Vôlei Futuro dá lição contra o preconceito
Pois bem. O tal blogueiro do tal portal no tal post entendeu que a ação da equipe Vôlei Futuro foi nada mais nada menos que um ato de Hipocrisia, pura e simples.
Eu, particularmente, não acho que Rica Perrone seja homofóbico. Acho apenas que ele não se deu conta, como muitos Brasil afora {{ou seria adentro? Sei lá, você pegou o espírito do porco}} do preconceito que foi ali representado.
Vamos aos argumentos do jornalista-esportivo, inicia ele com a retórica padrão daqueles que sabem que não são preconceituosos {{ou que pensam não ser}} atribuindo toda discordância a um radicalismo sem fundamento {{pois é, eu estudei retórica, aí danou-se}}:
Eu sei, é bonito defender causas nobres e que estejam na moda. Sei também que vai pintar ONG pra tudo que é lado me enchendo o saco e interpretando o que eu digo, também, como uma “ofensa” ou “preconceito”. Mas, convenhamos, sem viadagem… já deu né?
O leitor que não se iluda, a resposta mais óbvia {{chamar o blogueiro de homofóbico pelo termo ‘viadagem’}} é a armadilha em que muitos caem e perdem o argumento junto com o respeito. Não, Rica, dessa escapamos…
A questão, continua ele:
Cruzeiro ser punido no Voley porque sua torcida chamou o carinha do outro time de “viado” é a piada do século. Pra mim, é claro. Pra muitos é a “lição de moral” do ano.
Não, não acho que seja “a lição de moral” do ano {{escapei dessa também…}}, mas não considero piada nenhuma os fatos ocorridos. Primeiro porque toda frase tem um contexto, Rica, e o contexto de onde você parece fingir não saber não se limita a uma quadra de vôlei. Sim, porque não são seres que brotam na quadra e de lá não saem, mas seres humanos que moram num país homofóbico. Sim, homofóbico. Eu listei, no post “Brasil: Preconceituoso com orgulho” fontes e dados que comprovam que o Brasil é lider mundial em assassinatos de homossexuais.
É dentro deste país que se encontrava o ginásio. Pessoas nascidas neste país é que gritaram a um jogador homossexual gritos com o intuito de ofender.
Rica Perrone, que de bobo não tem nada, argumenta com um frágil aspecto:
(…)sujeito que nasce negro ou branco não pode ser discriminado pela cor que tem. Racismo é CRIME, é absurdo e não faz sentido.
O que não tem NADA a ver com o fato de eu virar pros meus amigos negros e chama-los, carinhosamente, de “Negão”. Pois assim o Pelé, rei do futebol, se chama, por exemplo.
Como nunca dei ataque por ser chamado de “gordinho” ou “alemão”.
São termos que, goste você ou não, perderam o tom ofensivo. É absolutamente popular, comum, inofensivo.
O problema, finge ele não saber {{ou vai ver não sabe mesmo…}} é que as palavras não tem conotação racista nenhuma, mas o modo como são pronunciadas tem. E quando você chama o teu colega são-paulino de bambi, viado, os dois interlocutores tem exata noção de quais são as suas intenções.
Quando uma torcida adversária grita:
Viado… viado…
Quando apenas um jogador, homossexual, pega na bola {{EPA! }} ela está sim, sendo homofóbica. Como a comparação que o blogueiro faz é com o racismo eu dou logo a letra, de maneira simples e direta:
Rica Perrone, ao encontrar um caixa de banco negro que nunca viu na vida, diria a ele: “Viu, preto, quero pagar essa conta aqui…”
Quero crer que não. E ninguém faria isso porque não sabe como a outra pessoa irá ouvir. No caso de uma torcida adversária é ainda pior, porque o jogador sabe que a intenção é ofender. Caso bem diferente da relação descabida proposta pelo blogueiro:
Onde é que está o processo contra as torcidas que chamaram o Ronaldo de gordo?
Cadê a liga da justiça pra encher o saco quando xingam a mãe do juiz no futebol?
A diferença, Rica, é que ainda não matam gordos toda semana, nem juízes toda semana. Pelo menos não pelo fato deles serem gordos ou juízes. E quando Perrone pergunta se a torcida do Santos foi homofóbica ao gritar apenas para Richarlyson que “viado…viado…” a comparação é válida sim. E a torcida foi homofóbica sim.
Pergunta Perrone:
Me lembro que na Vila Belmiro a torcida do Santos meteu faixas tirando sarro do Richarlyson, que jura não ser gay. No outro dia tinha jornal e principalmente moralista babaca na tv dizendo que o “ato homofobico” da torcida….
Que homofobia se ele é homem???????
Richarlyson pode ser homem, Rica, e ser gay {{aqui ele dirá, com certa razão, que pego no pé, procuro pelo em ovo, ok…}}. Ainda que seja heterossexual {{ainda que seja porque para mim não faz diferença, embora a própria organizada do São Paulo jamais tenha gritado o nome do jogador nos estádios}} o ato de ofensa pelo grito ‘viado…viado…‘ é sim, homofóbico. E a razão, Rica Perrone é que a homofobia vem de quem grita, não de quem é humilhado.
Não acho que tenha sido “a lição de moral do ano”, como sugeriu Perrone {{com toda certeza foi a de marketing}}. Mas é algo que precisa ser aplaudido, especialmente quando feito num país homofóbico como o nosso.
Muito bem desenhado, só não entende quem não quer.
Sou aficcionado por esportes, acho muito bacana e sempre vou aos estádios.
O problema, a meu ver, é que, quando se está no estádio, as pessoas esquecem que ali também é um lugar público, que as criaturas que eles ficam ofendendo o jogo inteiro também são pessoas e que, pior, estão ali fazendo o trabalho deles. Isso envolve respeito, mas mistura com a paixão da torcida e quase nunca dá certo mesmo… Com certeza o desfecho merece aplausos.
Muito bom {e engraçado} o post, parabéns!
Respondendo a RicaPerrone (sem as mesmas aspas que tanto tanto curte usar) :
Não há nenhuma novidade na torcida local chamar o oponente de palavras tão dignas de enobrecimento tais como burro, viado, f.d.p., corno ou ladrão. E nesse mundão de 9 milhões de torcedores onde o rival pode denegrir ou judiar, desde que não vá além do que é merecido (ops, olha eu usando duas palavra que denotam racismo!…espero que você não tenha nenhum negro ou judeu na família. Mas se tiver, acredito que não se chateará), pois assim como você eu acho que o gordo tem que ser mesmo hostilizado por sê-lo! Que emagreça, oras! Ou que reaja e dê um golpe no magricelo que o importuna, como fez o garotinho australiano. Hipotiroidismo não pode ser desculpa pelo descuido com a saúde! É com o nosso dinheiro que esse povo opera no SUS.
Já os juízes realmente precisam de alguém pra defendê-los (boa dica a tua!). Afinal, são tudo f.d.p. mesmo! Só os juízes, porque os árbitros de futebol não precisam de proteção não. Afinal, são ócios do ofício. Ou então, que contratem somente órfãos pra tal função!
Também concordo com você quando diz que racismo é crime. Afinal, está na lei. E qualquer palavra usada de forma carinhosa e aceita como tal não é racismo não. Afinal, quem nunca chamou de uma forma carinhosa um amigo/parente negro de crioulo, macaco, negão, nega, preto ou preta? Pra que chamá-los pelo nome se assim já dá pra classificá-los? E se fosse tão ruim não teria até gente com alguns desses nomes. E como você bem frisou, eles nasceram assim. Fazer o quê, né? Diferente dos gordos. E dos gays. E dos cornos, coitados. Agora, se for corno, gordo, e gay, a única opção aceitável é que não seja negro, porque se o for é ser muito azarado o tal f.d.p.! E nesse caso é melhor fazer igual fizeram na Av. Paulista ou na Paraíba: tacar uma lâmpada fluorescente na cara do gay ou matar a facadas o travesti já caso a culpa por serem assim é exclusivamente deles! Que aceitem o seu fardo! E só pra esclarecer aqueles que talvez contestem, pode fazer isso sim! Não tem lei impedindo xingamento ou qualquer atitude que impeça ou limite a ação do indivíduo por ele ser gay. Resumindo, chamar homossexual de viado/viadinho apontando aquilo que ele já sabe desde que nasceu não é crime, assim com agredi-lo além do verbal (vi isso no site do Bousonaro).
Valeu pelo texto esclarecedor e digno de aplausos!
E se você estiver passando sem querer por uma favela não pacificada do Rio e for chamado de alemão e tratado com hostilidade, aja como você propõe. Afinal, é só provocação. Mas se mesmo assim lhe levarem pro microondas e você não couber, liga não. É só a torcida rival te cortando pra caber.