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De um lado o governo brasileiro anuncia a chegada de médicos estrangeiros para auxiliar a população do interior do país, afirmando a inexistência de candidatos brasileiros às vagas.

De outro a classe médica, que afirma que a ausência de profissionais se dá por uma questão estrutural. Como falta estrutura nestes locais, o profissional não quer se submeter a trabalhar por ali.

Epidemia de Cólera no Haiti

Parece um pouco absurdo ao autor deste texto {{vulgo eu}} a defesa incondicional do Sistema Único de Saúde. Quem já passou por ele sabe que, mesmo em cidades-chave para o país {{definição que eu mesmo refuto, mas que serve no caso}} como São Paulo ou Rio de Janeiro, não funciona bem.



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Falta estrutura, faltam aparelhos, faltam insumos, falta dignidade. Em São Paulo, salvam-se dois hospitais públicos, ainda assim, passam raspando. Nada de louvor.

O que não falta, no entanto, são médicos em São Paulo. Mesmo em hospitais ruins, não há uma falta constante de médicos. E não é o caso só de São Paulo, no centro do país também há hospitais sem estrutura, mas com médicos…

Funcionária mostra situação precária de hospital em Goiânia;

{{não acredite em mim – G1}}

O hospital em questão é o Hospital de Doenças Tropicias de Goiânia. Há falta de estrutura, como mostra a reportagem e o vídeo da funcionária. E há falta de médicos? Não. Há médicos fazendo paralisação por melhores estruturas:

Médicos mantêm paralisação na rede pública de saúde em Goiás

{{não acredite em mim – G1}}

Por que então, virgens e luxuriosos leitores, nos hospitais onde faltam estrutura no interior do país, também faltam médicos? Um dos argumentos para isso seria a distância, o deslocamento. Para ganhar o que eu ganho na rede particular em São Paulo, não vou até o Acre exercer minha profissão {{refuto o termo vocação pelo tom messiânico que daria à coisa toda}}.

Mas, ora bolas, não há faculdades de medicina nas localidades onde os médicos irão trabalhar? Sim, há.

Em Juazeiro do Norte, por exemplo, há a Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte {{não acredite em mim}}, mas há médicos vindos de Portugal pelo programa Mais Médicos que irão trabalhar ali {{não acredite em mim}}.

Descartado, portanto, o argumento da distância.

O Caipira que vos fala {{vulgo mim}} andou conversando com amigos doutores a respeito do Mais Médicos {{um amigo, na verdade, uma amiga se recusou a falar e até me excluiu do Facebook #chatiado}}. Não vou revelar o nome do cidadão por apreço à amizade. Não convém jogar fora mais de dez anos de amizade por credibilidade nenhuma. Se você quiser, acredite em mim, senão, azar meu.

Screenshot_1

A frase do meu colega foi “faltam médicos no interior simplesmente porque ninguém quer ver os outros morrer“, de novo, a tecla da estrutura.

{{mandarei o artigo ao meu amigo e ele terá direito a responder tudo aquilo que desejar, é bom que se diga. No momento falta tempo a ele e ao Caipira safado que ora escreve para uma conversa mais longa…}}

Deve ser, de fato, angustiante quando seu trabalho é “salvar vidas” e a estrutura recebida não te permite isso. É, em tese, um bom argumento.

É verdade que em 1999, quando o FHC e seu ministro José Erra, quiseram trazer os mesmos médicos, a justificativa era outra…

Levantamento do CFM (Conselho Federal de Medicina) constatou que 59,4% dos médicos brasileiros trabalham nas capitais e apenas 39,5% atuam no interior.

(…)

O presidente do CFM, Edson de Oliveira Andrade, afirmou que a entidade é contra a regulamentação do trabalho de médicos estrangeiros no Brasil.
Segundo ele, o que falta no país é uma política que incentive os médicos brasileiros a irem trabalhar no interior. “Nunca houve uma política de interiorização no Brasil”, disse.

{{não acredite em mim – folha de São Paulo}}

A matéria é do pseudo-jornal folha de São Paulo. De 1999. Nela há a afirmação de que José Erra teria tratado pessoalmente de trazer os médicos cubanos ao país. Hoje ele mudou de opinião {{não acredite em mim – Estado de São Paulo}}.

Não é possível afirmar que, enquanto o salário médio de um médico no SUS em São Paulo beira os 2,5 mil reais {{sendo otimista, meu amigo médico já citado aqui, diz que os salários são ainda menores}}, para o trabalho no interior são 10 mil reais. Adicionados de 2 mil reais por plantão.

Com esse salário não é permitido nem comentar a afirmação de que são escravos os residentes que passam a ser obrigados a atender no SUS. Esse Caipira adoraria ser escravo por este salário.

{{É verdade que a Dilma e o PT me pagam bem mais pra escrever no blog, só em contas off-shore já tenho mais que o Eike Batista. Se bem que isso hoje, em dia, não significa muita coisa, né? Me perdi, voltemos ao texto…}}

Ora, leitores ansiosos, mas e o argumento da falta de estrutura? Bem, isso realmente me intrigou. Aí lembrei de uma organização médica bem famosa, bem vista, acima de qualquer suspeita. Os tais Médicos Sem Fronteiras.

Fiquei me perguntando: será que eles topam atender em locais sem estrutura? Ora bolas, senão vejamos.

Um exemplo, digamos, exemplar {{gênio da escrita, fala a verdade?!}} é pegar um país com IDH não muito bom. Então vamos ao pior IDH do mundo, para ver o que conseguimos…

No dia 2 de novembro, A ONU (Organizações das Nações Unidas), por meio do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), publicou o Índice de Desenvolvimento Humano de 2011. Na lista, o Brasil registrou escala de 0,718, ficando na 84ª posição no grupo de 187 países.

A Noruega, país com maior índice de IDH, registrou a marca de 0,943 pontos, seguido por Austrália, Holanda, EUA eNova Zelândia. Em último lugar, com o pior IDH, a República Democrática do Congo registrou índice de 0,286. Os cinco últimos são Chade, Moçambique, Burundi, Níger e República Democrática do Congo.

{{Grifos por minha conta, não acredite em mim – Info Escola}}

A foto que abre o artigo é da organização que trabalha, entre outros lugares, na República Democrática do Congo {{cabe aqui uma discussão a ser feita do que é democracia, onde não há IDH. Mas durmamos com este ruído}}. No site Médicos Sem Fronteira temos:

Milhares de refugiados que fugiram da violência na República Democrática do Congo em 2009 continuam na fronteira com o vizinho Congo, com medo de voltar para casa.

Médicos Sem Fronteiras (MSF) está dando apoio ao distrito de Bétou, em Likouala, com serviços médicos. Uma média de 400 pessoas foram admitidas no hospital de 89 leitos de Bétou todos os meses: cerca de metade dos pacientes eram mulheres buscando cuidados maternos e um terço eram crianças. A equipe assistiu mais de 2.600 partos. MSF também trabalhou com equipes de congoleses dos programas de HIV e tuberculose (TB). Desde janeiro de 2010, MSF tratou mais de 80 pessoas com TB e 60 pessoas com HIV iniciaram o tratamento antirretroviral. Mais de 2.600 consultas ambulatoriais foram realizadas no hospital a cada mês, a maioria delas voltadas para crianças, e, principalmente, relacionadas a infecções respiratórias e malária.

{{não acredite em mim}}

Então, como é? Pode no Congo, mas não pode no Ceará?

A organização de classe dos médicos fica, portanto, sem argumentos. Não é falta de estrutura, como alegado publicamente hoje, nem falta de política de incentivo como afirmado em 1999. Não pode, por quê?

Ainda que fosse verdade o argumento da falta de estrutura – tem dono de hospital filantrópico dizendo o contrário {{não acredite em mim – Canal Livre}} – fica a pergunta: Se não tem caviar, melhor então é morrer de fome?

A este blogueiro, parece que não.

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