A Sonegação de Impostos no Brasil não é novidade para ninguém que tenha mais que 5 centímetros de massa encefálica. Corrupção e hábito endêmico, desde os tempos de D. João, a semi-novidade é o tratamento dado pela ImprenSa.
E como estamos no Brasil, a sonegação já virou marchinha de carnaval:
Dá para contar a história política do país através de marchinhas de carnaval, desde antes de Getúlio Vargas até hoje, as marchinhas sempre contaram essa parte do país de modo, digamos, peculiar. Esta, por exemplo, era um prenúncio da candidatura de Vargas ao 2º mandato {{primeiro de forma democrática}}, em 1950:
Mas deixemos o carnaval de lado um pouquinho {{ei, onde você vai?? É só um pouquinho, dez minutos pombas!!}} para falar de Sonegação fiscal. Que nada mais é do que um termo limpinho e cheiroso para dizer de gente rica que dá calote no governo ou, para ser mais explícito {{UEPA!}} , gente que rouba dinheiro de merenda.
Nenhuma novidade, portanto, da Operação Zelotes existir. Eu sei, eu sei. Nós temos memória curta. Mas o blog lazarento aqui lembra para você.
Zelotes é aquela operação que investiga sonegação fiscal através de suborno dos auditores fiscais, de modo a não pagar a multa para Imposto de Renda e, desta forma, não pagar os impostos que bancariam a dívida do país, a educação, a merenda escolar, as escolas públicas, enfim, essas coisas sem muita importância para quem tem muito dinheiro.
Há alguns poucos nomes sendo investigados, por exemplo a RBS {{afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Sul}}, um tal de Banco Bradesco {{dono do maior lucro da crise – não acredite em mim}}, Banco Safra, Santander e até o campeão em denunciados pela Lava Jato {{que acredite você ou não, não é o PT}} o Partido Progressista.
Os valores sonegados descobertos até aqui são equivalentes aos investigados pela operação Lava Jato, cerca de 20 Bilhões de reais. Mas como não há petistas envolvidos {{isso desconsiderando o patético caso do Iate de 4 mil reais de Lula}}, não há espaço nas manchetes.
Um outro caso quase ficou famoso, o tal SwissLeaks. Lembra da tal lista do HSBC que saiu e o UOL escondeu?
Claro que esconder o nome do seu patrão numa notícia sonegação fiscal pode fazer bem ao seu ordenado. O UOL é do grupo falha folha e seu dono, o tal Frias {{pode fazer trocadilho, tá permitido}} ia por o repórter digamos, numa fria…
É bom dizer que a família Marinho {{dona da Globo e do Globo, da CBN, etc.}} está envolvida nos dois casos. Nenhuma surpresa, portanto, que seu foco seja justamente onde ainda seu nome não foi envolvido. Mas como a família é dona do maior conglomerado de mídia da América Latina, fica difícil um blog imbecil como este dar alguma relevância pra poucos bilhões não pagos ao governo. Mais fácil seria escrever sobre a carga tributária que a rede Bobo quer que nós pensemos que é muito alta. Mais lucrativo, também.
Mas me perdi no contexto da coisa toda, não era sobre as sonegações dos Marinho, o texto. Mas como a imprensa trata as delações de modo, digamos, diferenciado.
Senão vejamos, quando o assunto é José Dirceu, a delação passa incólume, sem nenhuma dose de dúvida ou pé atrás. Por exemplo:
O empresário Pascowitch é apontado como um dos operadores do esquema que beneficiou políticos do PT. Segundo um de seus depoimentos, o ex-ministro teria recebido 400.000 reais como propina da empreiteira Engevix para que a construtora mantivesse contratos com a Petrobras.
{{não acredite em mim – El País}}
além de 1 milhão da Jamp Engenheiros —empresa do lobista e delator Milton Pascowitch, que afirma ter intermediado os negócios entre a empresa de Dirceu e a empreiteira Engevix.
{{não acredite em mim – El País}}
Tá certo, estamos falando daquele que foi nomeado o demônio da República, José Dirceu não tem direito a dúvida para a maior parte dos leitores e consumidores dos produtos Globo {{ e El País}}, mas é comovente como o mesmo fato, uma delação premiada, é tratada quando o assunto é… merenda escolar:
Assim como a Lava Jato, a Alba Branca deve lançar mão das delações premiadas, mas o promotor Romanelli afirma que ainda é cedo para tirar conclusões. “Sem dúvida a delação é uma ferramenta importante para chegar à corrupção no poder público”, afirma. “Mas estamos em uma etapa de confrontar o que disseram nos depoimentos preliminares com os contratos públicos e os documentos apreendidos”.
{{grifos por conta do blog – não acredite em mim – El País}}
Quando o assunto é merenda escolar e os acusados, tucanos… Daí é “olha, veja bem, ainda precisamos confirmar…”. A mesma matéria ignora de maneira linda, transparente {{coisa bonita mesmo…}} um fato, digamos, curioso:
conhecido como Moita, aparece em um grampo telefônico feito pela polícia pedindo dinheiro a integrantes de uma das empresas. Ele foi demitido no último dia 18, na véspera da operação ser deflagrada.
{{grifos por conta do blog – não acredite em mim – El País}}
O governo Estadual tucano certamente teve uma epifania ao demitir um ser que seria delatado no dia seguinte. Nem passa pela cabeça do jornal, do jornalista, do editor, do ombuds(wo)man, de ninguém. É uma coisa linda de deus. Tão incrível quanto o Pádua {{aquele, que o blog mostrou que já estava envolvido em esquemas de transporte escolar}} ser demitido no dia seguinte de ter sido citado na mesma operação, sem nenhum questionamento. Daí é tudo ok, tudo válido, tudo pode.
A conclusão que se chega é a de que se você é produtor de conteúdo mainstream sonegar imposto é algo que faz parte da vida. Dá-se uma notinha aqui e outra acolá, esconde-se o assunto, esquece-se e fim de papo. Mas se você tem alguma relação com quem deflagrou essas operações, se você ajudou o governo a se manter no poder, seja por meios lícitos ou ilícitos, então você é inimigo da sonegação da mídia, portanto deve ser preso antes que qualquer comprovação das delações sejam comprovadas.
Pelo bem do país.
A ideia absurda de que as delações, todas, deveriam ser comprovadas antes das divulgações ficam apenas para os sonhadores de uma democracia que já existe há tempo demais. E a vida segue seu rumo.
Em tempo, os créditos da foto em destaque: Carlos Severo/ Fotos Públicas.