2015. São Paulo.
O Secretário de Direitos Humanos da Cidade de São Paulo, Eduardo Suplicy, recebeu em seu gabinete, recentemente, uma comissão brasileira que acabou de voltar do Oriente Médio. De um lado da mesa, uma comitiva aflita para contar o que viu e ouviu. Do outro, um Secretário atento, mas com pouco tempo para tratar de algo tão… pontual.
A comitiva começou contando a história de Islã Hamed, cidadão brasileiro de 30 anos que está preso pela Autoridade Palestina e em uma greve de fome que já perdura quase um mês.
~~Pausa para aquela aula de geopolítica que não cai no vestibular~~
1948, África do Sul, Oriente Médio.
Adota-se, na África do Sul, o regime de Apartheid segregando negros e brancos. No mesmo ano, em uma região conhecida como Oriente Médio, uma resolução da ONU decide partilhar 25% da parte ocidental da Palestina. A ideia era que o local fosse dividido entre judeus e palestinos. O acordo gerou guerra. Israel venceu e ficou com um território maior do que o decidido na resolução. Disso, todo mundo sabe.
A resolução da ONU ignorou que seres humanos viviam na parte destinada a Israel, que devastou parte da população que lá estava e exilou cerca de 700 mil palestinos de suas próprias casas. O Apartheid ignorou que negros, são seres humanos. Isso, todo mundo sabe.
O Apartheid gerou muitas vítimas e pelo menos um herói, admirado por quase todos os campos políticos no mundo. Nelson Mandela, falecido em 2013, sacrificou parte de sua vida em uma prisão. Entretanto, o Oriente Médio ainda vive suas guerras, seus massacres. Alguém não sabe disso?
Nem a paz alcançou o Oriente Médio, nem o racismo acabou. Isso, todo mundo sabe.
Todo mundo sabe, mas poucos se lembram.
Lança da Nação e o Hamas
Mandela ficou preso por 27 anos contados desde sua prisão em 1962, graças a ajuda da CIA {{não acredite em mim – New York Times}}. Essa parte da história, todo mundo sabe.
O que pouca gente sabe é que, antes, Mandela foi líder de um braço armado da luta contra o Apartheid. A Lança de uma Nação, segundo o próprio Mandela, deveria ser o braço armado de uma organização política.
Na Palestina, o Hamas também é um partido político com seu braço armado. Ele é considerado uma organização terrorista por Israel, União Europeia e EUA {{da mesma CIA que prendeu Mandela}}, mas não apenas estes. Disso, todo mundo tem certeza.
~~Fim da Pausa para aquela aula de geopolítica que não cai no vestibular~~
Voltando a São Paulo, Aline Backer contou de seu primo. Islã Hamed, membro do Hamas, foi preso a primeira vez com 17 anos, por ter jogado pedra em um soldado israelense. Este crime lhe rendeu 5 anos de prisão. Depois, permaneceu em liberdade {{?}} por 9 meses e voltou a ser preso na prisão administrativa {{E, uma vez responsabilizado pela prisão administrativa, você não tem direito a advogado e pode permanecer preso por 6 meses sem nenhuma acusação. Estes 6 meses são renováveis…}}.
A comitiva veio também para pedir auxílio de Eduardo Suplicy para uma possível solução diplomática para a questão de Islã Hamed. O secretário assinou um manifesto e fez questão de ligar para o Ministro de Relações Exteriores. Acabou falando com o diplomata Sérgio Danese, que já estava ciente da situação.
O Apartheid não terminou rapidamente, assim como os massacres, a exclusão e os maus tratos não se encerrarão tão cedo no Oriente Médio.
Islã Hamed não tem nenhuma perspectiva de solução ou liberdade. Pode permanecer preso por mais 14 anos. Pode completar os mesmos 27 anos de prisão. Pode chegar a presidência de um país que ainda não existe. E não será nunca o herói que Mandela se tornou.
O Apartheid Isralense-Palestino não conta com a pressão internacional para que encontre seu fim. Não há, como houve na África do Sul, boicote econômico a Israel. Nenhum sofrimento é passível de comparação, mas a história, ao menos, deveria ensinar.
E isso, todo mundo deveria saber.