Marina Silva aparece na última pesquisa Datafolha como segunda colocada, com 26% das intenções de voto no 1º turno.
Com um discurso de renovação e um partido que propõe também inovar, Marina Silva quer se colocar de vez como ‘terceira via’ nas eleições presidenciais.
O blog não considera que a polarização PT x PSDB se dará nas próximas eleições, acredita mais em uma subida do candidato do PSB Eduardo Campos do que na força de Aécio Neves. Mas esta é outra questão.
Afinal, o que Marina traz de novo?
A trajetória política de Marina Silva tem início dentro de um grupo marxista revolucionário do PT, liderado por José Genoíno. Foi, por 30 anos filiada ao partido, sendo eleita senadora e, posteriormente, ministra do governo Lula.
Saiu, em prol de uma luta pelo meio ambiente, ou pelo menos foi o que ela falou… Ingressou, vejam só, no Partido Verde.
Para quem não entende a diferença, eu desenho. O Partido Verde é o partido que:
- Tem Sarney filho como deputado federal {{não acredite em mim}}
- Tem Célia Sacramento (vice de ACM Neto) como vice prefeita {{não acredite em mim}}
- Apoiou Kassab para as eleições municipais de 2008 {{não acredite em mim}}
- Apoio à candidatura de José Serra no 2º turno de 2010 (Marina soltou desagravo) {{não acredite em mim}}
Foi, portanto, uma guinada à direita. Mas, ok, vamos considerar que Marina seja ingênua o bastante para não saber qual era a do PV e que, portanto, foi ludibriada.
Afinal, ela saiu do PV, certo? Pois bem.
Desiludida com o PT e com o PV, Marina concluiu: o problema é o sistema vigente. Para combatê-lo, portanto, é preciso criar algo novo. Foi então que resolveu criar um outro partido. Mas que não chama Partido. Chama Rede Sustentabilidade.
A Rede Sustentabilidade se propõe a ser o novo, num sistema velho. Recebeu apoio de diversos espectros da política velha e da nova política. Por exemplo, recebeu apoio de Heloísa Helena {{expulsa do PT por não votar com o partido – esta afirmação será importante mais adiante, guarde isso}}, da velha política. E de membros {{EPA!}} importantes da Casa Fora do Eixo, como política nova.
Mas aí começam as contradições…
A primeira, e uma das mais graves, é a acusação de que um de seus membros esteve jogando pedra no Itamaraty. A acusação seria mera levianidade, não fosse admitida pelo próprio acusado:
O sociólogo Pedro Piccolo pediu afastamento da Executiva Nacional Provisória da Rede Sustentabilidade, partido que a ex-senadora Marina Silva trabalha para criar, depois de ter sido flagrado em vídeo e fotos segurando uma barra de ferro durante o protesto que terminou na depredação do Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, em 20 junho.
(…)
Na quarta-feira, 31, o sociólogo confirmou em sua página no Facebook que foi aos protestos e que, “com as emoções a flor da pele”, tinha pressionado uma barra de ferro “contra diferentes pontos de uma estrutura também de ferro do próprio prédio (do Itamaraty)“. Ele sustenta, no entanto, que não quebrou nada.
{{Os grifos são meus – não acredite em mim – Estadão}}
“Pressionar uma barra de ferro contra diferentes pontos de uma estrutura” é um bom eufemismo para ‘dei uma porra com uma barra de ferro’. Mas, hei, é um erro, acontece, ele já está fora da Rede.
A segunda contradição é a que virou notícia por estes dias. Marina Silva, por meio de um advogado, pressionando o TSE para que este aceite as assinaturas para validação de seu partido, sem as devidas verificações sobre legitimidade delas.
Para que um partido seja considerado apto a concorrer a qualquer cargo político, é preciso que tenha o equivalente a 0,5% dos votos válidos para câmara dos deputados em assinaturas. E nove diretórios regionais.
Ou seja, são necessárias 492 mil assinaturas e 9 diretórios. Marina tem, segundo a ImprenÇa, cerca de 300 mil assinaturas já validadas, 96 mil assinaturas rejeitadas e outras 241 mil assinaturas ‘em fase de espera’, por assim dizer.
Marina Silva começou a entregar as assinaturas para a criação de seu partido quase 1 ano e meio depois de ter saído do PV. Três meses depois da formação jurídica de sua Rede.
Parece absurdo exigir que a justiça mude seus trâmites para atender unicamente o seu partido. Ainda que a justiça seja lenta {{e é}}, Marina teve tempo de sobra para não precisar correr. Tivesse entregue as assinaturas no dia seguinte da formação jurídica e teria ganho, vejam só, três meses de folga neste processo.
Outra, grave para quem se diz ‘novo’, são os financiadores dela. Itaú é o principal deles {{não acredite em mim}}. Sobre isso, diz o manifesto da própria Marina:
Uma das peças-chave para uma correção de rumos está no sistema político e sua estreita relação com o modelo de desenvolvimento. Basta, para isso, ver quais são os principais doadores de campanha e as leis feitas pelos eleitos, que com frequência fortalecem os valores que se contrapõem ao desenvolvimento sustentável, à ética, à justiça social, ao aprofundamento da democracia e aos princípios civilizatórios básicos.
{{Grifos meus – não acredite em mim – Rede Sustentabilidade}}
Mas, seguimos. Vamos acompanhar o que é, de fato, a Rede Sustentabilidade. E checar se esse novo {{que já apresentou pelo menos duas atitudes graves do velho}}, é, de fato, tão novo.
CAPÍTULO III – DA FILIAÇÃO PARTIDÁRIA
Art. 5º – Será admitido como filiado da REDE toda pessoa que, sendo maior de 16 (dezesseis) anos, em pleno gozo de seus direitos políticos, aceite seu Programa e seu Estatuto, cumprindo com as deliberações partidárias e sua e regulamentação.
{{não acredite em mim – Rede Sustentabilidade}}
O Estatuto de Rede, é bastante esclarecedor quanto ao ‘novo’ proposto por Marina.
Art. 14- Constituem DEVERES dos filiados:
I – participar das reuniões dos órgãos partidários aos quais pertença, bem como dos órgãos de Direção, com a periodicidade estabelecida pelo órgão, salvo com justificativa;
II – divulgar, defender e encaminhar o Programa e o Estatuto da REDE;
III – manter uma conduta pessoal, profissional e social de acordo e compatível com os objetivos e princípios éticos da REDE;
IV – contribuir financeiramente para o Partido, observando-se os critérios estabelecidos pelo presente Estatuto e em suas resoluções;
V – combater todas as manifestações de discriminação atentatória aos direitos e liberdades fundamentais;
VI – acatar e cumprir as decisões partidárias;
{{Os grifos são meus}}
Ora bolas, Marina Silva, então, no caso do seu partido ‘novo’, Heloísa Helena, teria tratamento exatamente igual ao que recebeu no PT. Certo? Senão vejamos, como alguém pode ser desfiliado da Rede?
Art. 16 – O cancelamento imediato da filiação partidária verificar-se-á nos casos de:
I – Morte;
II – Perda dos direitos políticos;
III – Expulsão, garantido o contraditório e a ampla defesa nos termos deste Estatuto Partidário;
IV – Por requerimento do filiado ou filiada, cabendo exclusivamente a este a comunicação ao juízo eleitoral
Só em termos de comparação, segue o estatuto do PV:
Art. 11 – São deveres dos filiados ao PV:
I – obedecer ao Programa, ao Estatuto e as resoluções do Partido;
II – manter conduta pessoal, profissional, política e comunitária compatível com os princípios éticos e programáticos do Partido;
III – acatar as orientações e decisões tomadas democrática e legalmente pelas instâncias partidárias;
IV – pagar a contribuição financeira estabelecida neste Estatuto;
{{não acredite em mim – PV}}
Estatuto do PT:
Art. 14. São deveres do filiado ou da filiada:
I – participar das atividades do Partido, difundir as idéias e propostas partidárias; 9
II – combater todas as manifestações de discriminação em relação à etnia, aos portadores e às portadoras de deficiência física, aos idosos e às idosas, assim como qualquer outra forma de discriminação social, de gênero, de orientação sexual, de cor ou raça, idade ou religião;
III – manter conduta compatível com os princípios éticos do Partido;
IV – acatar e cumprir as decisões partidárias;
V – contribuir financeiramente nos termos deste Estatuto e participar das campanhas de arrecadação de fundos do Partido;
Estatuto do PSDB:
Art. 15.6 São deveres dos filiados
I – participar assiduamente das reuniões dos órgãos partidários a que pertencer, das atividades realizadas e das campanhas políticas e eleitorais dos candidatos do Partido;
II – defender, divulgar, cumprir e fazer cumprir o Programa e o Estatuto do Partido;
III – cumprir e fazer cumprir as deliberações do Diretório Nacional, Conselhos Políticos Nacional e Estaduais, Diretórios Estaduais, Municipais e Zonais, bem como das Convenções;
{{não acredite em mim – PDF }}
Está descartado, portanto, qualquer possibilidade de ser a Rede, algo diferente dos partidos tradicionais. O que não a impede de ser ‘novo’, desde que observados os objetivos… O que me deixou encucado foi…
Art. 88. A REDE oferecerá até 30% (trinta) do total de vagas nas eleições proporcionais para candidaturas “cívica independentes” que serão oferecidas à sociedade para cidadãos não filiados e que não pretendam exercer vínculos orgânicos com nenhum partido político dispostos exclusivamente a disputar as eleições e exercer mandato parlamentar para defender e representar movimentos, redes e causas sociais legítimas e relevantes para a sociedade, o Programa, o Estatuto e o Manifesto da REDE.
Em outras palavras, a Rede, deixará que se elejam ‘sem partido’, pessoas que queiram se candidatar por ela, Rede.
Basicamente você estará eleito ‘sem partido’, pelo partido da Marina Silva. Partido que pode te expulsar por não agir de acordo com ele.
E o que acontece com alguém que sai do partido, mas tem um cargo eletivo? Diz a justiça eleitoral:
A primeira consiste no objeto de mutação constitucional por parte das cortes, que não enseja a perda do mandato, e a segunda decorre da circunstância de cancelamento da filiação partidária ou troca de partido pelo mandatário, hipótese inocorrente de justa causa, a qual justifica a perda do mandato.