Inicio este pequeno texto pontuando duas coisas:
1º As mortes porAIDS no país não diminuíram por igual em todos os segmentos da população:alguns morrem mais que outros e isto está intimamente ligado ao acesso e possibilidadede atendimento.
Vivemos num país homofóbico (as estatísticas mostram quesomos o país com maior número de assassinatos por homofobia do mundo) e preconceituoso onde Estado e Religião estão longe de serInstituições independentes. Aqui para jovens gays e travestis o atendimentodepende do ACOLHIMENTO, o que vale dizer, da reação da pessoa concreta que estána porta de entrada do Sistema Único de Saúde.
2º A AIDS cresce vertiginosamente entre apopulação jovem homossexual. Os dados demonstram isto e já há algum tempo. Istoacontece entre outros fatores não menos importantes, pelo fato de que aprevenção das DST e AIDS passa também pelo ACESSO a todas as formas de informação e CONDIÇÕES derealizá-la.
Grande parte da vulnerabilidade do jovem gay reside no fatode que ele não consegue SER entre os seus pares, não vê possibilidade deaceitação ao revelar sua orientação sexual, vive no anonimato da sua sexualidade,não tem escuta e, na idade onde o pertencimento é crucial, não se vêpertencendo a lugar nenhum (falo aqui de apenas alguns aspectos pois a questãoé muito maior e mais complexa)
Numa sociedade predominantemente (ou melhor, socialmenteinstituída de predominância) heterossexual (quem é que acordou um dia e decidiu “optar “ pela heterossexualidade aoinvés da homossexualidade e vice e versa?); a ESCOLA é um espaço privilegiado para a implementação deprogramas e projetos de Prevenção porque entre outras razões é ainstituição cuja meta e objetivo são a “formação do educando para o exercícioda cidadania na direção de uma sociedade mais justa ”.
Dessa forma o projeto “Escola sem homofobia” – cuja origemse deu em 2003 no escopo do projeto Saúde e Prevenção nas escolas – vem deencontro a necessidade urgente de se diminuir a vulnerabilidade do jovem e ou adolescente gay (embora o projeto tenhaobjetivos mais amplos que este) namedida em que além de aumentar o grau de informação à respeito da ORIENTAÇÃOSEXUAL , contribui para a diminuição dos pré – conceitos a respeito da homossexualidade .
O direito do Governo Federal de rever, adequar,ajustar , um material antes de distribuí-lo é justo, normal e não causariaceleuma. O que causou perplexidade, revolta e decepção foi a alegação dada para isto : ao dizer que o “governo não fará propagandade uma opção sexual” a Presidentareproduziu o argumento utilizado pelo setor mais reacionário, homofóbico e preconceituoso dopaís e utilizado até hoje para tambémbarrar QUALQUER INICIATIVA DE DISCUSSÃO NAS ESCOLAS DE PROJETOS ABORDANDO EDUCAÇÃO SEXUAL POIS, INCENTIVARIAM (OS) AS ADOLESCENTES E JOVENS A FAZER SEXO PRECOCEMENTE!
A utilização deste argumento fortalece este setor e istosim, estimula o preconceito e adiscriminação ao tempo em que fragiliza o campo democrático e seus atores .
O recuo do Governo Federal, expresso nestas palavras,condena a morte centenas de jovens dopaís, os mesmos a quem se quer dar “AEDUCAÇÃO DE QUALIDADE “ .
Um governante não pode se dar ao luxo de ser mal assessoradoem questões tão sensíveis: não estamos mais na campanha eleitoral onde frasesinfelizes são colocadas na conta da necessidade eleitoral, no contexto da campanha. Agora é vida real, e na vidareal, feridas deixam marcas, a história cobra o preço e vidas são perdidas – inexoravelmente!
Escrevo na certeza de que o apoio ao governo precisapassar quando em vez , pelo papel de “grilo falante ”
Viva a vida que ela é urgente !
Teresinha Pinto é biomédica, pedagoga, autora do livro: “Educação Preventiva: Teoria e Prática” e ex-consultora da UNESCO