Escrevo este texto um tanto emocionado, embasbacado, triste. Escrevo uma hora depois de saber do falecimento deste homem que, ao meu ver, é uma das figuras de maior importância do país.
Porque é uma das figuras de maior importância de um partido que é da maior importância para o país {{concordando com ele ou não, importância não se discute, constata-se}}.
Escrevo agora, mas não quero, não gosto, não suporto que confundam homenagem com post urubu, atrás de visitas. Não sou disso, nunca fui.
Escrevo porque penso que muita gente não tem noção de quem foi esse senhor. Escrevo porque é preciso homenagear, lembrar, chorar e esperançar. Que novos Gushiken apareçam.
Gushiken morreu no dia 13. Do ano 13. Vestindo e se orgulhando do partido que fundou, refundou e militou toda a vida.
A folha, claro, ressalta as acusações que recebeu pelo tal ‘mensalão’. Oculta que, dias antes de morrer, o acusado foi agraciado pela justiça com:
Veja é condenada a indenizar Luiz Gushiken por danos morais
{{não acredite em mim – PT}}
A notícia fantasiosa, era a de um jantar pago por ele no valor de mais de 3 mil reais. A notícia serviu, à época para construir a imagem de que era ele um larápio, participante do mensalão, rico e esbanjador.
O STF, como se sabe, o inocentou de todas as acusações. Ainda assim, a folha ressalta do que ele foi acusado e ‘esquece’, do fato banal da absolvição.
É assim a grande ImprenÇa. Vive da crença, esquece dos fatos, mas depois desculpa-se. Ainda que seja bem depois. Quarenta anos depois, ou cinquenta. Ou nunca, quem precisa de desculpas? O que é um editor senão príncipe – todos eles príncipes – na vida… ?
Azar que a notícia reflete a reputação que fica, para muitos dos que não sabem de sua história. Isso é bobagem, banalidade.
Mas devia ser crime.
Fato é que este homem é responsável pela criação do PT, da CUT e por uma das maiores greves sindicais que este país já viu. Fato é que, este homem, foi responsável por uma paralisação de mais de 700 mil trabalhadores, em plena ditadura.
Que esteve lado a lado na briga pela redemocratização do país. Na derrota infâme e injusta, pós debate da Globo, de Lula para Collor. E na vitória de Lula em 2002.
Não culpo mensalão pela morte de ninguém. Como não culpo a Petrobrás pela morte de Paulo Francis. Mas escrever uma matéria sobre este homem, focando em acusações nas quais ele foi absolvido e ‘esquecendo’ a história de luta dele?! Não é preciso concordar, repito, com a CUT ou com o PT ou mesmo com Lula para saber que este país seria outro se o Gushiken não fosse brasileiro.
Foi um dos responsáveis pela nossa constituição, maior bem democrático que o país já viu.
Mas, folha, esquecer de dizer que ele foi absolvido?
Mas, Globo, escolher destacar a absolvição à criação do PT, CUT, da constituinte?
Mas, Terra, esquecer da CUT, da Constituinte, das greves na ditadura?
Isso, caro leitor, não é falta de memoról. É falta de vontade. Ou melhor, excesso de vontade de tirar a importância de um cara que representa o partido no poder. Porque não é do interesse de quem publica. É sempre melhor associar ao mensalão do que a redemocratização, luta salarial.
Morre parte importante da história do nosso país, do meu partido. Morre parte importante da responsabilidade social (real, não marinesca), da responsabilidade pela diminuição da morte infantil em mais de 65% por conta de não haver mais tanta fome como antes.
Morre parte de um projeto político que mudou o país pelo menos 2 vezes. Morre parte da luta pela redemocratização, morre teórico da esquerda.
Morre, enfim, uma parte importante do espírito ideológico que mudou nosso país.
Vamos torcer para que este espírito tenha conseguido construir pontes e nascedouros para novos espíritos. E que algum deles faça, pelo nosso país, metade do que esse homem fez.
Meus pêsames aos amigos e familiares. E aos brasileiros. Incluindo você, que não faz ideia dessa importância ou que acredita na Veja. Porque a luta dele foi por você também.