O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto {{MTST}} realizou, na última sexta-feira, dia 15 de maio, duas novas ocupações na grande São Paulo. Este blogueiro foi conferir as ações de perto, integrando a equipe dos Jornalistas Livres {{que já soltou matéria sobre o tema aqui}}.
A equipe que estava com este blogueiro chegou com a ação já iniciada. Uma conversa com Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST, precedeu a ação e definiu que nossa equipe seguiria um ônibus em um dos pontos de encontro que estavam espalhados pela região.
Foram quase 40 minutos atrás de um ônibus que levava famílias e muita ansiedade a todos {{ocupantes do ônibus e do carro que o seguia}}.
Sobe, desce, sobe, desce, desce, sobe ladeiras. De repente, um trânsito.
Um carro passa por nós e anuncia “Se eu fosse vocês saía daqui. O MST (sic) está invadindo aí na frente“. Um dos nossos anuncia: acho que é aqui, vou lá. Segundos depois, aviso aos fotógrafos: corre lá, eu sou de texto, posso chegar atrasado. Vou parar o carro.
Desço esbaforido e correndo, máscara de gás e óculos de proteção em mãos {{além do crachá pendurado}}. Tudo certo, “desta vez estou seguro”. Ledo engano.
Como pode-se notar na foto do amigo Zaim {{autor também da foto de capa deste texto}}, a PM empunhava armas de calibre 12. A máscara, acho, não será muito útil caso ele decida apertar o gatilho, lembro de ter pensado.
Um estouro de bomba logo à minha frente. Coloco a máscara já esperando outras bombas. Chego até onde está a PM e os colegas fotógrafos já estão de “câmera em punho”, uma eficiência que fez um dos PMs levar sua calibre 12 para dentro da viatura. Outro ainda permaneceu com uma arma idêntica em mãos.
Sai daí, não vão servir de escudo para eles – me fala um PM.
E onde o senhor gostaria que a imprensa ficasse, para que não atrapalhemos seu trabalho? – pergunto num misto de educação e ironia.
Ok, aí está bom – responde o PM.
“Para eles”, esta foi minha senha. Quem são eles, afinal? Quem são o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto {{e o português que me perdoe, mas não há como usar o singular nesta frase}}, afinal? Obviamente, não é possível definir todas as pessoas do MTST, mas é possível ter uma pequena ideia, a partir de alguns dos que ali estavam.
Cleuma Batista dos Santos, 32 anos {{9 anos de MTST}} está, graças ao movimento, no Bolsa-Aluguel. Já participou de outras 5 ocupações, sempre com a repressão da PM. E por qual motivo está ali? “Já tenho meu cadastro. Estou aqui para dar apoio à ação de hoje e também para que as famílias que chegaram agora não desanimem.”
Cleuma estava entusiasmada, empolgada com tudo que ocorria ali. Estava acompanhada de duas amigas, que também já conseguiram moradia. Tudo pela causa.
Foi exatamente o mesmo caso de Jackson Silva, 23 anos {{5 de MTST}}. Ele também já participou de outras ocupações, tem sua moradia e já foi enfrentado pela PM. “Hoje foi até mais tranquilo“, me revela enquanto abre um buraco no chão para colocar o bambu que dará sustentação à barraca onde seus companheiros passarão a noite.
Josué Rocha, um dos líderes presentes em Embu, nos confidenciou que a PM só “segurou a onda” porque os Jornalistas Livres estavam lá, munidos de repórteres e fotógraf@s. Foi a nossa impressão também.
Acho que todo mundo que precisa de um teto devia invadir. (sic)
Foi assim que Josefa da Conceição, 30 anos, vizinha da ocupação, me respondeu quando perguntei o que ela achava daquilo tudo que estava ocorrendo. Os vizinhos estavam aglomerados no portão da casa quando cheguei para entrevistá-los. Só toparam falar se não houvesse fotógrafos.
Josefa fez parte de um movimento de moradia em Paraisópolis, 11 anos atrás. Chegou a ocupar um terreno com o movimento {{ela não soube dizer qual}} por 2 meses. Depois, houve acordo e uma reintegração de posse, em que parte dos moradores foi cadastrada para ser beneficiários de moradias populares. “Eu não fui porque para ser cadastrada precisava participar das reuniões, ser bem ativa. Como eu trabalhava, não conseguia participar de todas e acabei sem o cadastro.”
Jane Lima {{moradora da mesma casa que Josefa}}, 40 anos, é mais contida no apoio ao MTST. Acha que é preciso verificar antes se o terreno está à toa e completa “Tem uns que estão para entrar, outros estão para bagunçar. É tudo novidade para mim.”
Dos 10 vizinhos com quem conversei, todos, sem exceção, apoiavam a ocupação. Mais do que isso, para responder ao título do artigo, todos se identificavam com o MTST. Podemos dizer que o MTST são o povo? Não ouso afirmar, mas sigo as dicas {{e mantenho o português errado, porque ideologicamente está correto}}.
Mais adiante Márcio {{que não quis dar o sobrenome}} esfrega as mãos tentando amenizar o frio. Márcio tem 32 anos e trabalha há 11 como Guarda Civil de Embu das Artes. Já viu muitas ocupações {{não soube / não quis dizer quantas}}, quase sempre com conflito entre a PM e as famílias {{outro termo que pode responder ao título?}}.
Eu acho que tem muita gente precisando de um teto. A luta é justa. Só acho que, nesse caso específico, conheço o dono, é um cara legal.
O responsável pela operação, pelo lado da PM, é um sujeito que parece mais ou menos equilibrado. Foi quem segurou o ímpeto dos demais PMs, assim que chegou. Foi elogiado por Natália Szermeta, outra liderança local. Ela citava que ele chegou com a postura correta, enquanto os colegas de corporação foram agressivos.
O tenente, cujo nome este blogueiro pede desculpas mas não perguntou, respondeu que antes as viaturas estavam cercadas, por isso a agressividade. E eu concluí que até pode ser, mas as câmeras d@s fotógraf@s também ajudam a acalmar qualquer PM. O tenente se mostrou contrário à ação do MTST: “Eu sou a favor da lei e isso é ilegal”.
Na verdade, não é. A constituição é clara {{já diria o irmão advogado de Arnaldo César Coelho}}:
Constituição Federal de 1988 em seu artigo 182, § 2º, expressa: A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
O terreno, nos contou Guilherme Boulos, é uma ZEIS {{Zona Especial de Interesse Social}} e não cumpre sua função.
Termino o dia comendo não um, mas três X-Saladas. E enquanto como como se não houvesse amanhã, Viviane Ávila {{outra repórter dos Jornalistas Livres}} aproveita para entrevistar Ailton Rocha dos Santos, 37 anos, chapeiro e também membro {{UEPA!!}} do MTST. Ele faz parte do movimento há quase dez anos. Conseguiu sua casa graças ao MTST: “Agora além de ajudar no movimento eu faço lanches nos ‘eventos’ “.
E quem são, afinal, o MTST?
A única conclusão que me permito pensar é que somos todos nós. Sou eu e os Jornalistas Livres, frente a frente com duas calibre 12. É o chapeiro que me salvou da fome. É a vizinha que apoia com ressalvas. É a vizinha que apoia incondicionalmente. É o povo, ouso agora a afirmar, no significado primeiro da palavra.
Achei esta reportagem muito rica em detalhes
Obrigada
Participei muito das reuniões aos domingos para conseguir um teto mas nunca pude me dar ao luxo de faltar no trabalho pra ficar nos roles, nem pra invadir prédios, nem pra ir a Brasília achacar os caras. Mas conheci muita gente que sempre teve tempo disponível pra isso e ganhou a tão sonhada residência algumas vezes…
achei a reportagem muito ruim!
precisa dizer:
quem financia? quem apoia?
como descobrem os terrenos e predios?
eles ja analisaram a situacao especifica de um terreno ou predio?
ja pensaram em encaminhar as pessoas para outras cidades, estados?
ensinam educacao para o trabalho e educacao financeira para as pessoas?
(eu nao considero JORNALISTAS LIVRES jornalismo, mais um braço da esquerda… dessa vez mal disfarcado)
“Paulistana”,
O blog não faz mais parte dos Jornalistas Livres.
No mais, as críticas são pertinentes.
Abs