Demitido na última sexta-feira (17/01) após a divulgação de um vídeo onde interpreta o ministro da propaganda nazista Josph Goebbels, Roberto Alvim – diretor teatral e dramaturgo – teria escrito em mensagens do whatsapp que “desconfia de ação satânica” em todo o episódio. O vídeo e a proximidade com o nazismo chocaram o mundo e até mesmo a direita brasileira.
É claro que uma referência nazista, usada de forma aberta e explícita, assusta. Mas e o resto todo? Por qual razão a imprensa não ficou chocada com o governo?
Autoritarismo
Em plena campanha eleitoral Bolsonaro subiu em um caminhão e afirmou: “Vamos fuzilar a petralhada”. Isso não foi motivo de choque para a revista Exame, que poupou Bolsonaro de qualquer crítica em uma matéria isenta {{dá para ficar isento quanto ao nazismo? E quanto ao fascismo, dá?}}:
E foi só o que a revista publicou sobre o tema. Um mero relato do que houve e a vontade de processar por parte do PT. Já com o ministro nazista, a revista publicou 5 matérias, dando a devida relevância a um ministro brasileiro, que concorda com o nazismo.
Ou seja, candidato à presidência ameaçar fuzilar os adversários políticos é tratado como normal. Imitar ministro nazista, coisa grave. Ora, e porque razão o nazismo é tão repudiado, senão pelo seu autoritarismo, senão pela vontade de fuzilar/matar seus adversários, em especial os judeus?
Citamos a revista Exame por mero acaso, o mesmo se deu em toda a mídia nacional. A narrativa sempre procurou – e procura ainda – igualar petistas e Bolsonaro, como se ambos fossem igualmente autoritários e radicais. Esquecendo-se, não por acaso (mas por ideologia), de que o petismo reagiu ao maior momento de efervescência social no período pós-ditadura – junho de 2013 – sem dar qualquer sinal, declaração ou apontar uma direção autoritária. Ao contrário, seguiu-se um país livre e democrático.
Bolsonaro passou a vida exaltando o regime ditatorial cívico-militar pelo qual o Brasil passou em 1964, sem qualquer aborrecimento público ou constrangimento por parte da mesma imprensa que se choca com um ministro nazista.
Mais que isso, a tática bolsonarista sempre foi inspirada na tática nazista. A criação de um inimigo não-nacional, que foge à humanização e, portanto, não deve ser tratado como seres humanos. Foi assim que Goebbels contrapôs o alemão aos judeus, facilitando o holocausto, tornando-o palatável, digamos assim. Era de se supor que a mesma tática propagandista não funcionasse num mundo pós-holocausto. Não é o caso.
“A minha bandeira jamais será vermelha”, a construção de uma ameaça comunista absolutamente irreal, são apenas alguns dos fatos que unem a propaganda bolsonarista à propaganda nazista. Qual o choque, afinal, com o vídeo de Alvim ?
Editoriais
É preciso lembrar que os grandes jornais fazem ainda seu papel ao tornar palatável o discurso autoritário de quem elogia figuras como Ustra – conhecido torturador – e diz que a ditadura matou pouco.
Igualar Fernando Haddad ou mesmo Lula ao autoritarismo proposto por Bolsonaro nada mais é do que normalizar uma figura que nunca se colocou como democrática. Enquanto Haddad foi prefeito de São Paulo e lidou com inúmeras manifestações, incluindo junho de 2013, sem qualquer sinal guinada a um autoritarismo, o outro sempre destratou jornalistas e afirmou seu racismo e sua afinidade a projetos de poder autoritários.
Afinal de contas, Ustra é melhor que Goebbels? Bolsonaro e seus ministros são o resultado prático da imagem que construíram ao longo de mais de 20 anos de vida pública. A proximidade com o fascismo não é nova, só talvez o descortinar da hipocrisia midiática brasileira é que seja novidade. E pensando bem, não é.
A mesma imprensa que se choca com o nazismo de quem afirma concordar com o texto de Goebbels finge não ver o autoritarismo proposto por Sérgio Moro no pacote anticrime – amplamente derrotado e modificado. A mesma mídia que se choca com Alvim é a que ajuda a manter o inimigo comum vivo na figura do PT e qualquer coisa que se afirme de esquerda.
A nossa imprensa se não é nazista, passa um belo pano aos nazistas do governo. E isso não é pouca coisa.