“Mas olhem só vocês, quando derem vez ao morro, toda cidade vai cantar…”
Todos nós ficamos abismados com as tragédias ocorridas no Rio de Janeiro. Muitos de nós concluímos que a culpa é do governo (como tudo na vida) que a tragédia poderia ter sido evitada, que existia um relatório dizendo que a região havia sido um lixão há trinta anos atrás etc.
Tudo isto está, em parte, correto.
É claro que a tragédia poderia ter sido evitada.
É claro que os governantes deveriam saber que aquilo foi um lixão há trinta anos atrás.
Mas é preciso ter em mente que uma coisa não tem nada a ver com a outra.
O terreno não caiu porque há trinta anos foi um lixão. O terreno caiu porque é feito de terra e, como toda a terra, absorveu a água virando barro e desprendeu-se da encosta rolando morro abaixo.
Pelo motivo inverso temos as enchentes ocorridas. O asfalto não absorve a água, acumulando-a em sua superfície e trazendo à tona um problema “moderno”, não há ‘piscinões’ que resolveriam uma megalópole sem terreno permeável. Durma você com este barulho, e lembre-se disso ao xingar [merecidamente] o governo.
Não, isso não é razão para aceitarmos as enchentes como coisa normal. O mundo todo é asfaltado e não é no mundo todo que isso ocorre. Mas deve ser levado em consideração.
É preciso um plano gestor para as cidades que pensem em larga escala e em longo prazo. Algumas coisas ajudam, colocar os rios embaixo da terra para que passem mais carros só atrapalha. Lembrem-se disso quando o próximo gênio sugerir cobrir as marginais aqui em São Paulo…
Mas estava eu a falar do morro do Bumba, onde bumba não há.
Sábado pela manhã, enquanto levava meus cãezinhos à vacinação [não, não foi para H1N1] liguei o rádio e comecei a ouvir o ‘genial’ Flávio Prado [outro dia conto uma história ótima sobre ele] dizendo que os governantes não faziam nada, que eram uns desleixados. Até aí nada de anormal. O que houve de anormal foi a ‘lógica-sem-lógica’ daquele senhor ao soltar a frase:
O governantes não estão nem aí. Sabiam que aquele terreno era um lixão e, ao invés de tirar as pobres pessoas de lá, mandaram água, luz, telefone. E o povo que se dane.
- Os governantes sabiam que ali era um lixão e não fizeram nada.
- Ao invés de tirarem as pobres pessoas de lá…
- Mandaram luz, água, telefone…