O blog já comentou da ousadia do Programa De Braços Abertos, anteriormente. O programa segue vivo, segue trazendo dignidade aos usuários.
Não foi notícia em lugar algum, mas os filhos dos beneficiários do De Braços Abertos, receberam a oportunidade de fazer um passeio cultural pelo centro da cidade {{não acredite em mim – Prefeitura de SP}}, o programa é tão obviamente bom que nem a Globo teve coragem de negar…
Mas ontem o programa conseguiu me surpreender ainda mais. Nada mais, nada menos que um cinema foi instalado no meio da rua Dino Bueno. No meio.
Presente no local, Sabotinha {{filho de Sabotage}} se surpreendeu com a recepção dada ao filme que fala de seu pai: “Eu vejo o carinho das pessoas aqui e vejo o quanto ele foi importante para elas“. E quando perguntado se ele tem orgulho do pai dele a resposta não poderia ser mais genuína: “Orgulho eu tenho… Na verdade é mais que isso, eu sou fã do meu pai mesmo“
Não é o único.
Sabotage foi um rapper e continua sendo um ícone. Sujeito preto, pobre, como tantos outros, acabou como traficante. Graças a ajuda de outros rappers e artistas, recebeu um convite, largou o crime, revolucionou a vida e a música.
O diretor do filme, Ivan 13P, também presente no local dá um presente ao blog, falando de uma passagem inédita sobre Sabotage, a informação exclusiva você ouve aqui:
Ivan contou também que o filme teve seu início em 2002. E valeu a pena ? A resposta estava na cara dos telespectadores, que nem para comer a pipoca desviavam o olhar do cinema. Ao fundo, o pessoal do fluxo parava por alguns minutos para ver o que diabos acontecia naquela tela. Sabotage, sem dúvida, é unanimidade por ali.
Feijão, produtor do filme, fala sobre ver seu filme sendo passado ali, no meio do De Braços Abertos, para os beneficiários e os usuários do fluxo, que não estão no programa:
Dá vontade de fazer mais filmes, né velho? Pô, é uma oportunidade e uma benção poder exibir o filme aqui hoje, através de várias pessoas, por iniciativa do Suplicy. Levar entretenimento e a transformação do Sabotage para esse público que carece de um monte de coisas.
(…)
Aqui antigamente era a boca do lixo, que era onde se fazia cinema, né? Então é bem simbólico. O cinema nem sempre tem seu papel político, mas eu acho que o cinema tem que cada vez mais ter esse papel. Minha filmografia está muito ligada a estas questões, Sabotage, Raúl Seixas, Marighella… Você poder unir a paixão do cinema com o poder de transformar e não deixar o filme engavetado é fantástico.
A iniciativa veio do próprio Secretário de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo, Eduardo Suplicy. Segundo Ivan 13P, ele assistiu ao filme em um festival de cinema e saiu entusiasmado com a ideia de passá-lo nos CEUs da cidade. Pouco depois ele mudou de ideia e sugeriu passar ali mesmo, na Dino Bueno. “Ele saiu do cinema e já veio para cá fazer uma visita técnica, conversar com a polícia, tava todo empolgado“, conta o diretor do filme, não menos feliz com a ideia. O programa De Braços Abertos, segundo Rogério Sotilli, Secretário Adjunto de Direitos Humanos da Prefeitura, completa um ano agora: “A política tem que ser construída pensando em oferecer alternativas para que as pessoas possam viver de outra forma. Com mais dignidade e com mais possibilidades“. O programa abrange hoje, 500 pessoas como beneficiárias. A dignidade humana é, sem dúvidas, a coisa mais difícil de se prover quando se fala em política pública. Mas o De Braços Abertos continua sendo exemplo de redução de danos e devia ser motivo de orgulho de qualquer paulistano.
Uma foto publicada por Sato (@satodobrasil) em