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Era 13 de junho de 2013, quando jovens saíram às ruas de São Paulo, exigindo a redução da passagem de ônibus – que então havia aumentado para R$3,20. “Não é por 20 centavos”, gritavam.  Logo a Polícia Militar do Estado de São Paulo, aquele exército macabro – comandado por um homem da Opus Dei {{aquela “segmentação” da igreja católica}}, cujo apelido dado nas planilhas de corrupção da Odebrecht é “santo” – entra em cena. Cerca os estudantes e jovens, que sentam no chão, em sinal de paz e protesto.

Não se protesta contra um exército macabro, comandado por um santo.

Guerra Santa

Tiro, porrada e bomba diz a música popular. Beijinho no ombro da democracia. As bombas avançam, as balas voam, as viaturas arrancam. Jovens correndo por todos os cantos, uma pequena multidão assistindo e as ordens chegando.

Alguns trabalhando. Não no exército das bombas, nem a serviço de santo nenhum. Alguns trabalham para que a dona Maria e o seu João possam assistir ao que está acontecendo. Mas isso é perigoso, beijinho no ombro.



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E uma bala voa. Sai fugindo da faísca do cano do homem-que-obedece. Corre reta, certeira. Passa por quantos seres no caminho? Quantos que estavam apenas fugindo da mesma faísca. Outros tantos que só estavam no lugar errado e, claro, uma meia dúzia que cansou de apanhar. Mas a bala voa.

Bala azeda, estragada. No fim da sua estrada uma escolha, em tese doce, como devia ser a bala. “Contar ao mundo o que eu vi”. Mostrar o que se tenta esconder. Jornalismo. O fim da estrada da bala guarda um olho esquerdo. De um fotógrafo, hoje, pirata. A culpa é da bala?

Atingido por bala de borracha da PM, fotógrafo Sérgio Silva tem recurso adiado pela Justiça

{{Foto: Victor Amatucci / ImprenÇa}}

A justiça, aquela que é cega, mas tem iluminações divinas, disse em 1ª instância que não. A culpa é do fotógrafo. E todos que compartilham fatos em suas redes sociais, cúmplices. Todos não, os da farda cinza, como a falta de espírito do santo comando, esses são isentos. O comandante, claro, não se fala. Amigo de deus. Opus Dei.

Outro dia foram 111 presos, mas o governador – esse não era santo – ileso. Pouco depois já não são condenados mas trabalhadores. 240 detidos naquele 13 de junho de 2013. Os números até tentam uma rima, quem sabe ameniza?!

Nenhum deles carregava armas ou balas de borracha. Nenhum deles carregava cassetete. Alguns carregavam câmeras, outros canetas. Outros flores e uns até vinagre, ousadia. Quer dizer, UMA exceção:

Moço de cinza, que se recusa a jogar a viatura em cima de civis, por nada? Tira essa farda, você é moleque. Ficção. A vida real deve seguir. Nela não tem santo, mas tem homens de cinza. E homens de preto. Matando homens pretos e mulheres pretas. Cumprindo ordens e repetindo o refrão: “morrer pela pátria e viver sem razão”.

Razão, do latim rationem: cálculo, conta, medida, regra; derivado de ratio, particípio passado de reor:  determino, estabeleço, e portanto julgo, estimo. É a faculdade do homem de julgar, raciocinar, compreender e ponderar. Do homem, no caso, que não veste cinza. Ou preto.

Porque os homens de capa preta, aqueles que todos os dias brincam numa espécie de jogo onde todos são Batman, esses concordam com tudo. Jamais divergem, nunca uma intriga. Em 29 de novembro de 2017 foram 8 julgamentos que este ImprenÇa acompanhou: todos unânimes.

Um deles havia sido adiado tempos atrás, parece que os moços que brincam de julgar não estavam acostumados com os moços que brincam de serem julgados assistindo à brincadeira e o excesso de fotos espantou uma decisão.

Pediram para olhar melhor aquele caso onde um fotógrafo perdeu um olho por um tiro de bala de borracha em 2013, porque não tinham certeza do ocorrido. Até deus, de vez em quando, fica em dúvida.

E no 8º julgamento – deus não descansava no 7º dia? – aquele olho que não existe mais fez falta, para a perícia. Aparentemente sem um papel escrito por um homem que atira bombas e balas e manda outros homens correrem com viaturas em cima de humanóides-diferentes-dos-homens-de-cinza, nada aconteceu. Pouco importa se um sujeito trabalha com o olho e o perdeu, vítima de uma bala. Ele que não se deixe abalar.

{{Sérgio Silva, fotógrafo, e sua companheira Luiza Romão, atriz e poeta}}

Pouco importa que a ex-mulher do homem-pirata tenha sido ameaçada de morte pelos moços de cinza. Os deuses do TJ não podem ter certeza que um homem de cinza cometeu um crime, se outro homem de cinza não disser a mesma coisa. Entende? Não é para entender, humano. É para aceitar.

Mas eles tiveram cuidado. Os deuses mostraram sua benevolência e revelaram que o Pirata não é mais o culpado.

Agora a culpa é da bala. Entendeu, pirata?

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