No dia 23 de maio deste ano, o jornal Folha de São Paulo elegeu a queda do muro de Berlimcomo a principal notícia das suas 30 mil edições.
A imprensa em geral, não se cansa de festejar este feito como o grande momento dahumanidade. A partir daí estaríamos livres da “chaga” do socialismo e a história chegaria aoseu fim. Viveríamos para sempre sobre a égide de um sistema capitalista global e os indivíduospoderiam enfim ser felizes cuidando de seus projetos individuais, enquanto os coletivosficariam a cargo do livre mercado que seria o grande indutor da vida social, livrando-nos daincômoda presença do Estado em nossas vidas.
Pois bem, vivemos nos dias de hoje outro grande momento histórico. Mas este não tem sido devidamente festejado e sequer tem recebido a devida importância nas mídias brasileiras.
Depois da queda do muro de Berlim, vemos hoje a queda do telhado neoliberal na Europa.
Por que o telhado neoliberal?
A crise dos sistemas econômicos em países como Portugal, Irlanda, Islândia, Itália, Grécia eEspanha (PIGS) deixou o continente absolutamente vulnerável a qualquer nova tempestade econômica e política. E, acreditem, estas tempestades inevitavelmente virão.
No final dos anos 70 do século passado a primeira ministra britânica Margaret Thatchere o presidente norte americano Ronald Reagan deram início ao desmonte do aparelhode proteção estatal e a “desregulação” de suas economias. O aumento no número de desempregados só serviu para pressionar os sindicatos a aceitarem as novas medidas dearrocho salarial e a nova agenda que estava sendo imposta ao “mundo ocidental”.
Na prática, os Estados capitalistas do centro, deixariam de “concorrer” com o modelo socialista soviético, apostando na eficiência econômica para vencer a guerra fria.
Nas décadas seguintes, os setores produtivos foram negligenciados e as economias passarama girar mediante a capitalização financeira, com a rolagem de títulos de dívidas externas. Os Estados foram “flexibilizando” suas legislações e tornando seus países “ambientes favoráveis”para os negócios. O mercado global se consolidava e o Estado deixava de proteger seus cidadãos com políticas sociais.
Alguns países foram exceções. Sobretudo aqueles fincados na social democracia do norte da Europa, como Suécia, Holanda, Bélgica e Noruega.
Em 2008, com a crise dos EUA, os Estados tiveram de cobrir o rombo deixado pelos especuladores mundo afora. Para evitar a conseqüente quebra de suas economias, ou mesmo minimizar os efeitos da crise os governos tiveram de suprir a demanda privada que imediatamente se retraiu. Foram trilhões de dólares e euros despejados nos mercados eos contribuintes do mundo todo pagaram muito caro pela farra dos especuladores, atores principais do sistema neoliberal.
Não precisa ser economista nem político para entender que seria muito mais vantajoso para as sociedades uma ruptura drástica desde modelo econômico que deveria se reorganizar sob uma nova estrutura, apoiada no desenvolvimento e justiça social. A dinheirama jorrada nos mercados acabaria com a fome no mundo. A crise deflagrada por conta do crédito imobiliário, fez com que os Estados pagassem o rombo dos credores, mas deixassem que os seus cidadãos permanecessem endividados.
Não haveria outro resultado possível que o absoluto endividamento dos Estados nos primeiros anos posteriores à crise.
A resistência neoliberal argumenta que os Estados gastaram mais do que deviam.
Ora, estes gastos não são oriundos das políticas sociais, tampouco do investimento em infra-estrutura. A dívida dos Estados se deve justamente à farra especulativa neoliberal.
Agora, milhões de pessoas estão na rua protestando contra o modelo econômico e exigindo mudanças nos governos. São jovens, velhos, idosos, pais e mães de família. Muita gente desempregada.
O FMI condiciona o aporte financeiro às políticas de metas de arrocho e corte nos investimentos. Sabe-se que o primeiro dos países vulneráveis (sem telhado) que quebrar, levará a um efeito dominó devastador.
No final dos anos 90, a América Latina viveu um momento econômico semelhante. A diferença era que nas nossas sociedades, sequer havia políticas sociais suficientes para atenuar osefeitos da recessão econômica.
O México até hoje não se recuperou economicamente. O país manteve o modelo econômico rígido.
A Argentina somente voltou a crescer depois de suspender o pagamento da dívida e desvalorizar sua moeda, apostando na produção e na exportação de commodities.
O Brasil, sobretudo no segundo governo Lula, passou a ser protagonista global depois de recuperar a capacidade de investimento do Estado, apostando no mercado interno e no desenvolvimento econômico.
Já provamos o remédio europeu uma década atrás. Sabemos que este caminho neoliberal não tem futuro.
Uma grande transformação está em curso. A China em poucos anos se tornou a grande economia global apostando no desenvolvimento. Seu modelo de parceria parece ser muito mais interessante para os países emergentes do que o carcomido imperialismo do atlânticonorte.
Não existe futuro possível para a Europa com o neoliberalismo.
Não existe futuro possível para a humanidade com o neoliberalismo.
Os povos vão acabar com o neoliberalismo.
O telhado já caiu!
Rafael Castilho é Sociólogo, Pós-Graduado em Política e Relações Internacionais pela FESPSP. É consultor e coordenador de projetos públicos. Incorrigível corinthiano doente. Seu blog é o http://blogdorafaelcastilho.blogspot.com/.
Excelente texto no @ImprenCa ~> A Queda do Telhado Neoliberal http://bit.ly/l4ZTYM
"Não existe futuro possível para a Europa com o neoliberalismo.
Não existe futuro possível para a humanidade com o neoliberalismo.
Os povos vão acabar com o neoliberalismo."
… pior que existe…
Daniel, claro que as frases finais do texto foram um esforço de retórica.
Futuro existe. Mas o crescimento da China nos mostra que os Estados que insistirem neste sistema combalido estão condenados ao fracasso.
A natureza competitiva dos Estados acabará com o neoliberalismo.
Quem não compete desaparece.
Não acredito que o neoliberalismo acabará, mas acredito que será um grande colaborador para a queda de um ciclo hegemônico. Quando os EUA estiverem no lado obscuro do neoliberalismo, e atacá-lo com políticas de intervenção estatal, ai sim teremos de novo a queda do muro de Berlim, desta vez do ocidente para o oriente.
Michel
Os Estados que continuarem sendo cooptados pela burguesia financista e mantiverem as políticas neoliberais estão condenados ao fracasso e a deterioração de suas economias. O sistema não se sustenta mais.
Obama tem feito de tudo para salvar o capitalismo norte americano, mas tem sido acusado de socialista pelos conservadores. Agora apresenta os primeiros sinais de vacilação.
O pior cenário seria as principais potências econômicas e militares substituirem seus governos neoliberais por governos de extrema direita.
Aí a situação ficaria feia…
Abraços, convido a visitar meu blog
Não entendo assim. Até mesmo Marx sabia que o capitalismo sofre de convulsões vez or outra. O que está acontecendo é uma readequação do sistema capitalista. Ele permanecerá em pé. Cuba e Coréia do Norte são exemplos do socialismo real. Pobreza, atraso tecnológico e ditadura. Tente viver num apartamento funcional, como os que eu conheço em Brasilia e num condominio onde todos os moradores são proprietários. Você verá o valor da livre iniciativa e do empreendorismo sobre o estatismo exarcebado. Hayek estava certo, o socialismo é o caminho para a servidão.
Não disse que o sistema capitalista está em queda. Disse que o neoliberalismo está em agonia. A própria competitividade entre os Estados obrigará a retomada do desenvolvimento econômico amparado na produção, não na mera especulação. Keynes estava certo: cabe ao Estado a geração de demanda e a "provocação" do sistema econômico privado. Hayek não falava somente dos socialistas. Defendia o liberalismo como forma de evitar a concentração de poder de decisão nas mãos de líderes decisionistas, sejam eles de qualquer vertente. Mas a história nos mostrou que Hayek estava errado. A crise de 2008 nada mais é do que a ausência de regulação do Estado na economia e seu retorcesso em ser o condutor do desenvolvimento e justiça social Além do mais, o maior responsável pela crise, W. Bush, além de liberal, foi um projeto de facista torturador. Este sim colocou a sociedade global no caminho da servidão. De qualquer forma, um abraço e visite meu blog.
Ao que parece o artigo contém um fundo de ranço ideológico do autor, o neo liberalismo isso, o neo liberalismo aquilo, parece o velho discurso da época do presidente FHC, que aguentou o patrulhamento histérico daqueles que nada construiram, apenas envergonham nosso país com tantos escandalos fraudulentos, apenas para inchar o ego de um megalomaniaco que acredita ser o enviado de
Deus à terra, o capitalismo é necessário, competir é necessário, faz parte do processo civilizatório. Que bem adveio do comunismo falido e assassino? Que lucramos com a guerrilha araguaia? Apenas mais pensões pagas pra quem assassinou pessoas inocentes, roubou bancos e se proclamaram "heróis", do que mesmo, cara pálida? A tentativa medíocre do metalurgico semianalfabeto e sua quadrilçha de desvincular o sucesso do governo anterior é a maior prova de terrorismo panfletário já orquestrado nesse pais, aprendido nos porões ideológicos do comunismo grotesco, assassino e arrogante, que premia o burocrata, o farsante, o delator…Quantos morreram pelas mãos do comunismo caro autor? Quantos perderam a vida por uma doutrina maléfica, e pra enaltecer o ego dos seus ditadores?
Caro Léo,
Muito obrigado por suas generosas considerações. Gostei muito da sua participação no blog, tanto que faço questão de escrever um post em sua homenagem. Peço a gentileza que continue prestigiando o blog.
Abraços
Caipira Zé do Mér
Estados intervencionistas ou gastam em excesso, financiando esses gastos por meios de impostos, empréstimos e títulos e de dívida, tirando um dinheiro que poderia ser usado em atividades produtivas ou criam regras que atrapalham a entrada de novas empresas na concorrência com as que já estão no mercado.
E o que se pode ver é o fracasso da intervenção: empresas amigas são socorridas, regulamentações criam barreiras para a criação de novas empresas.
Cria-se assim um união entre as grandes empresas e o Estado, onde os prejudicados são as pessoas comuns.
Quem cria empregos é a iniciativa privada. O Estado só toma o que foi produzido e poderia ser bem utilizado para gastar com projetos duvidosos.
Quando um governo não é austero, ele obriga a população a ser austera.
As pessoas poderiam investir mais e comprar mais se o Estado não tributasse tanto e criasse inflação por meio de expansões monetárias destruindo assim o poder de compra.
” A dívida dos Estados se deve justamente à farra especulativa neoliberal.”
Quem sabe a Europa não está com déficit fiscal por causa dos gastos públicos não? Não é pela previdência social nem nada disso né?
A culpa é da “especulação neoliberal”.