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Há tempos que você ouve cobras e lagartos sobre Cuba. Você nem cogita a possibilidade de visitar Cuba, por achar um país totalitário, abusivo, onde não se pode dizer o que pensa. Há tempos que você está sendo enganado…

A primeira vez que cogitei conhecer Cuba ficou fortemente, em minha cabeça, a sensação de que não se podia visitar um país como este.

De que era impossível.

Quando, finalmente tomei coragem, fui atrás da passagem aérea, descobri que havia hotéis em Cuba. Santa Ignorância Batman, e eu pensando que Cuba era uma coisa indeterminada ali perto da [so called] América.

Fiz uma reserva de 9 dias para o hotel escolhido aqui mesmo, em frente ao computador. E cheguei…



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Mas é claro que o lado bonito de Cuba (no caso de Havana) não é muito interessante de mostrar. É claro, preferimos todos pensar no lado MAU de Cuba. Na falta de liberdade e tudo mais…

Bem, este Caipira que vos escreve, apesar de Caipira, não é assim, tão besta…  E a primeira coisa que eu fiz quando lá cheguei foi escrever uma carta “anônima” para minha própria casa xingando Fidel Castro e Havana.

Escrevi todo o tipo de xingamento sem argumentação, coloquei num envelope e postei. Desta forma eu poderia encerrar de vez a dúvida que tinha em minha cabeça a respeito dos correios cubanos, que, pelo que me disseram, abria as cartas e verificava os conteúdos…

A carta demorou para chegar. Mas chegou lacrada em minha casa… razão pela qual ri do ridículo que era a situação…

Primeira dúvida sanada, portanto.

Internet eu não encontrei. Exceção feita ao meu hotel (onde fiquei por 9 dias antes de ‘mudar’ para a casa de uma cubana), as poucas Lan Houses que encontrei no centro de Havana não funcionavam ou cobravam muito caro.

Depois resolvi conhecer um pouco do cinema, e, acreditem se quiser, estava passando um filme da época da União Soviética. Era um cinema de bairro e o ingresso equivalia à época a 3 centavos de real. Nunca mais encontrei o filme novamente.

Sim, o filme era, obviamente, uma propaganda do regime comunista. Mas não era o único filme em  cartaz. No cinema do centro, maior e mais famoso, estava em cartaz “O Homem Aranha 2”, um filme claramente hollywoodiano.

O filme foi passado na íntegra, sem cortes ou censuras.

Segunda dúvida sanada, portanto.

 

É, pois é, eu tentei fotografar o filme soviético…

Ao passear de noite vi uma rua com prostitutas, não é, portanto o paraíso. Mas temos prostitutas em nosso país também, então não podemos jogar a primeira pedra, certo?

[seja inteligente e perceba que estou falando de pessoas que não gostariam de ser prostitutas e, por esta razão é um defeito o país abrigar essas pessoas, ok? Sem moralismos por aqui…]

É claro que fiz passeios turísticos é claro que conversei com as pessoas, e é mais claro ainda, que houve reclamações quanto ao regime. Mas 99% das pessoas me disseram:

Aqui é ruim, mas lá é pior…
 

Lá era os EUA. Os outros 1% me disseram que queriam ir embora, mas como não conheciam ninguém nos EUA não poderiam sair, já que o regime proíbe a saída de alguém que não tenha casa ou parentes no exterior. Passeios são permitidos, mas para mudar é preciso provar de que você tem onde ir.

É óbvio que considero abusivo qualquer Estado ter o direito de dizer se meus passeios ou mudanças são ou não são permitidos.

Terceira dúvida sanada, portanto.

Mas o tiozinho que carregava a carroça para os turistas no centro, em frente ao capitólio, era formado em química. Perguntei porque ele carregava carroça, se tinha formação:

Ué, porque gosto!

É, pois sim, é obrigatório o curso superior aos cubanos. Mais um ato de falta de liberdade comprovada. Mas este ninguém comenta. Talvez porque a liberdade não seja mesmo a principal discussão por aí afora.

 

Em um dos tantos museus da revolução que visitei havia placas agradecendo Fulgêncio Batista, Ronald Reagan e George Bush (pai) cada um por um motivo.

Como podem ver, segundo o regime, Bush ajudou a consolidar a revolução.

É fácil vermos críticas e mais críticas a respeito de Cuba. É fácil xingar Cuba. Contra Cuba todos têm muita coragem! [confira o link para o Lemos Idéias que inspirou este post].

Mas quando ouço o presidente Lula dizer que não quer e não irá interferir na autonomia cubana por considerar que o povo de lá sabe o que quer, me lembro de uma placa que vi ali no mesmo museu…

 

Os direitos se tomam, não se pedem; se arrancam, não se mendigam.
Foram eles, os cubanos, quem disse. Eu só posso crer que alguém que tirou Fulgêncio Batista do poder é bastante capaz de tirar os irmãos Castro de lá, se assim desejarem.
E fico com uma dúvida à cabeça.
A que preço temos nossa “liberdade”?

Que liberdade tem aquele menino que te pediu uma moeda no farol. Que liberdade tem um músico em nosso democrático país? Um ator? Um pintor?

Podem dizer o que quiserem, não há dúvidas. Mas podem viver do seu trabalho?

Eu vi duas peças criticando Fidel em Havana. Uma dizia aqui é ruim, lá é pior. A outra dizia aqui é ruim, lá é melhor.

Mas as duas estavam lotadas. Segunda e terça-feiras.

Não sei se é preciso escolher entre a nossa falta de liberdade ou a dos cubanos. Mas a questão é muito mais profunda do que simplesmente dizer: Fidel é mau.

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