Eram 8 horas e 29 minutos da manhã da quarta-feira {{7 de dezembro}} quando Mônica Bergamo, jornalista da folha, tuitou em seu perfil pessoal: “Acordo c STF pode salvar Renan com 5 de 9 votos. Negociações, no entanto, prosseguem”. A jornalista não apenas informou o país de um acordo político num julgamento judiciário, como deu nome aos bois.
As pessoas, como sempre, se atentam aos detalhes, como o resultado do julgamento. Sim, é absurdo o Supremo Tribunal Federal a olhos vistos decidir que o que vale para Eduardo Cunha não vale para Renan Calheiros. Mas é mais absurdo que a decisão do julgamento seja fruto de uma negociação entre o julgado e os juízes fora da esfera judiciária.
O fator primordial para a manutenção de Renan Calheiros é a pressa que a elite financeira tem de aprovar a PEC 241, que virou PEC 55 e foi chamada pela esquerda-cirandeira de PEC do Fim do Mundo. Em realidade é a PEC da fome, mesmo.
Congelar os gastos por 20 anos para a solução de uma crise é algo nunca feito em lugar nenhum do mundo. O desemprego crescente, que é a desculpa para a PEC é, na verdade, exatamente o objetivo do governo plutocrata {{que chama assim não porque é feito de plutos, mas por considerar você um ou uma pateta}}.
A conta é simples: mais desemprego, mais trabalhador na fila de espera. Quanto mais trabalhador esperando uma vaga menos você pede aumento ou briga por seus direitos. Basta que tenha algum emprego e você já estará feliz. E daí o lucro aumenta.
Para o lucro aumentar o salário precisa diminuir. Quebrar a fórmula automática de crescimento real, imposta por Dilma, é uma das ferramentas para a solução do caso. Mas o povo poderia reclamar. Então joga a crise, aumenta o desemprego, cria um caos econômico e você não vai reclamar da falta de aumento porque “graças a deus tenho um emprego”. E assim o país retorna no tempo uns 20 anos.
Mas é pouco. A nova fórmula previdenciária – aprovada em tempo recorde {{não acredite em mim – folha}} – aumenta o tempo de contribuição para 49 anos. Aí o UOL, meio de comunicação dessa mesma elite financeira resolve mostrar como é simples se aposentar com as novas regras e faz o seguinte:
Por exemplo, se uma mulher tem 50 anos de idade e 35 anos de contribuição,
ela já pode se aposentar segundo a fórmula (50+35=85)
{{não acredite em mim – UOL}}
Notou o que foi que o UOL fez? “Uma mulher com 50 anos tiver 35 anos de contribuição” ou seja, uma mulher que começou a contribuir com a previdência aos 15 anos de idade e jamais ficou desempregada durante toda a sua vida, um exemplo corriqueiro, sem dúvidas.
Todo brasileirinho e brasileirinha começa a trabalhar com carteira assinada aos 15 anos mesmo. Ficar desempregada ao longo de 35 anos de trabalho? Jamais. É um modelo ótimo, sem dúvidas.
Mas, ei, não se preocupe, esse modelo vale só até 2018. Depois disso piora bem. Passa a ser 90 / 100 em 2027. É que tá longe, não precisamos mesmo nos preocupar…
Mas de novo, você está perdendo o objetivo final. A ideia não é apenas inviabilizar a aposentadoria estatal, a ideia é promover a previdência privada, dando lucro àquela elite financeira, que salvou Renan, porque ele tem uma missão a cumprir, ainda.
O resultado é imprevisível, mas não surpreendente, basta ver o que houve no Chile, por exemplo.
O foco é sempre, a todo custo, tirar seu foco. É por isso que se aprova a PEC no dia da tragédia do avião da Chapecoense. E é por isso que enquanto você ficava indignad@ com a absolvição de Renan, o Congresso tratava de aprovar a Medida Provisória que reforma a educação.
E não se pode perder tempo discutindo a completa ausência de diálogo em uma reforma que trate justamente do que mais precisa de diálogo, que é a educação. Não dá, porque destruir direitos e estruturas civilizatórias é tarefa que precisa ter fim rápido. Antes que o povo acorde e pense em dizer não.
É por isso que é medida provisória, não projeto de lei. E o que diz a Medida Provisória, cujos resultados são bastante permanentes?
Para dar aulas, não precisa formação em área pedagógica ou afim. Diz o artigo 61: “profissionais com notório saber reconhecido pelos respectivos sistemas de ensino para ministrar conteúdos de áreas afins à sua formação”. Notório saber. A saber, o Ministério da Educação teve como primeira visita “técnica”:
O § 2º do art. 6º da MP é claro: “A transferência de recursos será realizada anualmente, a partir de valor único por aluno, respeitada a disponibilidade orçamentária para atendimento, a ser definida por ato do Ministro de Estado da Educação.” (grifo nosso) {{não acredite em mim – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE – PDF}}
O que significa que não é mínimo estipulado pela lei. Quando melhor couber, cortam-se gastos da educação. E como educação sem gastos não fica boa do nada, o objetivo real, novamente é mostrado. Diz o artigo da CNTE que “admite-se o repasse de parte da ajuda federal aos estados para pagamento de bolsas de estudo na rede privada”.
E então ficamos assim: nesta crise começamos a privatizar o ensino, na próxima terminamos de privatizar. E na outra, quiçá, cortamos as bolsas, deixando de ter qualquer braço do Estado brasileiro na educação. E há quem vá comemorar o fato, temendo influências comunistas.
Mas não é tudo, a agenda da Ponte para o Futuro ainda inclui a flexibilização da CLT. O pré-sal já está sendo doado às petroleiras estrangeiras, longe da corrupção nacional, como quer o discurso midiático.
Enquanto tudo isso ocorre, nosso bravo senador Viana assina documento que permite ao Renan o acórdão {{ou seria acordão ?}} no STF, temendo represálias de um sistema judiciário que já não se preocupa com a carta magna e de uma mídia que claramente sabe o que quer. Parte da esquerda segue afirmando que tudo isso é culpa da conciliação de classes promovida pelo PT {{ainda que não consigam explicar porque Dilma caiu, se houve conciliação}} e parte crê, como uma criança no papai noel, que a fundação do partido “Frente Brasil Popular” solucionará todos os problemas.
Como se mudar o rótulo bastasse para que o gosto do refrigerante mudasse na boca do freguês. Ignorando tudo que ainda representa o Partido dos Trabalhadores, apesar de tantos e tantos erros, haja visto Mariana (MG).
Mas faz parte, o barco precisa mesmo afundar para que possa passar por debaixo dessa ponte quebrada. E a população segue à risca a palavra dos filósofos de outrora:
Brasileiros pós-ditadura
Ainda se encontram em estado de coma semi-profundo
E um dos sintomas mais visíveis é a falta de percepção
Acariciam um lobo
Achando que é o seu animal de estimação
Não conseguem diferenciar
Banqueiros de bancários
Mega traficantes de meros funcionários
E assim permanecem estagnados
Quando não regredidos enquanto o comando delta
Tem cada vez mais motivos pra permanecer sorrindo.