O Vírus da Imunodeficiência Humana {{HIV}} que outrora foi motivo de pânico generalizado, hoje vai saindo a cada dia dos holofotes da grande mídia. O risco é que ocorra com o vírus {{e com a doença, AIDS}} o mesmo que ocorreu com a Tuberculose.
Se você não sabe, saiba, dia 1º de dezembro é dia mundial de luta contra a AIDS. É dia em que se vê {{se via}} lacinhos por todos os lados, espalhados entre ruas, televisão, vídeos do youtube e afins. Mas a luta é {{ou devia ser}} todo dia.
Segundo a OMS {{Organização Mundial da Saúde}} o Brasil conta com 718 mil indivíduos portadores do vírus HIV. Cerca de 20% destes não sabem que possuem o vírus, o que contribui imensamente com a propagação tanto do vírus, quanto, posteriormente, da doença.
Mas falemos da Tuberculose.
Quem já estudou um pouquinho de literatura na vida sabe que a Tuberculose foi chamada de mal do século no século XIX. Chegou a influenciar de Lord Byron até Manuel Bandeira, passando por Álvares de Azevedo e, dizem, chegando mesmo a influenciar as obras de Edgar Allan Poe.
Foi assunto literário e de saúde pública, no começo do século XX, inclusive.
Hoje mal se fala dela. O que passou ?
Ocorre que, com o passar do tempo, a doença saiu dos pulmões dos ricos e foi se aprofundando em camadas sociais menos favorecidas. Com isso o assunto deixou de ser notícia e hoje você nem sabe, mas é uma das doenças mais endêmicas do planeta. Estima-se que a doença atinja 1/3 da população mundial {{não acredite em mim – Fiocruz}}.
Sai dos ricos, vai para os pobres. Leia-se saiu da América e correu para a África? Talvez, amiguinhos, mas talvez haja, na América, uma grande periferia infectada. Ou melhor, há.
Mas o post é sobre o 1º de dezembro.
Dizia eu que corremos o risco de acontecer com o HIV o mesmo que ocorreu historicamente com a Tuberculose. Então vejamos os dados da UNAIDS:
Nota-se que as regiões com os menores PIBs são também as regiões onde mais a infecção aumenta. Estamos passando por uma diferenciação nos grupos sociais infectados.
Alheio a isso, o Ministério da Saúde, nos últimos anos resolveu implantar o teste rápido de HIV/AIDS.
Beto Volpe, militante histórico do movimento contra a AIDS no país já escreveu neste blog sobre os riscos associados a este tipo de teste.
Imagine você, chegando para um carnaval em Recife, na Bahia ou no Rio de Janeiro {{ou qualquer lugar}}; Você solteira, taradão, afim de pegar várias, aproveitar o carnaval para tirar o atraso. Tudo de forma honesta, sincera. Daí que chegando lá você vê uma barraquinha do Ministério da Saúde e resolve {{ah, por que não?}} aderir à campanha e fazer o teste rápido.
Em três minutos está tudo resolvido, você pensa.
E eis que o teste dá… positivo. Mais do que acabar com o seu carnaval, você provavelmente não teria estrutura mental para aguentar uma notícia dessas e lidar de forma responsável com isso. Sua reação poderia ser das mais variadas, inclusive “ah, já estou contaminado, que se foda, vou transar sem camisinha mesmo” o que faria que o contágio não apenas aumentasse, mas faria com que você adquirisse novos subtipos do HIV, reduzindo as chances de ter algum retroviral que funcione bem.
Bacana, né?
Sim, quase 20% dos infectados no país não sabem que possuem o vírus. É um número grande. Mas a solução não é e nunca foi fazer de qualquer jeito. Informar por informar. O Brasil já passou por situação parecida.
No começo da epidemia, nos anos 80/90 no Brasil, muita gente ia se testar no HC, em São Paulo. Lá no 5º andar {{ou 3º já não me lembro}} se faziam os testes. E muita gente se matava ao receber o diagnóstico. Sim, morria de saber o diagnóstico.
Hoje, é óbvio, ninguém se mata de saber que tem AIDS, mas o pânico mental de quem acaba de saber do diagnóstico não é menor. E o que nosso país achou que seria uma boa solução ?
Mutirão de testes… Uma boa ideia, né? Teremos centenas de pessoas que ficarão sabendo que possuem HIV e vão surtar. Ou, melhor ainda, teremos centenas de pessoas que sabem não ter HIV e vão relaxar.
Há um motivo pelo qual os psicólogos conversam com as pessoas antes dos testes de HIV. E depois. Se a pessoa foi fazer o teste é porque, muito provavelmente, passou por uma situação de risco. Se colocou em risco.
Se o resultado de um teste rápido é negativo e não há nenhum tipo de aconselhamento {{decente}} sobre a questão, a sensação de alívio do resultado muito provavelmente provocará novas situações de risco. O contrário também é verdadeiro, a mesma sensação de pânico pode resultar num sujeito sentindo-se sentenciado à morte e, portanto, sem nenhum motivo para querer a prevenção.
Para o presidente Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), Richard Parker, a determinante fundamental da epidemia de aids é a desigualdade. “É onde a desigualdade é mais forte, onde um eixo de desigualdade, do tipo pobreza, cruza com outro, desigualdade de gênero, que você tem um maior impacto da epidemia. A sinergia entre essas forças de desigualdade cria uma maior vulnerabilidade”, sustentou.
{{não acredite em mim – Patrícia Galvão}}
Temos uma combinação importante a ser vista no país. Uma epidemia saindo da classe média e correndo em direção à periferia por um lado. E por outro ações desastradas {{desastrosas?}} que preferem ressaltar o diagnóstico desprezando a importância do aconselhamento.
É uma situação alarmante. E o país que já cansou de comemorar ter o melhor programa anti-hiv do planeta parece isso mesmo, cansado de se prevenir decentemente.
Se a escolha é não fazer nenhum alarde, estamos conseguindo. A cada ano o 1º de dezembro traz menos manchetes, menos destaque. E a epidemia fica mais pobre. De informação e de dinheiro. Exatamente o mesmo movimento feito pela Tuberculose.
Ah, faltou dizer, a maior causa de mortalidade entre soropositivos é… Tuberculose. Estamos bem, mesmo.