O blog foi convidado a participar de uma conversa com o Prefeito Fernando Haddad, que ocorreu no Centro Cultural Vergueiro nesta segunda-feira, 15 de dezembro de 2014.
A conversa faz parte do projeto #SPAberta e ocorreu na sala Adoniran Barbosa, sugestivo nome do sambista paulistano {{dizem os cariocas, o único paulistano que sabia o que era samba}} e abordou temas diferentes. A conversa teve a presença de universitários como público local, além de convidados, imprenÇa e acadêmicos.
São Paulo Aberta é uma iniciativa da atual gestão municipal que visa ampliar a participação popular, bem como a transparência na cidade de São Paulo. O Gabinete Aberto é um programa semanal de entrevistas, transmitidas sempre via web. Já ocorreu algumas outras vezes, com Ana Estela, Juca Ferreira entre outros.
Na mesa {{que não era mesa}} com o prefeito: Bob Fernandes, Eugênio Bucci e Fernanda Mena conduziam as perguntas, além de algumas que eram enviadas via web.
A conversa começou com o não menos sugestivo tema da regulamentação da mídia. O tema se deu depois da pergunta de Bob Fernandes a respeito da última pesquisa de popularidade da folha, que apontou 16% de aprovação para o prefeito, apenas.
A radiofusão não pode ser concentrada. Senão a informação não chega aos cidadãos
Bastante interessante notar como o prefeito reclama do tratamento dado a ele pela grande imprenÇa, ao mesmo tempo que Bob Fernandes e Eugênio Bucci ressaltavam a importância da mídia alternativa. Isso tudo, claro, enquanto a conversa era conduzida por uma jornalista da folha, ao lado de um colunista da TV Gazeta e de um universitário. Tão Brasil…
Todos reforçaram a necessidade da regulamentação da imprenÇa, que, segundo eles, deve se dar pela parte econômica e principalmente para os meios de Radiofusão {{televisão e rádio}}, ainda que isso possa afetar a mídia escrita, caso se proíbam os donos de TV e / ou rádio terem posse de alguma revista ou jornal.
O governo municipal gasta, atualmente, algo em torno de 100 milhões de reais com publicidade.
Haddad reforçou que seu governo vem diminuído a verba de publicidade nestes meios, citou algo em torno de 20% de redução em comparação à gestão anterior. Mas disse ser impossível abrir mão de campanhas institucionais, caso de campanhas contra dengue ou pró vacinação. Ele também considerou importante fazer essa diferenciação, porque olhando os números do orçamento isso não fica claro. “É tudo contabilizado como se fosse a mesma coisa e não é”.
E eu, blogueiro, pensando comigo a graça disso tudo. Bob Fernandes sendo considerado mídia alternativa, a conversa sendo conduzida pelos mesmos meios que o prefeito reclama…Tão Brasil…
A coisa seguiu e a jornalista da folha fez a pergunta que o patrão dela exigiu, ou foi assim que entendi. A diminuição da velocidade nas vias de São Paulo {{Haddad acabou de baixar a velocidade máxima de diversas vias na cidade – não acredite em mim}} são para forçar as pessoas a pegarem ônibus ou para arrecadar mais com multas?
É, prefeito. Era isso que você estava comentando lá no início, quando falava de debate interditado e coisa e tal, né? Bem didático. Mas se era para debater, colocar a folha para conduzir era o adequado ? Tão Brasil…
Haddad se esforçou, deu para ver. E respondeu de forma muito clara e didática: “Ao contrário do que se pensa no senso comum, disse ele, velocidade máxima não é igual a velocidade média {{eu achei que ensinavam isso no curso fundamental, mas sei lá, vai ver que o manual da folha diz outra coisa…}}. E estudos mostram que diminuir a velocidade máxima faz com que o fluxo seja mais constante e, portanto, a velocidade média fique mais alta. Hoje a velocidade média na cidade é de 20 km/h”. E completou: “Mas se você me permite uma terceira opção, eu diminuí porque atualmente morre muita gente no trânsito”
O ônibus também foi assunto. A mesma folha fez a pergunta que este blog já propôs {{sim, preciso melhorar a editoria disso aqui, se a folha quer saber o mesmo que eu, algo errado comigo}} no post Ônibus: uma pequena sinuca para Haddad. Haddad revelou que a consultoria Ernst & Young já chegou ao fim e deve entregar seu parecer definitivo na próxima semana com os resultados mais detalhados.
Mas adiantou que ao contrário do que o mundo todo pensava, a auditoria concluiu que os lucros das empresas de ônibus não são abusivos. Estão na ordem de 15%, considerado ideal no momento do fechamento da licitação anterior. E que os valores praticados pelo mercado hoje em dia são da casa dos 10%, o que deve guiar a próxima licitação. Fez ainda uma provocação:
Quando você abaixa a tarifa de quem recebe vale-transporte você está, na verdade, subsidiando o empresário. O desconto para o trabalhador permanece o mesmo, previsto em lei
É, tem razão, pensei comigo. E enquanto o prefeito discorria a respeito da importância de se criar subsídios para os estudantes e para aqueles que não recebem vale transporte, Eugênio Bucci tira da minha goela o que eu estava quase berrando… “Se os atores permanecerem os mesmos nessa equação, o transporte não vai mudar muito”. É por isso que eu gosto de gente acadêmica, eles sabem dizer o que a gente quer berrar, mas com sutilezas. Eu já teria gritado que tanto faz se é 10% ou 15% ou 1000%, se o PCC vai gerir o transporte municipal, estamos lascados de todo forma…
Finalmente este blog conseguiu enfiar goela abaixo do prefeito uma das perguntas que pretendia fazer: Afinal, como diabos anda a história da favela do moinho ?
Se você não sabe, saiba: a favela do moinho fica em uma área extremamente valorizada do centro de São Paulo, já foi alvo de alguns incêndios criminosos em outras gestões. Haddad prometeu em sua campanha urbanizar a favela. Até o final de 2014, nada ocorreu…
E eis o que o prefeito respondeu:
Enfim, a conversa foi boa. O projeto é de uma coragem que poucas vezes vi. Abrir a gestão para a participação popular, de fato, é coisa rara. Só o que continua medrosa é a comunicação do prefeito. Enquanto seu Nunzio Briguglio Filho, o responsável, continuar brincando de “faz de conta que fazer comunicação é igual a fazer assessoria de imprenÇa”, vamos capengar.
Enquanto isso podemos rir um pouquinho do contraditório de ver um prefeito escolher por livre vontade ser pautado pela grande imprenÇa, enquanto reclama que a pauta dela nem sempre é de interesse público. Manuel Bandeira continua tão atual…
o vídeo do moinho não está disponível…
Já corrigido, obrigado