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O PT passou, no último domingo (9 de abril) pelo seu processo de eleições internas. Cerca de 12 mil votos válidos foram contabilizados na cidade de São Paulo, com a reeleição de Paulo Fiorillo para a Presidência Municipal, com 7.844 votos, Juliana Cardoso obteve 5.034.

Nem PED nem Congresso são capazes, no entanto, de mudar as estruturas de um partido que fez muito pelo país, cresceu muito mais do que se imaginava e viu novos tempos chegarem sem saber bem como lidar com a nova realidade.

Nas eleições municipais deste ano, de um lado havia Paulo Fiorillo, do outro Juliana Cardoso. Talvez em um primeiro momento, pareça que a ideia é “fulanizar” o debate acerca das eleições municipais. Mas não, não se trata disso.

Tanto Juliana quanto Fiorillo, gostemos mais desta ou daquele, são pessoas honestas e com vontade real de colocar o partido para andar, bem como suas bases e a militância como um todo, que sempre esteve nas ruas mesmo que, na prática, raramente tenha espaços de fala concretos dentro do PT.



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Mudemos, pois, o foco do artigo.

Cerca de um ano atrás, um dirigente me proibiu de deixar alguns exemplares de “lambes” {{folhas impressas feitas para colar em postes e muros}} em um Diretório petista, por considerá-los muito “agressivos” – o conteúdo dos textos eram frases contra Eduardo Cunha e parte da Câmara de Deputados {{sem xingos ou palavras de baixo calão}}, então ainda se gritava em alto e bom som “Não vai ter golpe”.

Em 2013, outr@ dirigente foi responsável pela decisão trágica de mandar publicamente a militância ir às ruas com bandeiras do PT na última passeata das jornadas de junho de 2013. A juventude do partido já estava nas ruas muito antes e a decisão errada, ocasionou em sérios confrontos nas ruas.

Desde os anos 2000, a internet nos possibilitou, dizem os estudiosos, viver uma revolução. À época chamávamos a este processo de “internet 2.0”, trazendo conhecidas mudanças na interação entre leitores em tempo real. Mas o fato concreto é que essa mudança não permaneceu apenas nas redes.

A lógica das coisas mudou. Ninguém mais aceita ouvir sem poder dizer, de fato, e saber que o que foi dito inicialmente sofreu influências do interlocutor. Boa parte da crise política que corre em tempos de MBL e Bolsonaro são frutos do mal entendimento dessa lógica, ainda que não apenas dela.

O problema é que um partido com quase dois milhões de filiados e filiadas não está preparado para ouvir essa gente toda. A influência da militância nas decisões depende mais de bom senso e de figurões do que da militância. O país avançou para o 3.0 e a os partidos, inclusive o PT, ainda se comportam como na internet pré-blogs.

Outro dia, num debate entre chapas de um diretório zonal em São Paulo, uma militante da CNB abriu seu celular e comemorou efusivamente a escolha de Gleisi para concorrer à presidência nacional do partido. Eu, que não tenho corrente nenhuma, só conseguia pensar no absurdo que me pareceu ela – militante ativa – não ter direito a voto por razões burocráticas, ou direito a opiniões, resmungos que fossem. E não vamos cair na armadilha de achar que o problema se restringe à CNB. As demais correntes seguem esta mesma lógica.

É óbvio, não me entenda mal, que as correntes são parte fundamental de um partido que se pretende plural. É óbvio que elas cumprem um papel ideológico, acima de disputas de espaço. Mas também me parece óbvio que a disputa ideológica precisa de mais destaque.

Não é possível que um congresso ou um PED tenham debates onde 99% dos participantes já sabem em quem votarão, porque a corrente X, Y ou Z já definiu suas bases. A lógica de um debate é ver pessoas mudando de opinião.

É preciso entender que o funcionamento das correntes precisa mudar. A juventude do partido não pode ser eleita porque a corrente X é majoritária em tal estado ou cidade, especialmente quando as correntes decidem internamente suas posições. A juventude, por óbvio, terá sempre menos voz, menos espaços e mais tendência a ser “tratorada”. Com isso, os mais espertos fazem o que manda a lei da sobrevivência: obedecem.

As eleições internas do PT, arrisco, são o maior patrimônio de um partido tão grande. Mas sem mudanças reais, nesta lógica de funcionamento, passarão a ser apenas um instrumento burocrático. Não adianta mudar de PED {{com seus eleitores fantasmas em tantas cidades do país}} para Congresso {{com eleitores reais, mas com ideologias fantasmas}}. O problema permanecerá o mesmo.

Mais do que PED ou de Congresso, o PT precisa de gente real, com pensamento real e espaço real. Sem gente, não há sociedade. Menos ainda um partido.

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