A mais nova derrota do governo federal {{a eleição de Eduardo Cunha}} escancara problemas que quase todo mundo já sabia.
Fundado há 35 anos e mantendo-se no Executivo há 12 {{com prováveis 4 anos mais}}, o Partido dos Trabalhadores contou com a conjuntura histórica para se estabelecer como o principal partido de esquerda da América Latina, um dos principais do mundo. Mas quando terá, de fato, o poder ?
Eduardo Cunha, recém eleito {{em 1º turno}} presidente da Câmara dos Deputados em Brasília, é o exemplo mais recente e, talvez o mais claro, de que estar no governo não é o mesmo que ter o poder.
Eleito com discurso moralista {{daqueles vindos exatamente de quem age de maneira oposta}} de que salvará o congresso de uma censura petista, Eduardo é a mais clara noção de que base aliada está longe de ser uma base confiável e fiel.
O novo presidente é do PMDB e obteve 276 votos, enquanto o candidato petista obteve 136. O terceiro colocado, da oposição teve 100 votos enquanto a alternativa à esquerda para o PT {{ou assim se denominam os psolistas}} obteve incríveis 8 votos.
Para onde correr?
O contraponto necessário é a pressão popular. Ou seria.
Seria porque os partidos que se colocam à esquerda do governo não fazem força para trazer o governo para a esquerda, mas para ganhar o espaço político que é ocupado pelo PT.
Seria porque o PT não soube fazer a briga política e midiática do processo de criminalização que sofreu, sobretudo a partir de 2005, mas que segue se aprofundando. Ouviu calado que era um partido de corruptos e viu mais calado ainda cair seus principais quadros políticos.
Não soube, num primeiro momento, diferenciar partido de governo. Agora, parece, o aprendizado é inevitável.
Qualquer governo democrático do mundo precisa fazer concessões. O Executivo só é capaz de executar qualquer projeto de política pública se o fizer de acordo com outros partidos. Como não há no país nenhum outro partido de esquerda com a presença no legislativo que o PT tem {{o que não é o mesmo que dizer que não há outro partido importante de esquerda}}, esses acordos serão sempre com o que foi chamado de base aliada.
Ou seja, para por em prática qualquer avanço social é preciso dar as mãos para algum partido mais à direita que o PT. O que faz com que o projeto seja menor do que aquele pensado pelo partido originalmente.
É por isso que é fundamental entender a diferença entre Partido e Governo. O Partido deve sempre estar mais à esquerda que o governo. E o governo deve entender as cobranças vindas do partido não como uma traição, mas como uma ajuda para que ele tenha mais liberdade de fazer o que foi planejado inicialmente.
Mas por que na prática isso não acontece?
Podemos colocar na conta da população que elegeu talvez o congresso mais conservador de nossa história. Mas isso não explica porque a população escolheu dessa forma.
Falando apenas do PT, o partido há muito que é dependente dos mandatos.
Pausa para uma historinha divertida {{ou não}}:
Era uma vez um dirigente do Partido dos Tios que são Trabalhadores {{ou PTT*}}. Esse dirigente foi até uma cidade do interior e lá visitou um diretório de um bairro. Ao chegar lá uma breve discussão:
– Vamos por a faixa do vereador Xispirito ou do PTT ?
Rapidamente o dirigente faz o que sua função exige e coloca os pingos nos “is”:
– Mas o diretório é do PTT ou do Xispirito ?
– É do PTT…
– Então vai a faixa do PTT.E quando estava entrando no diretório ele ouve um comentário que não lhe caiu bem
– Mas quem paga o aluguel é o Xispirito…
* História meramente ilustrativa. Nunca houve um partido chamado Partido dos Tios que são Trabalhadores
Fim da pausa para uma historinha divertida {{ou não}}
Pois se quem paga as contas do partido são os mandatos, como os diretórios poderão organizar uma passeata que desagrade ao mandato ? Como pode o partido fazer sua função de partido, se quem lhe banca a estrutura são os eleitos ?
E para que você perca ainda mais o sono:
Quem é que viabiliza as campanhas ? De onde vem o dinheiro ?
Ou o partido começa a recolher contribuições {{obviamente proporcionais à renda de cada filiado}} ou esse ciclo vicioso se manterá. Ou os dirigentes do partido se dão o direito de saírem às ruas, puxando a corda do governo para a esquerda, sem medo de ser feliz; ou assistiremos cada vez mais o partido se tornar governo. E o governo, todos sabemos, tem começo, meio e tem fim.
Ajuda bem se os companheiros do partido que estão no governo não fizerem cara feia cada vez que os companheiros que estão no partido se movimentarem para ajudar o governo a executar os projetos com menos interferência da “base aliada”.
É preciso que os partidos, sobretudo os que compõem com os movimentos sociais, tenham vida financeira independente dos mandatos. Para que possam ter vida política igualmente independente dos eleitos.
Mantendo-se nesse ciclo, cada vez menos o partido terá condições de dialogar com os movimentos sociais. E sem os movimentos sociais não há pressão nenhuma sobre o Congresso. E desta forma, todo poder emanará do dinheiro, ao invés do povo.
Ser governo não é estar no poder. Longe disso.
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