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De tempos em tempos a sociedade ganha tons de cinza `{{é para aproveitar o hype, liga não}} e incita medidas, digamos, duvidosas, ainda que para a maioria seja algo óbvio. O problema do óbvio, no entanto, quando estamos na política, é que ele em geral leva em conta coisas não-tão-óbvias e acaba por cair no poço fundo do clichê {{normalmente “universidade do crime”, “político corrupto é pleonasmo”, entre outras pérolas}}.

{{Crédito da foto:{link url=”http://www.flickr.com/photos/ilovethispicture/6210450311/sizes/l/in/photostream/” target=”_blank”} Dav’ Carton – I Love this Picture{/link}}}

Para falar de violência e, principalmente, para falar de maioridade penal, é preciso antes ter em conta alguns dados. Aquele velho choque de realidade que costuma tirar o clichê das discussões, não é mesmo?! Pois vamos a eles…

Os dados mostram que há déficit de vagas no sistema prisional brasileiro



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{{não acredite em mim – Conselho Nacional de Justiça}}

Ok, dirão os mais espertos, “vamos parar de prender, porque não há espaço prisional?”. E a resposta vem em forma de outra pergunta: Há mesmo tanta gente precisando ser presa? Um exemplo básico, apenas para apimentar a discussão:

A lei de drogas diz que usar não é passível de cadeia. Mas traficar sim. Contudo, a lei não determina uma quantidade exata que delimite o uso do tráfico {{e nem seria justo, posto que cada organismo é um e que as quantidades utilizáveis podem variar de ser humano para ser humano}}.

Daí que um ser humano branco, classe média alta, parado numa blitz da lei seca, é descoberto com uma porção de cocaína e outra de maconha.

Daí que outro ser humano, negro, classe pobre, parado numa blitz da lei seca, é descoberto ao mesmo tempo, em outro canto da cidade, com uma porção de cocaína e outra de maconha.

{{a vida é assim, tem dessas coincidências, que bom, facilita o texto}}

Caberá aos policiais decidirem quem é traficante e quem é usuário. Num mundo perfeito, ambos seriam usuários {{ou ambos seriam traficantes, num mundo tragicamente perfeito}}. No mundo real, os dados mostram quê:

Segundo Timothy Ireland, representante da área educacional da Unesco no Brasil, dados do Ministério da Saúde indicam no perfil da maioria dos presos no Brasil, são de jovens entre 18 e 34 anos, pobres, negros e com baixa escolaridade, são 73,83% do total da população carcerária. Mias da metade 66%, não chegaram a concluir o ensino fundamental.

{{não acredite em mim}}

Não se preocupe, foi só uma coincidência ilustrativa. Seguimos.

A questão em questão {{eu adoro quando repito essas palavras, dá um quê de não sei quê que parece chic!}} são os jovens que são presos. Ou melhor, deveriam ser. Ou melhor, não deveriam. Enfim, questão confusa. Dados da FEBEM Fundação Casa, mostram quê:

Reincidência na Fundação Casa cai para 22%

O percentual é bem inferior aos 29% de reincidência observados até o ano passado nas unidades da antiga Febem. O índice total de reincidência em todas as unidades da Fundação Casa é de 22%, taxa sete pontos percentuais menor em comparação à da antiga Febem.

{{não acredite em mim – G1}}

Uma simples reestruturação do sistema ‘prisional’ infanto-juvenil {{na fundação casa são aceitos seres humanos da alta sociedade a partir de 12 e no máximo 18 anos}} foi capaz de diminuir a reincidência {{essa é aquela palavra difícil que, no fundo, no fundo, quer dizer: jovens que voltaram a fazer caquinha e foram pegos de novo}} destes bípedes em 7%.

Uma pesquisa pouco aprofundada, mostra o perfil dos que estão abrigados na fundação casa {{SP}}:

{{não acredite em mim – Fundação Casa – PDF}}

Vamos interpretar os slides? 

  • 51% dos internos morava só com a mãe
  • 57% das mães eram trabalhadoras não qualificadas {{e, portanto, com baixa renda familiar}}
  • A média de idade é de 16,7 anos.

Ou seja, trocando em miúdos, estão lá os que eram filhos de mães que ganhavam pouco. Ou seja, a grande maioria é pobre, mesmo. {{Pode me chamar de gênio, mas é importante clarificar o óbvio}}.

Agora quais são os dados de violência entre os jovens?

(…)Tal é o peso das causas externas que em 2010 foram responsáveis por 53,2% – acima da metade – do total de mortes na faixa de 1 a 19 anos de idade.

{{não acredite em mim – Mapa da Violência 2012 – PDF}}

E daí? –  pergunta o ser humano que agora perde seu tempo com essas linhas. Pois é. Daí nada, chega de perfumaria, vamos ao que interessa:

{{não acredite em mim – Censo Penitenciário}}

 Oras bolas, amiguinhos, se o problema é a Juventude Transviada {{EPA!}}, o normal seria uma maioria de presos próximo aos 18 anos, certo? Mas a realidade {{sempre ela…}} cai sobre nossos colos e nos mostra que a grande maioria dos presos está entre 29 e 34 anos.

É claro, que quando você coloca no jornal a frase: “maioria dos presos têm entre 18 e 34 anos” você não está mentindo… Só que também não está falando a verdade.

O mundo real, bem diferente daqueles casos isolados mostrados na televisão, mostra que há jovens de 16,7 anos {{note o ,7}} acomodados na Fundação Casa. E os dados prisionais mostram presos com média de idade de 30 anos. Isso pode significar duas coisas:

  • Os jovens entre 17 e 28 anos são excelentes em esconder provas e, por isso, não são maioria entre os presos;
  • Os jovens entre 17 e 28 anos não são número relevante na produção da violência e, portanto, não justificam uma redução da maioridade penal
Aqui falamos apenas dos dados práticos do porquê não se justifica tal medida. Na parte 2 falaremos dos riscos da medida.
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