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Era ainda final de 2015 quando o governador Geraldo Alckmin decide anunciar em conjunto com o prefeito Fernando Haddad, através da grande mídia, o aumento das tarifas do transporte metropolitano da cidade de São Paulo. O Movimento Passe Livre vai às ruas e a PM reprime violentamente. O roteiro, já conhecido por quem viveu o ano de 2013, tem cheiro de remake, mas a situação é a mesma?!

 

Em 2013, o pobre editor deste mais pobre bloguinho estava , por um completo acaso, no morro do Vidigal, Rio de Janeiro, quando no morro ao lado um tal Amarildo simplesmente sumiu na Unidade de Polícia Pacificadora da favela da Rocinha.  Era tempo de manifestações pelo Passe Livre, também.

Na postagem Sobre Vândalos, Ostrogodos, Visigodos e PM eu expliquei porque me parece tão irreal esperar a paz de quem sempre ganhou porrada e guerra. Mas – e por isso peço perdão – ainda não é chegado o momento de tocar nesse assunto.

A discussão do momento é, como era inicialmente em 2013, se é possível pagar R$3,8 . Se é possível ter tarifa zero para se locomover pelas metrópoles. Se o aumento do motorista é que impede a redução da tarifa. Ou ainda se o passe livre é coisa que se pode, quando eliminamos os malvados dos empresários.



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Primeiro é preciso esclarecer o óbvio a respeito do Passe Livre: Nenhum ser humano racional acha que isso pode ser implementado hoje, amanhã ou no final do mês. Isso até o papa sabe.

Outro ponto que deveria ser óbvio, mas o Movimento Passe Livre parece ignorar são os avanços nas políticas municipais em direção ao Passe Livre {{que por sinal sempre foi uma bandeira histórica do Pluto Pateta Mickey do PT, bem antes do MPL resolver dar o ar da graça}}: passe livre estudantil, isenção aos desempregados, manutenção da tarifa para o bilhete único mensal…

Claro que é pouco, óbvio que há problemas não resolvidos nessa brincadeira. Estudante, por exemplo, tem sua isenção apenas no período escolar e apenas para ir às aulas. E tendo a isenção de 48 viagens por mês não há sentido em comprar o bilhete mensal, portanto, para ir ao cinema, show, hospital ou visitar a vovó terá mesmo que pagar os maledetos R$3,80.

Mas esse pouco está a centenas de anos-luz do queridão governador Bond Bico, que não só não fez nada disso, como ainda coloca a PM para descer o sarrafo em manifestante porque… Porque quer e pode.

A constituição federal, aquele livrinho safado escrito no final da década de 80, fracasso de venda e público, tem lá em seu 5º artigo, inciso XVI:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XVI – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;

Vai daí que Autoridade Competente não é a PM e Aviso Prévio nunca foi divulgar o trajeto. Mas o nosso espião, com a colaboração da mídia, resolveu que dane-se esse livrinho, ninguém nunca leu esse lixo mesmo… Então eles dizem:

Passe Livre deve divulgar trajeto diz PM

{{Passe Livre deve divulgar trajeto, diz blog da PM – não acredite em mim}}

Passe Livre, sem divulgação do trajeto é igual a porrada

{{Passe Livre, sem divulgação do trajeto é igual a porrada, diz Secretário de Segurança Pública – não acredite em mim}}

O tal livrinho está mesmo ultrapassado… É o típico caso de lei que não pegou, no caso uma das mais fundamentais, mas o governador passa ileso sobre o tema.

Pois bem, eis que então o Movimento Passe Livre resolve divulgar o trajeto… E aí sim, fomos surpreendidos novamente:

Passe Livre é proibido de circular pela PM

{{Movimento Passe Livre divulga ato e ganha um não como presente – não acredite em mim – Estadão}}

A desculpa para a proibição – ilegal – é a de que outro ato estava no trajeto. Pois bem, o ato em questão era de motoristas de Vans Escolares, que chegaram ao Viaduto do Chá por volta das 9h e saíram por volta das 18h {{não acredite em mim – folha de São Paulo}}.

O ato do Movimento Passe Livre estava marcado para as 17h. Ou seja, a se considerar o óbvio, que manifestação nenhuma é mágica e aparece de surpresa, bastaria a SSP dizer ao MPL que ela teria de ocorrer a partir das 18h. O que, cá para nós nem precisava ser dito, o ato chegou ao local do impasse {{palavra bonita para dizer que o ato foi proibido em ação ilegal da PM}} às…

Por volta das 21h35, depois de longo impasse na Praça da República, no Centro de São Paulo, os manifestantes fizeram contagem regressiva para avançar diante do cordão de bloqueio de policiais

{{não acredite em mim – G1}}

E o prefeito que não se contenta em ser chamado de fascista pela santa ingenuidade do MPL, que prefere fingir não saber quem é que controla a PM, resolve ganhar as manchetes com uma declaração {{com o perdão do trocadilho}} digna do Pateta:

Haddad disse ainda que há “outras coisas que poderiam vir à frente” do passe livre, como almoços grátis e uma viagem à Disney.

{{não acredite em mim – Estadão}}

O fundo do caldo todo é uma despolitização que serve apenas ao nosso glorioso Espião Cristão, chefe da tribo da PM.

A Polícia Militar finge desconhecer a constituição e desce o sarrafo. O MPL finge desconhecer o pacto federativo e acusa Haddad. E Haddad, único a perder de verdade com tudo isso, finge não entender o propósito das manifestações e manda tudo à merda Disney.

A situação está longe de ganhar o caldo que ganhou em 2013, mas o óbvio, o básico disso tudo é que o MPL cresce no fermento de bombas de gás lacrimogênio e carinho da PM. O governador não está nem aí porque é blindado {{mais que os tanques comprados de Israel por módicos 5 milhões de reais}} pelo movimento e pela imprensa.

O racional, que é discutir avanços e retrocessos é deixado de lado tanto por parte de petistas {{a Juventude do PT esteve nos atos e divulgou notanão acredite em mim}} – preocupados com a eleição municipal – que chamam de ingênuos os que vão às ruas mas são favoráveis ao prefeito; como pelos manifestantes e, veja só, pelo próprio prefeito.

É preciso questionar o motivo pelo qual o governo do Estado de São Paulo não isenta estudantes para ônibus intermunicipais, metrô e CPTM. Como também é preciso discutir a isenção da juventude para o período de férias. Como é preciso questionar o comportamento obviamente ilegal e truculento da Polícia Militar.

É preciso entender que o trabalhador que recebe Vale Transporte não está abarcado no Bilhete Mensal, como não estão os estudantes. E é preciso lembrar que a política de Passe Livre é um caminho de longo prazo.

É preciso discutir se a economia dos 9,97% de lucro dos empresários reduziria a passagem, considerando que aumentaria os gastos públicos com motoristas e cobradores {{hoje funcionários dos empresários}}. É preciso discutir quem paga a tarifa, se só o usuário ou se os motoristas e ciclistas não deveriam colaborar mais do que apenas com o subsídio.

Enfim, é preciso sentar e discutir.

Mas, como este blog mesmo já disse, é tempo de esquecer toda a esperança. A infantilidade e hostilidade imperam na política nacional, por que seria diferente na municipal, não é mesmo? A boa notícia fica por conta de Datena, que vai nos pentelhar apenas pela televisão mesmo. A notícia triste é que não o veremos em debates políticos ao vivo, o que seria o auge da chacrinização política e geraria, ao menos, boas risadas.

Vamos dormir com estes barulhos {{de bombas}}.

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