No dia 2 de outubro de 1992 dois presos de facções criminosas rivais participavam de um jogo de futebol no pavilhão 9 do Carandiru. Os dois se estranharam durante o jogo e começaram a brigar. A briga foi levada adiante para os corredores do pavilhão e os demais presos resolveram tomar partido de um ou de outro.
O resultado foi uma briga generalizada, com facas e pedaços de pau e ferro. Em meio à confusão os funcionários deixaram o local e avisaram o diretor do presídio de que estava acontecendo uma rebelião. O pavilhão 9 era onde ficavam os novatos do presídio.
“A inexperiência dos que se achavam detidos no 9, entretanto, foi causadora de um erro primário: não fizeram reféns; deixaram os funcionários sair do pavilhão.”
Dráuzio Varella {{não acredite em mim}}
À época tentou-se de toda maneira esconder o ocorrido. Não por acaso as manchetes só chegaram aos jornais no dia 4 de outubro. Não por acaso as eleições haviam ocorrido no dia 3 de outubro. À época não havia redes sociais, ficava mais fácil atrasar as notícias.
O presídio do Carandiru, antes de 1992, já havia passado por diversas rebeliões. Nunca se viu tamanho massacre. E se o tempo que passou ajuda a esquecer também ajuda a compreender melhor o contexto do objeto que se estuda, diriam os historiadores.
Pois bem, dia 2 de outubro de 1992 era véspera de eleição. Não existe data mais imprópria para uma rebelião do que a véspera do dia em que seu partido disputa uma eleição {{certo, Fleury?}}. Mas, já que o fato é dado, o melhor a fazer é encerrar a rebelião o mais breve possível, de modo a reduzir os danos eleitorais {{certo, Fleury?}}.
Então invade-se o local, extermina-se os culpados. Fim da história. Entre uma coisa e outra você nega, tenta despistar a imprensa, enfim, faz o possível para que tudo saia como você ‘não-planejou’ {{não é isso, Fleury?}}.
Mas, seu Caipira safado e maluco, por que demônios citar tanto esse tal Fleury? É perseguição sua??
É. Uma perseguição pessoal. Só que não.
Pois se o comandante das operações era o Comandante Ubiratan, o governador era Fleury. E recuso-me a acreditar que um comandante da PM faria tal invasão, armado ou não, sem a anuência do governador, do secretário de segurança pública, enfim, das autoridades responsáveis.
Sobre isso diz Varella:
Imaginar que a ordem tenha partido do coronel é menosprezar a inteligência alheia: um policial jamais tomaria uma iniciativa daquelas sem consultar seus superiores.
De fato, uma coisa que milico gosta é hierarquia. Então vejamos algumas reportagens à época:
{{Jornal do Brasil, 4 de outubro de 1992}}
{{folha de São Paulo, 4 de outubro de 1992}}
É difícil acreditar que paus e facas sejam motivos para se fuzilar alguém. E, segundo sobrevivente {{no vídeo linkado abaixo}}, preso não é burro. Armado de faca não enfrenta fuzil {{me parece um argumento convincente}}. Os policiais teriam entrado cantando:
“O Choque chegou, vocês pediram, Fleury Mandou” https://t.co/nK5IzjuFwF! Sobre o massacre no Carandiru
— ImprenÇa (@imprenca) 8 de abril de 2013
E o Fleury, afinal, onde estava durante o ocorrido ? Estava em Sorocaba, conforme reportagem da Veja. O interessante é notar algumas coincidências sobre o fato, que coloco abaixo. A reportagem é da revista Veja, na edição de 5 de abril:
{{clica que aumenta}}
Interessante pensar no fato. Qual sinal maior de falta de caráter: Receber um telefonema da Secretaria de Governo e não ficar sabendo da rebelião {{conforme alega Fleury}} ou receber o telefonema e autorizar o massacre? É quase uma escolha de Sofia. Só que ao contrário.
Mais interessante ainda é ver como os fatos transcorreram. O Coronel Ubiratan foi condenado, depois absolvido e depois… Assassinado. Uma pulga manda eu reler a reportagem da Veja. E lá descubro:
Não, não estou afirmando nada. Estou apenas colocando os fatos. Coronel Ubiratan foi mesmo assassinado {{não acredite em mim}}, e, segundo a Veja, disse mesmo que Fleury o traiu.
Espero não morrer por escrever isso.
Hoje, vinte anos depois, o caso começa a ser julgado. Os PMs sentarão no banco dos réus. Nenhum exame de balística foi feito nos detentos mortos, sendo, portanto, impossível identificar quais dos PMs executaram presos. Parece-me injusto condenar todos os PMs pelos crimes, posto que nem todos atiraram. Parece-me injusto não condenar os que atiraram.
Fato é que estavam apenas cumprindo ordens. Ainda que, por ventura, tenham gostado do expediente de matar e tenham exagerado, é simplesmente absurdo considerar que qualquer policial, mesmo os de posto mais alto, tenha tomado a decisão sem consultar o governo do estado. Seja por meio da secretaria, seja diretamente com o governador.
Nenhum agente do estado será condenado. Porque nenhum deles é réu no processo.
O Massacre do Carandiru segue e seguirá impune. E ainda há quem ache que o Engenhão nos cause vergonha internacional.
Mataram pouco, estamos precisando disso agora, matar todo vagabundo que se diz do PCC
Engraçado, “vitao love” que há estudos ligando a origem do PCC justamente a esse massacre…
Tá mal informado, criança…. o PCC é um projeto dos anos 70, implantado pelos vagabundos que hoje vc chama de ex-ministro da casa civil, ex-presidente e de presidanta! Foram esses ordinários que difundiram a tal “justissa çocial” só pra bandido! E todos as “grandes lideranças” desse paizinho medíocre sabe que o chefe do PCC é um certo líder de partido aí de SP. Agora, se seu irmão for morto por um fdp desses na rua, tua cabeça de bagre vai mudar, manolo!
Quem se importa em achar os culpados ? foda-se esse lixos desses presos. bem q poderiam acontecer mais massacres nas cadeias do Brasil…
Olha… A vida de um ser humano é sagrada. Defendo isso.
Mas com certeza não tinha nem um anjinho lá dentro.
E não me venham com papo de desigualdade social, pq eu nasci e me criei em favela, com pessoas fumando, crack e baseado praticamente na frente de casa, vendendo o almoço para comer a janta, e nem por isso me tornei um criminoso.
Sinceramente deveriam se promover mais limpezas. Mas não me entendam mal, não estou falando em matar, pois como disse logo acima a vida de um ser humano é sagrada. Mas expulsem do pais. Se o cara decidiu viver um vida de crime, ele não está em condições de viver em sociedade, e assim como não temos o direito de encarcerar pelo resto da vida um ser humano (tão pouco mata-lo) então nos sobra o exílio.
Coloca dentro de um barco leva até o meio do oceano e volta embora. Deu. Problema resolvido. E comprar um barco com certeza sai bem mais barato do que sustentar um preso a R$ 2.700,00 por mês em um presidio.
Quem comete um delito e vai pra cadeia tem que saber que além da pena está sujeito a ser trucidado pelos próprios colegas ou pela Policia. É uma coisa que pode acontecer e aconteceu. Poderiam não ter cometido o delito.
tinha que invadir os outros pavilhoes.e acabar com a raça deles
Ótima matéria! Parabéns!
É complicada essa questão, o Brasil não é sério. Alguém tem que pagar? Que justiça é essa que o cara que mata com 17 anos e 362 dias e sai ileso. Os presos são considerados sub-raça, e as velhas raposas políticas têm suas mãos beijadas. Tudo errado.