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Por Elton Alisson*

Dados sobre a qualidade da água de reservatórios paulistas em que há cultivo de organismos aquáticos poderão ser acessados por meio de um sistema on-line desenvolvido por pesquisadores da Plataforma Multi-institucional de Monitoramento das Reduções de Emissões de Gases de Efeito Estufa na Agropecuária (Plataforma ABC), da Embrapa Meio Ambiente.

Denominado AgroTagAQUA, o sistema é resultado de um projeto desenvolvido pela Embrapa, com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e poderá ser acessado em breve por meio de um aplicativo para dispositivos Android.

O desenvolvimento dos algoritmos para estimativa da qualidade da água via imagens de satélite foi feito em parceria com pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Os algoritmos são resultado de um projeto apoiado pela FAPESP.



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“A ideia com o AgroTagAQUA é viabilizar a retroalimentação do modelo matemático desenvolvido pelos pesquisadores da Unesp, de modo que os aquicultores e outros usuários do sistema, como decisores políticos, possam acessar mapas, imagens de satélite e outros dados de maneira simples e interativa, além de fornecer novas informações que auxiliem na calibração e validação contínua”, disse à Agência FAPESP Luiz Eduardo Vicente, pesquisador da área de sensoriamento remoto e recursos naturais da Embrapa Meio Ambiente/Plataforma ABC e um dos coordenadores do projeto.

“O sistema representa um bom exemplo de pesquisa aplicada em políticas públicas”, avaliou.

Segundo o pesquisador, essa versão da plataforma irá dispor de duas décadas de imagens de transparência da água para o reservatório de Ilha Solteira, cobrindo 1.195 quilômetros quadrados (km2), com resolução espacial de 30 metros (m).

Em breve o sistema gerará outros parâmetros sobre a água de reservatórios em que há atividade aquícola, que só seriam possíveis de serem obtidos por meio de coletas em campo. Dessa forma, será possível reduzir substancialmente os custos do monitoramento de parâmetros de qualidade da água, avaliaram os pesquisadores.

“Em um primeiro momento, estamos focados em reservatórios nos quais é desenvolvida a aquicultura, pois parâmetros relacionados à qualidade ambiental da água são extremamente importantes para essa atividade”, disse Enner Herênio de Alcântara, professor da Unesp de São José dos Campos e coordenador do projeto.

“No Brasil, esse tipo de tecnologia é inédita e deverá trazer grande benefício para a gestão de recursos hídricos”, avaliou Alcântara.

Os pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente/Plataforma ABC fizeram nos últimos anos uma série de coletas em campo de dados de transparência da água em diferentes reservatórios paulistas, como o de Ilha Solteira.

A estimativa é feita pela medida de profundidade do “disco de Secchi”. Trata-se de um equipamento com aproximadamente 30 centímetros de diâmetro e com dois quadrantes alternados em cores preta e branca que, atado a um cabo graduado que é paulatinamente imerso na água, mede a transparência do sistema aquático.

A profundidade máxima na qual o disco pode ser visualizado a olho nu é o indicador da transparência ou da visibilidade vertical do sistema aquático.

“Quanto maior a profundidade que o disco de Secchi atinge – enquanto continua sendo enxergado a olho nu –, maior a transparência daquele sistema”, explicou Alcântara.

“Esse dado medido em campo é usado para validar o algoritmo desenvolvido e aplicado nas imagens obtidas pelo sensor OLI [Operational Land Imager], a bordo do satélite Landsat-8, da Nasa”, disse.

O OLI registra imagens em diferentes comprimentos de onda. Uma vez que os materiais orgânicos e inorgânicos presentes na superfície da água refletem a energia solar para o sensor em um comprimento de onda específico, é possível estimar a distribuição deles em um reservatório por meio das imagens geradas.

Ao aplicar um modelo matemático, baseado na reflectância ou na absorção da luz pelos compostos presentes na água e registrada pelo sistema sensor, é possível estimar a concentração do material particulado em suspensão, assim como a de clorofila-a (um tipo de pigmento presente em algas), além da transparência da água nos reservatórios estudados.

“Como o programa Landsat vem registrando imagens desde a década de 1970, é possível obter os indicadores de qualidade de água dos reservatórios paulistas de todo esse período”, explicou Alcântara.

 

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND
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