por parte de um deles, que permaneceu nos fundos da loja todo o tempo), eram negros.
Insistentes, os gritos de “racistas”, não passaram desapercebidos pelos clientes e funcionários da loja, mas foram convenientemente ignorados, exceto quando um ou outro manifestante batia na vitrine.
Assista ao vídeo abaixo com as intervenções:
Por Maíra Vargas e Victor Amatucci, especial para os #JornalistasLivres
#JornalistasLivres nos indignamos profundamente com a desigualdade racial vigente neste país de maioria afrodescendente que teima em afirmar que “não somos racistas”. Afirmamos a urgência do combate à discriminação racial e social, ao genocídio da população negra, à desumanidade carcerária.” — manifesto #JornalistasLivres.
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Uma correção: Meu filho ficou bem junto comigo o tempo todo. Em nenhum momento me afastei dele.
Oi Jonathan,
Vou alterar o texto!
Abs